Título: Crise e câmbio dificultam relação com planos
Autor: Koike , Beth
Fonte: Valor Econômico, 01/12/2008, Empresas, p. B5

A alta do dólar deve acirrar ainda mais os conflitos no setor de saúde, principalmente entre hospitais e operadoras de planos médicos a partir do próximo ano. Isso porque a maior parte dos insumos e materiais médicos usados em exames diagnósticos e cirurgias complexas é importada. Gustavo Lourencao/ Valor

Almeida, da Abramge: plano de saúde é a segunda maior despesa das empresas

As entidades que representam os hospitais privados e as operadoras de medicina de grupo já vislumbram um 2009 complicado no que diz respeito às negociações para repasse dos custos dos produtos médicos importados.

Até então, os aumentos eram repassados num efeito cascata, sem muitos problemas. O hospital adquiria o insumo importado e cobrava da operadora que, por sua vez, repassava o custo principalmente para os clientes corporativos, cujos contratos não são regulados pela Agência Nacional de Saúde (ANS).

Porém, com a atual crise econômica tanto as operadoras de saúde quanto os hospitais já admitem que vai ser difícil as empresas aceitarem aumentos de preços nos planos médicos. "Já há muitas companhias dando férias coletivas. Vai ser uma negociação complicada porque o plano de saúde já é a segunda maior despesa de uma empresa, só perde para a folha de pagamento", lembra Arlindo de Almeida, presidente da Abramge, entidade que reúne as operadoras de medicina de grupo.

Representante dos 37 maiores hospitais particulares do país, a Associação Nacional dos Hospitais Privados (Anahp) tem hoje como principal desafio compatibilizar custos e serviços de qualidade e evitar uma queda no faturamento. Entre 2005 e 2007, a receita líquida por paciente-dia caiu de R$ 2,4 mil para R$ 2,3 mil. No ano passado, o faturamento dos 37 hospitais associados somou R$ 6,3 bilhões. Em 2006 foi de R$ 6,2 bilhões, segundo a Anahp.

"As operadoras buscam exclusivamente redução de custos. Nem sempre é simples comprovar que determinado procedimento, considerado caro, pode ser menos oneroso a longo prazo", diz Henrique Salvador, novo presidente da Anahp, que toma posse nesta segunda-feira. Ele apresenta hoje ao mercado o resultado de um trabalho, realizado nos 37 maiores hospitais, mostrando que a adoção de determinados procedimentos podem reduzir os gastos médicos. Foram escolhidas quatro patologias: infarto, derrame, pneumonia e infecções generalizadas, consideradas as mais freqüentes e onerosas. "Adotamos uma série de procedimentos médicos para essas doenças em que a prioridade era a qualidade e não o custo. Com isso, a taxa de mortalidade nos pacientes de derrame, por exemplo, caiu de 8,5% em janeiro de 2007 para 6,9% em junho deste ano", diz Roberto Cury, superintendente da Anahp. "Com esse material, vamos negociar melhor com os planos de saúde", diz Salvador.