Título: Aperto deverá ser longo
Autor: Alex Ribeiro
Fonte: Valor Econômico, 25/02/2005, Finanças, p. C1

A ata do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central divulgada ontem avisa que o aperto na política monetária ainda não está concluído, mas sugere que pode ter chegado próximo do fim. Também reafirma que a taxa básica, que subiu de 18,25% para 18,75% ao ano na reunião da semana passada, permanecerá elevada por um período "suficientemente longo de tempo". Apesar de sinalizar uma política ainda mais restritiva, o Copom se revela bem mais otimista sobre as perspectivas inflacionárias - uma virada em relação ao tom soturno imprimido no documento de janeiro. Diz que, ao contrário do que temia, a política monetária está atingindo os efeitos esperados. Assim, torna-se mais remota a hipótese levantada no mês passado, de se promover um minichoque nos juros. Segundo o documento, a alta de 0,5 ponto percentual na meta da taxa Selic já traz os juros básicos para o nível próximo ao que, na avaliação do Copom, promoverá a convergência da inflação para a trajetória das metas. Mas a autoridade monetária deixa claro que virão novos aumentos pela frente: "O Comitê entende que ainda não será possível dar por concluído o processo de ajuste da taxa de juros iniciado em setembro" de 2004. Naquele mês, os juros se encontravam em 16% ao ano. A ata diz que "o número de etapas adicionais ao processo de ajuste" (alta de juros) dependerá de dois fatores: 1) a confirmação de que se desenha um cenário mais benigno para a inflação; 2) que, depois que o Copom parar de subir os juros, os agentes econômicos fiquem convencidos de que a taxa será realmente mantida elevada por um período prolongado de tempo - e, portanto, a curva de juros futuros não recue por um otimismo excessivo. Pela primeira vez desde setembro, o Copom diz em sua ata que "pode se verificar uma melhora nas projeções e expectativas de inflação", embora, ressalta, os núcleos "permaneçam ainda em níveis incompatíveis com as meta de médio prazo". Para o BC, o aperto na política de juros aumenta as chances de que a recente desaceleração nos preços do atacado seja transmitida para a inflação de varejo. Outro fato positivo, afirma, são os sinais de que se anteciparam os efeitos sazonal de redução de preços de alimentos (que deveria ocorrer mais adiante, no período da safra). "Esses fatores poderão colaborar para um primeiro semestre com taxas de inflação que proporcionem maior confiança no processo de convergência da trajetória das metas para 2005", diz a ata. Esse quadro benigno sinaliza, segundo o Copom, que a política monetária restritiva está, sim, tendo a repercussão esperada na atividade e inflação. Em janeiro, a autoridade monetária afirmara que a economia entrou em um processo sustentado de crescimento, em que a demanda se expande em decorrência de fatores ligados à expansão do emprego e da renda, e menos devido ao estímulo do crédito. Na ocasião, o BC alertou que, nesse novo contexto, a inflação poderia se tornar mais resistente à queda - exigindo uma dose maior de juros. Na ata de ontem, esse risco foi suavizado: "Na avaliação do Copom, dados divulgados desde então, indicando sobretudo que se interrompeu o processo de aceleração da inflação observado no último trimestre de 2004, reduzem a probabilidade de que os riscos mencionados em janeiro venham a se materializar." As projeções de inflação do BC voltaram a melhorar, pelo segundo mês consecutivo, em relação a dezembro passado, quando se encontravam em 5,3%. Mas ainda permanecem acima da meta revisada de inflação, de 5,1% estabelecida para o ano. Segundo o Copom, embora a inflação de janeiro tenha sido mais elevada do que o previsto, a inflação projetada recuou devido à alta dos juros futuros e à apreciação cambial. Segundo a ata, os principais riscos à concretização do cenário básico de projeção continuam sendo: 1) o alto nível de ocupação da capacidade instalada na economia, apesar de dados antecedentes (queda do risco-país e índice de confiança dos empresários) indicarem que os investimentos continuarão em níveis elevados; 2) a evolução dos preços internacionais do petróleo, que passaram a oscilar em patamares mais elevados desde dezembro; 3) a hipótese de um aperto mais forte nos juros americanos; 4) a resistência das expectativas inflacionárias de mercado em convergir para a meta. (AR)