Título: IRB ainda detém 92% do mercado
Autor: Adachi, Vanessa; Júnior, Altamiro Silva
Fonte: Valor Econômico, 27/11/2008, Finanças, p. C1

A concorrência no mercado de resseguros está chegando de forma bem mais lenta do que esperava o IRB-Brasil Re, a empresa controlada pelo governo que deteve o monopólio da atividade no país por quase 70 anos. A concorrência foi aberta de fato em abril deste ano. Eduardo Nakao, o funcionário de carreira do Banco Central que recebeu a missão de presidir o IRB nessa fase de transição, calcula que a empresa tenha abocanhado 92% do mercado ao longo de 2008.

Quando preparou o orçamento para 2008, o IRB estimou que perderia 20% dos negócios para outras empresas. Historicamente, de 100% dos resseguros que fechava, o IRB detinha 50% do risco e repassava os demais 50% a outras resseguradoras. "Acreditávamos que neste ano reteríamos os mesmos 50%, repassaríamos 30% e perderíamos 20% para os concorrentes", diz Nakao. Mas isso não aconteceu e o executivo trabalha agora com um cenário de abertura bem mais gradual. "A crise atual terá o efeito de retardar os investimentos no mundo todo e o IRB vai continuar com pouca concorrência."

O nome de Nakao é altamente respeitado no mercado financeiro. Nos tempos áureos do "open market" no país, ele era a sua figura central, pois comandava a mesa de mercado aberto do Banco Central, no Rio de Janeiro. Ele chegou ao IRB em 2005, trazido por Marcos Lisboa, e assumiu a presidência em abril de 2006.

A tendência para o preço dos resseguros no mercado internacional é de alta, avalia Nakao, diante da queda da capacidade de retenção de risco das empresas por conta da crise internacional. Isso só não ocorreu ainda, segundo ele, porque a demanda também caiu pelo mesmo motivo.

Se o funcionamento do mundo dos seguros já é uma incógnita para a maioria das pessoas, resseguro soa como um palavrão. O resseguro é o seguro feito pelas seguradoras para reduzir o risco dos contratos fechados com seus clientes.

Os prêmios com resseguros do IRB devem crescer 10% este ano, atingindo R$ 3,3 bilhões nas contas de Nakao. Desse total, a empresa deve reter cerca de R$ 1,6 bilhão a R$ 1,7 bilhão. O restante terá sido repassado a outras resseguradoras, uma atividade chamada como retrocessão. O lucro líquido em nove meses avançou 61,6% para R$ 308,7 milhões.

Até agora, apenas três resseguradoras privadas foram autorizadas a atuar no mercado local, competindo com o IRB: a brasileira JMalucelli Re, especializada em seguro garantia, a alemã Munich Re e a espanhola Mapfre, que recebeu sua autorização apenas na semana passada. As duas outras estão autorizadas desde maio e Nakao atribui a elas a participação de mercado estimada em 8%.

Os planos do IRB para atuar num ambiente sem monopólio incluem uma associação com uma resseguradora estrangeira. Nakao diz que está em conversa com três grupos que não têm intenção de abrir subsidiárias no país. A idéia é firmar um acordo operacional. "Eles entram com a capacidade de reter risco e com a presença no exterior para distribuir o excedente e nós entramos com o nosso conhecimento do mercado local", diz ele.

Esse mesmo conhecimento, explica Nakao, possibilitará ao IRB selecionar os melhores riscos do mercado, num ambiente competitivo. No passado, como monopolista, o IRB era obrigado a tomar todos os riscos. Agora, isso começa a mudar.

Controlado pelo Tesouro Nacional, o IRB é uma empresa de economia mista, com sócios privados. O Bradesco é o seu minoritário mais relevante, com 21% do capital total e 40% das suas ações preferenciais. O Unibanco tem cerca de 10% do capital total e o Itaú, ao redor de 8%. Atualmente, o conselho de administração da empresa conta com um representante indicado pelo Bradesco e outro pelo Unibanco, o que tem ajudado a impulsionar a reestruturação do IRB na área de governança.

Segundo Nakao, seu trabalho à frente da reestruturação do IRB está praticamente concluído. Ele cita, por exemplo, a criação de um comitê de auditoria. O IRB passa por uma verdadeira renovação de seu quadro de pessoal. Havia 27 anos que o instituto não fazia concursos para contratação e, com isso, cerca de metade dos funcionários está em fase de aposentadoria. "Isso é bom, por um lado, porque o mais difícil de mudar na empresa após o fim do monopólio é a cultura da organização", diz Nakao. "Mas também estamos perdendo talentos que se aposentam ou vão para a concorrência."