Título: Queda de consumo vai segurar inflação, diz Mantega
Autor: Maia, Samantha
Fonte: Valor Econômico, 02/12/2008, Brasil, p. A2

O ministro da Fazenda, Guido Mantega, avalia que o recuo do consumo interno compensará a pressão inflacionária causada pela desvalorização do real. Segundo ele, ritmo de crescimento do consumo no varejo, - hoje na casa dos 14% incluindo setores automotivo e de construção, pelos cálculos do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) - deverá cair para perto de 10%. "Teremos alguma pressão inflacionária por conta da desvalorização do real, mas momentânea e passageira porque a demanda está caindo", diz ele.

Para o ano que vem, a meta de inflação está fixada em 4,5%, e o ministro diz que ela não fica prejudicada pela atual conjuntura. O ministro não considera que a desaceleração do consumo interno será ruim, pois ele ainda se manterá forte. "A demanda, que estava muito forte no Brasil, vai dar uma reduzida. Mas se o consumo cair de 14% para 10% está ótimo, ainda é um crescimento chinês", diz ele.

Dessa forma, ele afirma que a projeção de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) de 4% para 2009 não está alta. "É uma meta ambiciosa, não é fácil de ser alcançada, pois necessita de uma posição forte do governo e também dos empresários", diz. Essa posição, segundo o ministro, inclui a coragem do governo de tomar medidas anticíclicas, como aumentar investimentos e reduzir tributos. Ontem, projeção divulgada pelo BC mostrou que os analistas reduziram de 3% para 2,8% a estimativa de crescimento do PIB para 2009.

O ministro afasta a idéia de que o desemprego deverá afetar o Brasil. Segundo ele, a preocupação maior está nos países ricos. Para ele, um dos maiores problemas que a crise está causando ao Brasil é a não-recuperação do crédito externo. Mantega diz que é um desafio para o governo conseguir dar conta internamente da demanda das empresas , pois falta financiamento para cobrir 25% a 30% das necessidades. "A crise deixou o legado do crédito escasso e caro, o que ainda não se alterou", diz ele.

Para os analistas do Morgan Stanley, a economia brasileira pode se contrair durante dois trimestres consecutivos no final de 2008 e no início de 2009, entrando em uma " recessão técnica " . O banco de investimento, um dos primeiros a mencionar a possibilidade de recessão no país, espera atualmente que o Brasil cresça cerca de 2% no próximo ano. O banco afirmou, no entanto, que uma perspectiva externa mais pessimista impõe riscos negativos a sua previsão de 2009. " Um número próximo de zero não pode ser descartado " , afirmou o economista Marcelo Carvalho, do Morgan Stanley, em nota, acrescentando que o Brasil " pode cair em uma recessão técnica nos próximos trimestres " .