Título: Ritmo na compra de máquinas cai de 48% para 10%
Autor: Landim, Raquel
Fonte: Valor Econômico, 02/12/2008, Brasil, p. A4

As importações brasileiras de bens de capital tiveram uma desaceleração brusca em novembro. Depois de crescer 48,6% no acumulado de janeiro a outubro, as compras externas desses produtos avançaram apenas 10% no mês passado sobre novembro de 2007, na comparação da média diária, segundo números do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC). Para os economistas, é um indicador de que as empresas brasileiras reduziram o ritmo de seus investimentos, preocupadas com a crise internacional. Em relação a outubro deste ano, as importações de bens de capital chegaram a cair 12% em novembro. também pelo valor da média diária das importações.

Três fatores atuando em conjunto explicam o mau desempenho das importações de bens de capital no mês passado: a desconfiança do empresariado em relação ao crescimento da economia brasileira, a retração do crédito provocada pela crise e a desvalorização do real. A compra de máquinas e equipamentos é muito sensível à disponibilidade de crédito, porque se trata de um investimento vultoso para as empresas. A instabilidade do câmbio também prejudica esse tipo de negócio. Se o empresário acredita que o real pode voltar a se valorizar, prefere adiar a importação de uma máquina.

"Houve um colapso nas expectativas do empresariado", disse Júlio Sérgio de Almeida, consultor do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi), ressaltando que esse é o fator preponderante para a redução da importação de bens de capital e, conseqüentemente, dos investimentos. Na sexta-feira, a Fundação Getúlio Vargas (FGV) divulgou que o Índice de Confiança da Indústria (ICI) caiu 19,4% entre outubro e novembro de 2008, ao passar de 104,4 para 84,1 pontos, o nível mais baixo desde julho de 2003, na série com ajuste sazonal. Para Almeida, "esse indicador e a desaceleração da importação de bens de capital se complementam".

A economista Thaís Marzola Zara, da Rosenberg & Associados, nota que as empresas estavam investindo com força por conta da perspectiva de continuidade do crescimento a taxas mais robustas. Com a expectativa de que a expansão em 2009 será bem mais modesta, devido aos efeitos da crise global, "o principal motivo para a expansão ficou comprometido", afirma ela.

A importação de bens de capital é um dos principais motores da formação bruta de capital fixo (FBCF, que mede o que se investe na construção civil e em máquinas e equipamentos). Thaís também ressalta o papel da retração do crédito e da desvalorização do câmbio na desaceleração das compras de bens de capital em novembro. Para ela, os investimentos já em curso devem continuar a ser feitos, mas novos projetos de expansão da capacidade produtiva podem ser postergados num cenário de incerteza em relação ao futuro da economia.

Para o economista-chefe da LCA Consultores, Bráulio Borges, a desaceleração no ritmo das importações de bens de capital indica a tendência de arrefecimento do investimento no país. Para o terceiro trimestre, a consultoria estima que a formação bruta de capital fixo tenha crescido 18,2% em relação ao mesmo intervalo de 2007 e 5,5% em comparação com o segundo trimestre deste ano. Já para o quarto trimestre, a expectativa é que o ritmo de expansão caia pela metade, com incremento de 9% sobre o mesmo período do ano passado - a menor taxa desde o segundo trimestre de 2006 - e queda de 3% na comparação com o terceiro trimestre.

Thaís considera difícil que haja recuo na comparação do quarto com o terceiro trimestre, devido à perspectiva de continuidade dos investimentos que estavam em curso. Mesmo assim, diz que haverá uma "desaceleração contundente" da formação bruta de capital fixo entre outubro e dezembro deste ano.

"A confiança do empresário despencou e essa redução nos investimentos é generalizada, é percebida no setor de bens de capital, bens intermediários e de consumo", afirma Borges. Para o ano, ele estima que a formação bruta de capital fixo cresça 14,7%, dado o bom desempenho nos trimestres anteriores, que cresceram na casa de 16%. Mas para 2009 a expectativa é que o investimento tenha incremento de 3%. "O ritmo deve se manter bem lento, podendo haver uma recuperação só no fim do primeiro semestre." Thaís estima alta de 13,5% para a FBCF neste ano e de 3% em 2009.