Título: Irã importa linha de montagem
Autor: Marli Olmos
Fonte: Valor Econômico, 25/02/2005, Empresas &, p. B1

Nesta semana, uma fábrica de automóveis localizada na zona econômica de Arg-e-Jadid, a 1.270 quilômetros de Teerã, começou a produzir o modelo Gol com componentes brasileiros numa linha de montagem totalmente exportada pela Volkswagen do Brasil. Trata-se de novo estágio na exportação da indústria automobilística brasileira. O contrato incluiu os equipamentos necessários à montagem, o suporte técnico, o treinamento dos operários e prossegue, agora, com a exportação de 100% das peças do automóvel. A negociação com os iranianos começou em dezembro de 2003, logo depois do forte terremoto que castigou o país. A decisão da BamCo (Bam Auto Manufacturing Company) - grupo iraniano que comprou a licença de montagem do Gol, que já fabricava carros coreanos - de testar um novo modelo coincidiu com os planos da direção da Volks, na Alemanha, de voltar para o mercado iraniano, em plena fase de expansão. As reservas de gás natural ajudam no aumento do poder aquisitivo da classe média iraniana, que hoje faz filas para comprar um automóvel. Nos últimos três anos, o mercado de automóveis iraniano cresceu 147%. Com a importação proibida desde a Revolução Islâmica, em 1979, as montadoras locais enfrentam falta de capacidade produtiva. Os negócios estão sendo feitos por meio de parcerias com multinacionais, como Renault e Peugeot. E os produtos escolhidos são os modelos dos países emergentes. Caso do Gol, do Brasil. Com o avanço da demanda, o mercado de veículos iraniano soma hoje mais de 700 mil unidades por ano, quase a metade do volume brasileiro. Mas o acesso da população a um carro ainda é mais distante do que no Brasil, onde há nove habitantes por veículo. No Irã, há 55 carros para cada mil habitantes. A linha de montagem foi embarcada do Brasil para o Irã no segundo semestre de 2004, numa viagem de quase oito semanas pelo percurso Santos-Europa-Emirados Árabes-Irã, o mesmo pelo qual seguem , agora, os kits dos carros desmontados. "Praticamente todo o ferramental foi fabricado nas nossas próprias fábricas Volks no Brasil", explica o responsável pelo projeto do Gol no Irã, Roni Geraldini. De setembro a dezembro, um grupo de mais de 40 brasileiros foi deslocado para o treinamento dos trabalhadores iranianos e preparação da rede de concessionários. A operação incluiu não apenas o transporte de peças de reposição para carros como também itens extras para as máquinas. Não podemos correr o risco de a linha parar por falta de alguma peça de máquina", justifica Geraldini. Não revelar o valor do contrato é uma das cláusulas acertadas com a empresa iraniana. O volume de veículos chegará a 30 mil unidades por ano. Em 2005, a previsão é de chegar a 25 mil. Embora a queda do dólar inquiete todos os exportadores no Brasil, um contrato com essas características não pode sofrer nenhuma mudança por questões cambiais. "Um contrato para fabricar carros do outro lado do mundo precisa de visão de longo prazo ", afirma Geraldini. O Gol que vai rodar no Irã é um modelo 1.8 a gasolina, quatro portas, equipado com ar-condicionado, duplo air bag, direção hidráulica e comando elétrico em vidros, travas e espelhos. Geraldini conta que o carro inclui adaptações para suportar temperaturas que oscilam de 40 graus negativos nas montanhas geladas até 40 graus positivos no deserto: radiador auxiliar e peças de revestimento (plásticos, borrachas e espumas) especiais. Concebido no Brasil e líder de vendas no país há 18 anos consecutivos, o Gol ultrapassou a marca de 4 milhões de unidades produzidas desde o lançamento, em 1980. O modelo também é o mais exportado do Brasil: meio milhão de unidades já foram embarcadas para 50 países.