Título: Elétricas ganham menos com câmbio
Autor: Leila Coimbra
Fonte: Valor Econômico, 25/02/2005, Empresas &, p. B6

Apesar de muito sensíveis ao câmbio, as empresas de energia não sentirão nesta safra de balanços contábeis o benefício da valorização de 7% do real no último trimestre do ano. Na visão de executivos do setor e de analistas de bancos, as empresas apresentarão resultados modestos. O banco BBVA diz, em relatório encaminhado aos seus clientes, que a valorização do dólar não mais traz impactos como no passado aos balanços das elétricas porque as empresas diminuíram consideravelmente suas exposições à moeda estrangeira. Além disso, segundo o banco, os contratos compulsórios de compra da energia de Itaipu - em dólar - não trarão impacto benéfico imediato às empresas graças à Conta de Variação da Parcela A (CVA), criada depois do fim da paridade cambial justamente para minimizar os choques cambiais nas contas das elétricas. A CVA absorve as oscilações do câmbio e as repassa às empresas nas datas dos seus reajustes tarifários. O BBVA afirma que espera ótimos resultados apenas da Cemig, Copel, Transmissão Paulista (Cteep) e CPFL Energia. Para a Eletropaulo, o BBVA projeta um lucro de pouco mais de R$ 20 milhões no quarto trimestre, resultado considerado pífio, e prevê queda de 3% no seu lucro antes de impostos, amortizações e depreciações (lajida) no último trimestre de 2004. O presidente da companhia, Eduardo Bernini, disse que a distribuidora alongou seu perfil de endividamento, diminuiu a participação da moeda estrangeira na dívida total da empresa e, além disto, fez hedge cambial. "Estamos muito menos sensíveis ao dólar hoje do que antes. A valorização do real não influenciará tanto nossos resultados", disse Bernini em evento da AES, controladora da Eletropaulo, realizado na última terça-feira. Já o banco Brascan ressalta, em relatório, que a Eletropaulo deverá apresentar uma queda de 5,4% no seu fornecimento à indústria, motivada pela fuga de grandes clientes industriais de seu mercado cativo ao longo do ano passado. O analista do banco Pactual, Pedro Batista, também acredita em um menor impacto do dólar nesta próxima safra de balanços do que no passado. "O dólar já influenciou muito. Hoje, a variação cambial tem impacto maior apenas sobre a Eletrobrás, que tem recebíveis de Itaipu em dólar, e portanto a valorização do real trará prejuízo à companhia. A Cesp também é suscetível porque é uma das poucas sem hedge cambial", diz Batista. No caso da Eletrobrás - responsável pela comercialização da energia de Itaipu- o resultado da valorização cambial já deverá aparecer no quarto trimestre de 2004, de forma negativa: a empresa tem a receber US$ 6 bilhões em créditos de Itaipu. A empresa deverá apresentar prejuízo de US$ 365 milhões (R$ 941 milhões) no último trimestre de 2004 na visão do BBVA. Ainda de acordo com o banco, a estatal terá uma perda de 30% na sua receita financeira no último trimestre de 2004 e uma queda de 28% no seu lucro antes de impostos, depreciações e amortizações nos três últimos meses do ano. Apesar do não trazer tantos benefícios quanto o esperado, o real forte é sempre um fator positivo ao desempenho do setor, na avaliação do analista do Pactual. " O dólar alto costuma pressionar a inflação e isso não é bom para o setor elétrico", diz Pedro Batista. Ele ressalta como um dos principais pontos positivos para o setor elétrico a retomada do consumo de energia em 2004. A demanda por eletricidade no Brasil cresceu em dezembro 5,13% sobre o mesmo mês de 2003 e atingiu um volume recorde, de 33.407 gigawatts. Os dados são do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS). No último trimestre de 2004 o consumo no país subiu 5,21%. Apesar dos números positivos, algumas empresas como Light, Eletropaulo e Copel deverão apresentar um volume menor de energia faturada em decorrência da saída de alguns consumidores industriais dos seus mercados cativos. Relatório do banco Brascan aponta uma provável retração nos mercados destas distribuidoras. A Light deverá ter redução de 7,6% do seu mercado industrial; a Eletropaulo deverá apresentar queda de 5,4% e a Copel deverá apresentar encolhimento de 2,8%, de acordo com análise do banco. Já empresas como Cemig e Tractebel devem apresentar incremento do volume de energia faturada graças aos acordos fechados com novos consumidores de grande porte. Análises dos bancos e corretoras projetam crescimento da receita de grande parte das companhias. O destaque fica por conta da AES Tietê, com aumento de 27,7% de sua receita, segundo previsão do Brascan. A empresa foi beneficiada durante o ano passado pela remoção da obrigação legal de comprar energia de Itaipu. Demóstenes Barbosa, diretor do grupo, disse que a desobrigação alivia o caixa da empresa em cerca de R$ 1,8 milhão a R$ 2 milhões mensais. Com o dólar mais alto, a economia da AES Tietê seria maior.