Título: Oposição faz terrorismo com crise, acusa
Autor: Tarso , Paulo
Fonte: Valor Econômico, 02/12/2008, Política, p. A7

Às vésperas da votação de duas medidas provisórias editadas para combater o efeito da crise internacional - as MPs 442 e 443 -, a reunião da coordenação política do governo concluiu que a oposição no Senado estaria fazendo "terrorismo com a conjuntura econômica atual". A reunião contou, além do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, com os ministros José Múcio (Coordenação Política), Comunicação (Franklin Martins), Paulo Bernardo (Planejamento), Dilma Rousseff (Casa Civil), Tarso Genro (Justiça) e Luiz Dulci (Secretaria-Geral da Presidência). Os participantes reclamaram que setores da oposição "criam factóides e disseminam o pânico na sociedade porque estão assustados com a capacidade de o governo administrar a atual conjuntura econômica". Beto Barata/AE - 16/10/2008

Aleluia: "Deviam chamar também a ONU de terrorista (...). A ONU prevê um crescimento de apenas 0,5% (para o Brasil)"

O governo mostrou-se particularmente irritado com as afirmações feitas, na semana passada, pelo senador Tasso Jereissati (PSDB-CE) e o líder do partido no Senado, Arthur Virgílio (PSDB-AM), de que a Petrobras estava "quebrada" e que, por este motivo, se viu obrigada a pedir um empréstimo de R$ 2,23 bilhões à Caixa Econômica Federal e outro de R$ 751 milhões ao Banco do Brasil. Na opinião de integrantes do governo, esse seria o exemplo mais visível e recente do terrorismo da oposição.

Durante a reunião, o governo mais uma vez reforçou a esperança de votar ainda este ano a reforma tributária na Câmara. Na semana passada, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, fez uma reunião com os governadores do Nordeste na tentativa de criar um mutirão pró-reforma e vencer, assim, as resistências dos governadores do Sudeste e Centro-Oeste. Para o governo, a aprovação da reforma seria um "sinal positivo importante que o setor público como um todo pode dar para a sociedade neste momento de incertezas".

Lula e os ministros entendem as resistências de alguns administradores estaduais em torno "de um assunto tão complexo". Mas, segundo eles, o momento histórico exige a aprovação da reforma.

A oposição recebeu com desdém e sarcasmo as acusações feitas pelo presidente Lula. Depois de uma risada irônica, o líder do PSDB na Câmara, José Aníbal (SP), disse que o governo surtara de vez. Aníbal se disse surpreendido com o comportamento do Executivo. "Na semana passada, durante reunião ministerial, eles tiveram um ataque de exaltacionismo que não corresponde à realidade", declarou o tucano.

Aníbal circulou ontem pelo interior de São Paulo e captou cenários que, segundo ele, demonstram que o discurso governista está desconectado da realidade. "A GM, a Volks e a Ford decretaram férias coletivas e a Embraer está enfrentando dificuldades". O tucano disse ser injustiça a acusação feita à oposição, já que PSDB e DEM ajudaram a aprovar as duas MPs anti-crise votadas na Câmara.

O vice-líder do DEM na Câmara, José Carlos Aleluia (BA), lembrou que a oposição tem dado constantes sugestões ao governo para que este enfrente melhor a crise, mas o Planalto e a equipe econômica fazem ouvidos moucos. "Deviam chamar também a ONU de terrorista. Nós dizemos que o Brasil vai crescer no máximo 3% no ano que vem. A ONU prevê um crescimento de apenas 0,5%", reclamou o demista, dizendo que o governo deveria parar de se preocupar em fazer propaganda e passar a administrar a crise com mais responsabilidade.