Título: Ministra refuta críticas feitas à gestão financeira da empresa
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Fonte: Valor Econômico, 04/12/2008, Brasil, p. A4
A chefe da Casa Civil, ministra Dilma Rousseff, classificou ontem de "estarrecedora" as insinuações de que a Petrobras estava quebrada por contrair um empréstimo de R$ 2,23 bilhões na Caixa Econômica Federal e outro de R$ 750 milhões com o Banco do Brasil. Durante audiência conjunta de seis comissões temáticas da Câmara, a ministra afirmou que todos conhecem a crise internacional e o fechamento das linhas de crédito externas aos países emergentes. "Eu admito que as pessoas divirjam. Mas a divergência tem que ter um caráter técnico para não ser um tiro no pé", reclamou a ministra.
Dizendo-se perplexa com as afirmações de setores da oposição, Dilma parafraseou seu colega de Esplanada, o ministro do Planejamento, Paulo Bernardo, que dissera que o surpreendente seria se tivesse ocorrido o contrário - a Petrobras emprestar dinheiro à CEF. "A Petrobras é uma empresa com rating (classificação de risco de crédito) AA, melhor do que o do Brasil", disse ela. "O aval é a própria empresa, o que assegura o pagamento no término do contrato, daqui a 180 dias. A Petrobras por um acaso é um risco para a Caixa? Quantos bancos gostariam de ser credores dela?", complementou.
Dilma estranhou as dúvidas sobre as razões que levaram à estatal a contrair empréstimos de capital de giro - algo natural para uma empresa - junto a bancos públicos. "Questionam porque ela não fez o empréstimo com bancos privados. Deviam perguntar a esses bancos quais os juros que eles ofereceram". A chefe da Casa Civil afirmou não ter dúvidas de que assim que as linhas de crédito internacional forem reabertas, a primeira beneficiária será a Petrobras, "uma empresa que é exemplo de governança segundo diversas avaliações internacionais", acrescentou.
A ministra também rebateu os ataques feitos pela oposição sobre a forma de gestão da Petrobras. O líder do PSDB no Senado, Arthur Virgílio (AM), afirmou que "gerir uma empresa petrolífera com um barril a US$ 150 é uma coisa, gerir com um barril a US$ 50 é outra". Dilma assegurou que os contratos fechados pela estatal brasileira não levam em conta a cotação oscilante do petróleo no mercado internacional. "Todos os contratos aprovados pelo Conselho de Gestão estimam um barril de brent calculado a US$ 35. Existem contratos nos quais o barril custa US$ 18", afirmou. "Não é possível alguém afirmar que a Petrobras está quebrando".
Dilma não quis fazer prognósticos sobre uma possível queda nos preços da gasolina nos postos brasileiros. Senadores tucanos e democratas questionaram as razões de a gasolina nacional ser uma das mais caras do mundo, apesar dos discursos governistas de auto-suficiência e diante da realidade da queda na cotação internacional - no meio do ano, o barril chegou a valer US$ 150.
"O preço ainda está oscilando muito. Os ciclos econômicos são assim: se queima muita riqueza e, quando ela acaba, parte-se depois para a riqueza real, o petróleo". Segundo ela, o pré-sal traz dois desafios ao Brasil: as dificuldades na prospecção e a maldição do óleo, na qual os países altamente dependentes do petróleo passaram a sofrer um processo de desindustrialização e dependência extrema do finito recurso natural.