Título: Grandes cidades encolhem no Brasil
Autor: Cynthia Malta
Fonte: Valor Econômico, 25/02/2005, Especial, p. A46

Grandes cidades no Brasil, ao contrário do que se poderia esperar, estão encolhendo. Por quê? Segundo o Censo de 2000, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), 27,2% dos 5.560 municípios brasileiros perderam população em relação a 1991. Os técnicos do IBGE observaram que a maior parte desse grupo é de pequenos municípios. Em geral, oferecem infra-estrutura inadequada, com pequenas redes de água tratada e esgoto encanado. Em alguns, a rede elétrica ainda não é universal. Mostram, em certa medida, um frágil sistema educacional e não conseguem reter moradores ou atrair gente de fora. No mesmo levantamento, o IBGE detectou quatro cidades de maior porte cuja população também encolheu: São Caetano do Sul (SP), Nilópolis (RJ), Teófilo Otoni (MG) e Ilhéus (BA). Mas a estes municípios não se aplicam os fatores que explicam a perda populacional registrada nos demais, cujo porte é bem menor. São Caetano do Sul, por exemplo, é considerada pela Unesco a melhor cidade do país. Seus moradores - todos - possuem água tratada, esgoto encanado, lixo coletado, luz elétrica e geladeira. Cada um destes quatro municípios cuja população diminuiu tem, claro, características próprias que explicam o fenômeno. Mas há traços comuns entre eles. São Caetano do Sul e Nilópolis têm áreas geográficas pequenas, de 15 e 19,5 quilômetros quadrados, respectivamente. O pouco espaço físico para expandir a produção acaba contribuindo para a perda de indústrias, o que, de fato, ocorreu nas duas cidades. Em São Caetano do Sul a população envelheceu e os mais jovens estão mais ricos, têm menos filhos e, muitos deles, saem da cidade em busca de um emprego. Além disso, uma parte dos moradores de menor renda perdeu o emprego com a saída de grandes indústrias da cidade, onde também ficou mais caro morar. São Caetano do Sul tem o mais caro metro quadrado da região do ABC, também formada pelos municípios de Santo André e São Bernardo do Campo. Em Ilhéus, na Bahia, a praga vassoura-de-bruxa minou, em 1989, a lavoura de cacau, base da economia local. Não restou a muitas famílias outra alternativa a não ser deixar a cidade. No município mineiro de Teófilo Otoni, de 1999 a 2000, 300 estabelecimentos comerciais foram fechados. Sem emprego, muitos moradores foram buscar novas oportunidades fora do país, em Portugal. Também se nota, nas quatro cidades, mudanças no perfil econômico. A saída de indústrias de Nilópolis e São Caetano deu lugar à expansão do comércio e de serviços, como o arrendamento mercantil. Em Ilhéus, os negócios nos setores de informática e turismo cresceram. A edição de hoje mostra o que aconteceu em São Caetano do Sul. Na próxima segunda-feira, as outras três histórias.