Título: Em tom multilateralista, Obama nomeia Hillary
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Fonte: Valor Econômico, 02/12/2008, Internacional, p. A10

O presidente eleito dos EUA, Barack Obama, confirmou a nomeação da senadora Hillary Clinton como a próxima secretária de Estado. Ambos adotaram um tom multilateralista oposto ao do atual governo republicano. AP

Hillary Clinton, ao aceitar o cargo: "Os EUA não podem resolver sozinhos as crises sem o resto do mundo; e o mundo não pode resolvê-las sem os EUA"

Hillary Clinton disse que a eleição de Obama demonstrou que os americanos querem que o próximo governo tome um rumo diferente ao lidar com ameaças em todo o mundo. "Os EUA não podem resolver as crises sozinhos, sem o resto do mundo; e o mundo não pode resolvê-las sem os EUA", disse ontem a senadora.

Já Obama reiterou que um dos objetivos de sua política externa será "reconstruir e reforçar alianças pelo mundo", hoje abaladas.

Durante as primárias democratas, Hillary acusou Obama de ser despreparado para liderar o país em caso de uma crise internacional e chegou a tachar algumas de suas propostas de política externa de "ingênuas". Obama afirmou que Hillary é agora uma "grande amiga", com a qual compartilha a opinião de manter a segurança dos EUA mediante uma combinação do poderio militar e da capacidade diplomática. "Será uma secretária de Estado notável", previu.

O presidente eleito disse que sua equipe de segurança nacional estaria cheia de gente de "personalidade forte", o que asseguraria que as políticas seriam sujeitas a um "vigoroso debate".

Obama anunciou que manterá Robert Gates chefiando o Departamento de Defesa, no cargo que ele já ocupando no governo Bush desde 2006. E nomeou a governadora do Arizona, Janet Napolitano, para o Departamento de Segurança Interna. Gates é tido como um moderado, e Napolitano notabilizou-se como especialista em imigração.

O general reformado James Jones vai dirigir o Conselho de Segurança Nacional. Ele é amplamente respeitado por democratas e republicanos e evitou alinhar-se com um dos partidos, ainda que tenha aparecido com John McCain na campanha. Ele é conhecido por ter sido crítico à condução da guerra do Iraque pelo governo Bush.

Para secretário de Justiça, Obama nomeou Eric Holder, que havia sido o "número dois" do Departamento durante o governo de Bill Clinton. Susan Rice deve ser a nova embaixadora na ONU.

Questionado sobre o quanto uma seleção de personalidades tão fortes como Hillary, Gates e Jones poderia prejudicar a política externa, no caso de eles discordarem publicamente, Obama se disse "admirador de personalidades fortes". Mas concluiu que ele seria o "responsável pela visão geral dessa equipe" e que espera que ela "leve adiante essa visão, uma vez que as decisões sejam tomadas". "No fim, eu sou o responsável final", disse.

Clinton, Gates e Jones já estão sendo chamados pode alguns analistas de "equipe de rivais".

As indicações se distinguem muito daquelas feitas por Bush para seu gabinete. O presidente republicano primou por figuras de pouca expressão, como Paul O'Neill no Departamento do Tesouro. Mesmo o general Collin Powell, que foi secretário de Estado e era figura de destaque, não teve poder suficiente para comandar a política externa como gostaria.

As nomeações do gabinete de Obama dependem ainda da confirmação do Senado, que na próxima legislatura será amplamente dominado pelos democratas. Gates, que já ocupa o cargo, não precisa ser reconfirmado. O cargo de Jones não precisa de aprovação.