Título: Crédito escasso já afeta construção de 12 plataformas da Petrobras
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Fonte: Valor Econômico, 01/12/2008, Empresas, p. B1

A crise financeira internacional já trouxe dificuldades às empresas que venceram concorrências da Petrobras para construir e afretar à estatal 12 plataformas de perfuração de um total de 40 unidades programadas para serem entregues até 2017. A turbulência nos mercados, a partir setembro, fez com que algumas delas tivessem que adiar para 2009 o fechamento de operações sindicalizadas com os bancos para financiar as obras das sondas em estaleiros no exterior.

A estimativa, antes da crise, era de que as 12 plataformas, previstas para operarem a partir de 2012, demandassem investimentos da Petrobras de US$ 8 bilhões. As unidades fazem parte de um megaplano de construção para a indústria naval anunciado em maio deste ano, em Niterói (RJ), pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Parte dessas plataformas de perfuração como são classificadas irá operar no pré-sal em águas ultraprofundas.

Fontes do setor dizem que será preciso esperar que o mercado volte à normalidade para saber se haverá um encarecimento dos projetos. O Valor ouviu algumas das empresas ganhadoras dos contratos. Confirmaram que tiveram de adiar a contratação de empréstimos para os projetos, mas informaram que os cronogramas de entrega das plataformas estão mantidos.

"A crise postergou o fechamento da estruturação financeira das nossas plataformas, mas fechamos um empréstimo-ponte, e efetuamos o primeiro pagamento ao estaleiro Daewoo, na Coréia", disse Miguel Gradin, diretor geral da Odebrecht Oil & Gas. A Odebrecht construirá os dois navios de perfuração dentro do pacote encomendado pela Petrobras. Gradin não revelou o valor desse financiamento fechado com Santander, RBS, Societé General e BNP Paribas.

"Acreditamos que o mercado voltará a se abrir no primeiro trimestre de 2009", previu Gradin. Os dois navios de perfuração da Odebrecht, chamados de Norbe 8 e Norbe 9, têm previsão de entrega no primeiro semestre de 2011 e devem custar, no total, cerca de US$ 1,6 bilhão. "Não alteramos prazos nem especificações (técnicas) nos projetos", afirmou.

Na indústria naval fluminense comenta-se, no entanto, que entre sete e oito das 12 plataformas de perfuração estariam enfrentando problemas para fechar os financiamentos. O pacote, dividido entre oito navios-sonda e quatro unidades semi-submersíveis, foi ganho por sete empresas.

Os contratos com navios-plataforma ficaram com a Delba (duas unidades), Odebrecht (duas), Schahin (duas) Petroserv (uma) e Etesco (uma). A Delba fará também duas semi-submersíveis, enquanto a Skorpion e a Sevan Marine farão uma unidade cada.

Procuradas pelo Valor, Delba e a Petroserv não se manifestaram. A direção da Sevan Marine não estava disponível para entrevistas. Segundo nota já divulgada pela empresa, a Sevan Drilling Asa, subsidiária integral da Sevan Marine, concedeu mandato para duas instituições financeiras estruturarem financiamento superior a US$ 1 bilhão, valor equivalente a 70% do custo de construção de duas plataformas semi-submersíveis. Uma delas será construída para a Petrobras e a outra para a indiana ONGC. O comunicado não especifica prazo para conclusão da operação e nem se existem etapas adicionais para liberação do dinheiro.

Os contratos entre a Petrobras e as empresas asseguram o afretamento das plataformas à estatal por longos períodos, cerca de dez anos, por cerca de US$ 450 mil por dia, segundo informação divulgada pela própria estatal em meados deste ano. Esses contratos, por si só, garantem o pagamento dos financiamentos a partir do momento em que as sondas começarem a operar. Daí que mesmo com dificuldades para fechar os financiamentos em meio à crise financeira, trata-se de um negócio garantido do qual dificilmente uma empresa desiste ou abre mão.

Quando o mercado financeiro internacional vivia um momento de excesso de liquidez, esses contratos eram garantia suficiente para que as empresas que vão construir as embarcações obtivessem crédito. Mas a partir da quebra do Lehman Brothers, em setembro, a situação mudou. A Petrobras confirma que foi informada sobre a dificuldade de obtenção de empréstimos por algumas das empresas.

O diretor financeiro da Petrobras, Almir Barbassa, disse que há casos de empresas que estão com financiamento garantido enquanto outras - a maioria delas - estariam enfrentando dificuldades. "Mas nada que comprometa, ainda, o cronograma", disse Barbassa. "Esse é um dos pontos de preocupação com a nossa cadeia de fornecedores", admitiu o diretor da estatal, frisando que não se trata de um problema setorial e nem circunscrito ao Brasil e que afeta tanto empresas pequenas quanto grandes, as com bom planejamento e as nem tanto.

A crise, segundo o diretor da Petrobras, chegou em um momento em que o preço do petróleo em alta e várias empresas estavam investindo, em alguns casos usando capital de giro. "Então, o dinheiro secou e começaram alguns problemas", observou o executivo, sem entrar em detalhes sobre as dificuldades de fornecedores.

Fernando Schahin, diretor-executivo do grupo Schahin, disse que a empresa já fez um primeiro pagamento ao estaleiro coreano Samsung, onde serão construídos os dois navios de perfuração que a empresa ganhou no pacote da Petrobras. O valor total das unidades é de US$ 1,7 bilhão, dos quais US$ 1,4 bilhão, ou 80% do total, serão financiados. Os restantes 20% correspondem a capital próprio da Schahin no projeto.

A Schahin estruturou com um sindicato de bancos a operação financeira para a construção das sondas. Mas com a crise financeira decidiu postergar a operação para o próximo ano. "Foi uma decisão conjunta da Schahin com os bancos para sair com uma operação competitiva", disse Fernando Schahin. Segundo ele, o próximo pagamento ao estaleiro coreano está previsto somente para o início do segundo semestre de 2009, quando o mercado financeiro já deve ter voltado a emprestar. "É um prazo que dá conforto", avaliou.

Se até lá a situação não melhorar conforme o previsto, haveria flexibilidade na negociação com o estaleiro coreano para adequar o fluxo de pagamentos devidos às condições de mercado. A primeira unidade construída pela Schahin deve ser entregue em maio de 2011 e a segunda, em janeiro de 2012. (Colaborou Yan Boechat, de São Paulo )