Título: Fim da linha para Prudente
Autor: Tahan, Lilian
Fonte: Correio Braziliense, 27/02/2010, Cidades, p. 35

Para evitar ser cassado, o distrital flagrado colocando dinheiro nas meias renuncia ao cargo Trechos da carta de renúncia de Leonardo Prudente: crítica à hipocrisia

Leonardo Prudente pendurou as meias. O distrital que protagonizou um dos vídeos mais reproduzidos no escândalo da Caixa de Pandora, aquele em que escamoteia dinheiro nos bolsos do paletó e nas meias, renunciou ao mandato. Deixou o cargo para escapar de ação por quebra de decoro parlamentar. É a primeira baixa na Câmara Legislativa depois de três meses de crise. Na tarde de ontem, Prudente protocolou na Casa sua carta confirmando a intenção de abrir mão do mandato. Se fosse notificado antes de formalizar a renúncia, perderia a chance de preservar os direitos políticos caso fosse cassado. Horas antes, em outra correspondência, o distrital pediu desculpas aos eleitores.

Com a renúncia de Prudente, a expectativa se volta agora para Eurides Brito (PMDB) e Júnior Brunelli(1) (PSC) ¿ ambos foram flagrados em vídeo recebendo dinheiro de caixa 2. Contra os dois também foi aberto processo por quebra de decoro na Comissão de Ética da Câmara Legislativa. A tendência é que renunciem a exemplo do colega. Brunelli já tem a carta de renúncia pronta. Eurides mantém o discurso de que fica no cargo até o fim do processo. Se ela realmente permanecer como distrital, é provável que seja cassada. Assim, perderá os direitos políticos por período de oito anos, prazo em que não poderá concorrer a cargos eletivos. Se Brunelli renunciar, assume o suplente Geraldo Naves (DEM), que está preso na Papuda e deverá ser cassado ao retornar ao mandato.

Primeiro a pedir para sair, Leonardo Prudente, que presidia a Câmara Legislativa quando o escândalo estourou, admite o peso das imagens em que aparece recebendo dinheiro do ex-secretário de Relações Institucionais Durval Barbosa. Num dos trechos da mensagem que entregou à Mesa Diretora da Câmara, ele menciona os vídeos: ¿A repetição de imagem onde apareço recebendo doação de campanha não contabilizada em setembro de 2006, como se fossem atuais, reconheço, são muito fortes, assim como é avassaladora a versão para a minha presença no vídeo da oração feita em setembro de 2009, pelo deputado Brunelli¿. Prudente sustenta: ¿As cenas são mostradas como se fora fato imediatamente posterior àquele mostrado nas imagens de setembro de 2006, mas aconteceram três anos depois, em contexto totalmente diverso¿.

Mesada O distrital que caminhava para finalizar o segundo mandato foi barrado com a repercussão das denúncias de Durval Barbosa no Inquérito nº 650 do Superior Tribunal de Justiça. O ex-secretário de Relações Institucionais acusa Prudente de receber mesada para votar de acordo com a vontade do governo. O distrital, porém, se diz vítima ¿de modelo autofágico do sistema eleitoral brasileiro no qual prevalece a hipocrisia¿. Prudente sustenta que não é mensaleiro. Alega em sua defesa que aceitou dinheiro para fazer campanha e não registrou as doações na Justiça Eleitoral, uma obrigação dos candidatos. ¿Os candidatos muitas vezes deixam de declarar o recebimento de recursos financeiros, para a campanha a pedido do próprio doador, que não deseja ver seu CPF ou CNPJ divulgados na internet e vinculados a um candidato ou Partido¿.

A tática de defesa de Prudente tenta separar em universos distintos o vício da corrupção de atitudes ilegais. Para o deputado, o melhor dos mundos num contexto de denúncias demonstradas em vídeos é de que a Justiça reconheça a versão de transgressão eleitoral. Para dar robustez à sua indignação com as suspeitas de ter embolsado dinheiro de origem suspeita, Prudente se vale até de uma comparação com o pensamento de José Dirceu, ex-chefe da Casa Civil do presidente Lula, José Dirceu, que foi obrigado a deixar o governo em função do escândalo do mensalão petista. ¿Embora o ex-ministro José Dirceu tenha afirmado em recente entrevista: `Mensalão não é corrupção e sim financiamento de campanha com caixa 2¿, discordo. Mensalão, atividade da qual nunca tomei parte, é corrupção sim e financiar campanha com caixa 2 é ilegal¿.

1 - Prece Os distritais Júnior Brunelli e Leonardo Prudente, além de aparecerem em vídeo recebendo dinheiro das mãos de Durval Barbosa, protagonizam uma das cenas mais célebres da Operação Caixa de Pandora. Eles são filmados rezando em agradecimento pela vida de Durval, no que ficou conhecido como oração da propina.

Imagens da derrocada

Embora tenham sido gravadas durante a campanha eleitoral de 2006, as cenas de Prudente pegando dinheiro das mãos de Durval Barbosa e guardando os maços em todos os bolsos do paletó e até nas meias se tornou um emblema do escândalo da Caixa de Pandora

Mais duas baixas no GDF

Edson Luiz Cadu Gomes/CB/D.A Press - 10/2/09 Silvestre Gorgulho sai da Secretaria de Cultura

Cadu Gomes/CB/D.A Press - 15/5/09 Valmir Lemos deixa a pasta da Segurança Pública

Mais dois secretários saem do governo Wilson Lima. O secretário de Segurança Pública, Valmir Lemos, vai deixar o cargo nos próximos dias. E o secretário de Cultura, Silvestre Gorgulho, já entregou sua carta de exoneração ao chefe interino do Executivo do Distrito Federal.

A decisão de Lemos, que teria sido tomada na semana passada, foi ratificada ontem, durante um encontro do governador em exercício, Wilson Lima, com o diretor-geral da Polícia Federal, Luiz Fernando Corrêa. Delegado federal, Lemos vai fazer um curso superior na Academia Nacional de Polícia (ANP), obrigatório para ascensão na carreira. Depois, ele deverá assumir um posto de comando na corporação. Lemos avisara sua intenção de sair ao então governador Paulo Octávio, que renunciou na última terça-feira. O secretário decidiu permanecer, mas por pouco tempo. Na quarta-feira, ele conversou com o ministro da Justiça, Luiz Paulo Barreto ¿ com quem já havia trabalhado. Barreto pediu que ele permanecesse.

No encontro de ontem com o diretor-geral da Polícia Federal, Wilson Lima também tentou manter seu secretário, ao pedir que Lemos continuasse cedido para o GDF. Corrêa alegou que, por estar no topo da carreira, o delegado federal deveria voltar à corporação para fazer o curso superior de polícia. A saída oficial de Lemos deve ocorrer no início da semana.

Na conversa, Corrêa avaliou com Wilson Lima que hoje a Secretaria de Segurança Pública e a Polícia Civil do Distrito Federal tinham quadros aptos a ocupar o cargo. Valmir Lemos entrou no governo de José Roberto Arruda em julho de 2008, quando substituiu o general Cândido Freire na Secretaria de Segurança Pública. Antes de ingressar na Polícia Federal, em 2000, foi policial civil no DF por 13 anos.

À vontade Silvestre Gorgulho entregou ainda na última quinta-feira carta a Wilson Lima com o pedido de exoneração, com o intuito de deixar o governador em exercício ¿à vontade para a recomposição do secretariado¿. No texto, desejou sucesso ao interino no ¿imenso desafio de conduzir os destinos da capital da República. Jornalista, Gorgulho ocupava o posto de secretário de Cultura desde que Arruda ¿ seu amigo próximo ¿ assumiu o governo, em 2007. Os desembarques na gestão interina do GDF ocorrem diariamente. Já saíram os secretários de Planejamento, Ricardo Penna; de Governo, Flávio Giussani; de Ordem Pública, Roberto Giffoni; e o diretor-geral do Na Hora, Luiz França.

Pedido de aumento

Um dia após o governador em exercício anunciar o aumento salarial para os professores da rede pública, outra categoria procurou Wilson Lima com o pires na mão. O sindicato da Polícia Civil do Distrito Federal (Sinpol) divulgou nota com o resultado da reunião entre o presidente do sindicato, Wellington Luiz, e chefe interino do Executivo. Em pauta: reajuste de até 30%.

Segundo o texto do sindicato, a proposta acertada seria a divisão dos percentuais de reajuste a ser paga em cinco parcelas: a primeira em setembro, a segunda em março do ano que vem, a terça em agosto de 2011 e a quarta e a quinta somente em 2012.

De acordo com o Sinpol, a Polícia Civil vai preparar os cálculos para que o GDF encaminhe a mensagem para a Casa Civil. De lá, será enviada para o Ministério do Planejamento. Caberá ao presidente da República encaminhar medida legal ao Congresso.

Também ontem, a Agência de Comunicação do GDF confirmou o índice do aumento na remuneração dos docentes: 10,4%. Segundo o órgão, o reajuste faz parte do acordo firmado em abril do ano passado entre o GDF e a categoria. Os professores já haviam recebido 5% de acréscimo nos contracheques. Com a decisão de hoje, o reajuste chega a 15, 4%.

Memória Benefícios suspeitos

Pesam contra Prudente outras acusações, além daquelas flagradas em vídeos. Durval Barbosa afirma, em depoimento, que empresas pertencentes a Prudente são beneficiadas em contratos com o governo. Entre as firmas citadas, há a G6, criada por Prudente. Como o Correio mostrou em reportagem de 4 de dezembro de 2009, a empresa que hoje é administrada por amigos da família Prudente recebeu R$ 52,2 milhões entre 2007 e 2009 em contratos de vigilância com a Secretaria de Educação e o Detran. A 5 Estrelas, em presa dos filhos do agora ex-distrital, recebeu R$ 8,5 milhões em contratos do GDF em três anos.

Em reportagem de 6 de dezembro, o Correio revelou que Rafael Cavalcanti Prudente, filho de Leonardo, representa em Brasília a empresa Serquip, que mantém contrato emergencial com o Serviço de Limpeza Urbana para tratamento dos resíduos produzidos por hospitais e clínicas do DF. O contrato de R$ 330 mil já foi renovado duas vezes.