Título: BC abandona meta de inflação de 2009
Autor: Guimarães , Luiz Sérgio
Fonte: Valor Econômico, 02/12/2008, Finanças, p. C2

O Banco Central não vai desencadear cruzada monetária destinada a trazer a inflação de 2009 para o centro da meta de inflação, de 4,5%. O esforço requerido para alcançar tal objetivo demandaria medidas drásticas demais e um sacrifício excessivo de crescimento econômico. O BC jamais irá admitir o abandono do alvo central de inflação sem o ano sequer ter sido iniciado, mas os analistas, segundo se depreende do cruzamento das várias projeções contidas no relatório Focus divulgado ontem, acreditam que deverá, como em 2008, acomodar o IPCA no intervalo superior da banda de inflação.

As estimativas colhidas junto a cem instituições do mercado para inflação, juro, câmbio e crescimento são coerentes com a conclusão de que o Copom não irá se pautar por conduta monetária ultraconservadora. Mas isso não significa que cederá a pressões políticas por um afrouxamento monetário maior e mais rápido. Na mediana, os analistas pesquisados apostam que na semana que vem o Copom irá manter a Selic em 13,75%. Tal congelamento será preservado durante a maior parte de 2009. Tanto é que só vêem espaço para uma queda de 0,25 ponto no juro básico no acumulado das oito reuniões do Copom previstas para o ano que vem. O prognóstico é de juro básico de 13,50% no final de 2009. O cenário traçado por eles para o Brasil se parece mais com uma estagflação moderada do que com os rigores de uma recessão deflacionista pintada para os países desenvolvidos. Enquanto a projeção de IPCA para 2009 subiu de 5,20% para 5,25%, a expectativa de expansão do PIB cedeu de 3% para 2,80%. Tudo por causa de uma taxa de câmbio mais depreciada.

O dólar não vai se valorizar, contudo, na velocidade imaginada pelos pregões de derivativos da BM&F, nem a alta será repassada tão célere e integralmente. As previsões de CDI persistiram ontem em pesada queda porque não há o menor risco de o BC desfechar um choque de juros para fazer o IPCA confluir, na marra, para o centro da meta. O contrato mais negociado, para janeiro de 2010, tombou de 14,45% para 14,16%. O CDI previsto para janeiro de 2011 cedeu de 15,16% para 14,74%. E a taxa para janeiro de 2012 recuou de 15,35% para 14,95%. Se no âmbito do Focus a taxa de câmbio em si ainda é a inquietação central, entre os players do DI o principal foco de atenção é o movimento de queda das commodities. Este também favorece a depreciação cambial, mas pode atingir o lado real da economia por outros vieses ainda mais preocupantes.

Indicadores divulgados ontem sobre produção industrial na China, na Zona do Euro, na Alemanha e no Reino Unido reforçaram mais ainda o medo de que a recessão mundial é maior e menos sensível às medidas governamentais do que se projetava até então. O PMI da Zona do Euro caiu em novembro para 32,6 pontos, ante expectativa de 36,2 pontos. O mesmo indicador alemão recuou 1,6% em outubro e 1,5% em 12 meses, para previsões de baixa de 0,5% e 0,3%. Os dados relativos ao terceiro trimestre mostram que a terceira maior economia do mundo amarga a mais severa recessão dos últimos doze anos. O PMI de manufaturados da China, ao ceder de 44,6 em outubro para 38,8 pontos em novembro, caiu à menor pontuação histórica. A baixa é reflexo da recessão nos EUA, na Europa e no Japão, pois foi capitaneada pela redução nos pedidos de exportação. Menor expansão na China implica em corte acentuado na demanda por commodities e petróleo. O barril foi cotado a US$ 49,28 em Nova York, em queda de US$ 5,15. A rodada de redução de juros e aumento de liquidez esperada para esta semana por parte do BCE, Banco da Inglaterra e Banco do Japão não serviu de alento aos investidores.

Os mercados de câmbio trafegaram ontem na mão oposta a das previsões do Focus. Enquanto este ficou mais pessimista em relação ao dólar - a projeção para o final de 2009 subiu de US$ 2,10 para US$ 2,15 - os pregões notaram o interesse dos "comprados" em dólar de reduzir posição. Os investidores estrangeiros diminuíram de US$ 13,4 bilhões no dia 26 para US$ 11,49 bilhões no dia 28 as suas posições "compradas" líquidas nos pregões de derivativos cambiais da BM&F. E foi justamente uma entrada de recursos destinada a eles, ocorrida no final da tarde, a responsável pela perda de fôlego do dólar no mercado à vista. A moeda chegou a subir 2,76% para acompanhar o pessimismo dos mercados acionários, mas fechou, sem nenhuma intervenção de venda do BC, cotada a R$ 2,32, com modesta valorização de 0,21%.