Título: Compulsório já comprou R$ 20 bilhões em carteiras
Autor: Ribeiro, Alex
Fonte: Valor Econômico, 27/11/2008, Finanças, p. C5

O presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, disse ontem em depoimento no Congresso que os grandes bancos já usaram pouco menos de R$ 20 bilhões em recursos dos depósitos compulsórios na compra de carteiras de crédito e outras aplicações em bancos menores afetados pela crise financeira. "O aperto de liquidez, em larga medida, já foi superado", disse o presidente do BC, dentro da sua prestação de contas periódica ao Congresso, cumprindo determinação da Lei de Responsabilidade Fiscal. "O que pode haver é uma ou outra instituição que ainda enfrenta problemas." Ruy Baron / Valor

Meirelles: "O aperto de liquidez, em larga medida, já foi superado"

Segundo ele, desde que o BC começou a injetar recursos no mercado para resolver problemas de liquidez, no fim de setembro, foram liberados R$ 91 bilhões em depósitos compulsórios. Nesse número, estão incluídos os R$ 29,5 bilhões em compulsórios à compra de carteiras, dos quais, segundo Meirelles, já foram usados "pouco menos de R$ 20 bilhões". Anteontem, dentro desse montante para compra de carteiras, o BC permitiu que bancos façam até R$ 6,2 bilhões em depósitos interfinanceiros no BNDES.

O presidente do BC disse que, em conversas com representantes de montadoras e de revendedores, constatou que já há dinheiro disponível para financiar a compra de veículos. "O problema é que a demanda se retraiu." As intervenções do BC para suprir o mercado de câmbio somam, até agora, US$ 48,5 bilhões, dos quais US$ 18,5 bilhões se referem a operações com moeda física e US$ 30 bilhões são contratos de "swap" cambial negociados nos mercados futuros.

Apesar das fortes intervenções, disse Meirelles, as reservas chegaram até a subir desde o início da crise, chegando a US$ 205,7 bilhões em 24 de novembro, ante US$ 205,1 bilhões em fins de agosto. Ele explicou que uma boa parte das intervenções, como empréstimos em dólar e vendas de moeda com compromisso de recompra, não representa desembolso efetivo de recursos das reservas.

"Estamos fazendo aplicações em bancos sediados no Brasil, da mesma forma como sempre fizemos aplicações em bancos internacionais." Segundo Meirelles, o gasto efetivo de reservas foi de US$ 6,3 bilhões, por meio de leilões de venda à vista de moeda estrangeira. Mas esse gasto foi mais do que compensado pela valorização de ativos das reservas. "Os títulos do Tesouro dos Estados Unidos se valorizaram desde o início da crise", afirmou. As aplicações em títulos do governo americano somam US$ 142,826 bilhões, e os investimentos em papéis de governos europeus, US$ 12,770 bilhões.

O presidente do BC indicou que espera em 2009 um crescimento da economia maior do que os 3% previstos pelo Fundo Monetário internacional. "Essa previsão (do FMI) pode ser um pouco pessimista."

Na avaliação de Meirelles, a economia é afetada pela crise financeira por três canais: 1) pelo crédito, com o corte das linhas internacionais de financiamento; 2) pelo comércio exterior, por meio da redução de preços de produtos exportados, especialmente "commodities"; 3) e pelas expectativas, ou seja, postergação de consumo e investimentos pelas famílias e empresas. "Nas suas últimas 20 edições, um grande jornal citou a palavra crise sete vezes, e em outras tantas foi citada a palavra calote", diz. "Evidentemente, essas referências são sobre a crise em outros países e seus efeitos sobre o Brasil, mas isso afeta as decisões de consumo."

O presidente do BC pondera que, diferentemente de outros países, o crescimento da economia brasileira é puxado pela demanda interna, favorecida também por aumento de emprego e ganhos reais de renda. "A massa salarial cresce bastante e as vendas no comércio também."

A situação brasileira, disse, é diferente da vivida nos Estados Unidos e Europa, que estão em recessão e, para afastar os riscos de deflação, lançaram mão de cortes de juros. E também é distinta, segundo ele, da vivida pela China, que, diante da queda da demanda externa por seus produtos, anunciou um pacote de gastos públicos para sustentar a atividade econômica. "Não se deve esquecer que todas as medidas adotadas na crise tem efeitos colaterais", afirmou. No caso da expansão de gastos, argumentou, pode levar a dúvidas sobre a solvência fiscal, e cortes indevidos de juros levam a inflação.