Título: Meirelles diz que relatório é realista
Autor: Alex Ribeiro
Fonte: Valor Econômico, 25/02/2005, Finanças, p. C1
"A ata é sempre realista. Não é nem otimista, nem pessimista", disse o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, ontem à noite, logo após dar uma aula magna na Fundação Escola de Comércio Álvares Penteado (Fecap). "A ata não é ? light ? nem ? heavy ? " completou, dizendo que o mercado é que tem suas próprias interpretações do documento. "A ata não faz previsões futuras da decisão do Copom. O mercado sim, ele chega às suas conclusões. E aí a responsabilidade é de cada analista", completou. Meirelles se negou a comentar o teor da ata. "Ela é auto-explicativa e bastante clara", afirmou, destacando que a ata não tem mensagens "implícitas" nas entrelinhas. Sobre os gastos públicos, Meirelles disse que o Copom apenas indica que todo ganho fiscal é bem-vindo para a política monetária. "O Brasil tem feito esforço fiscal muito grande. E isso é fundamental à estabilidade e para garantir que os juros reais caiam no futuro", disse. "O esforço fiscal tem que ser uma prioridade." Na tarde de ontem, o secretário do Tesouro Nacional, Joaquim Levy, negou que os gastos do governo estejam provocando inflação, como sugere a ata da última reunião do Copom. Levy considerou natural que o Banco Central discuta questões fiscais. Essa rotina, segundo o secretário, é percebida no Banco Central Europeu (BCE) e também no Fed americano. "A carga tributária reflete a pressão dos gastos, mas ela não aumentou no Brasil. Estamos sempre vigilantes", prometeu. Levy afirmou que já fez alguns "exercícios quantitativos" que indicaram, em dezembro, uma neutralidade da política fiscal sobre a demanda. E o resultado de janeiro não sinalizou mudança nesse ambiente. Portanto, ele não viu relaxamento nos gastos públicos, mas reconheceu que há metas fiscais mais ambiciosas e igualmente legítimas. Há preocupação com a redução do superávit primário de 4,61% (2004) para 4,25% neste ano, mas o secretário garantiu que vai procurar estar atento às inquietações sobre um "relaxamento". O secretário afirmou que a questão da melhoria do gasto público já vem sendo enfrentada há tempo pelo ministro da Fazenda, Antonio Palocci. Ele afirmou que, quando a economia cresce, as pessoas, naturalmente, afirmam que o governo tem de controlar seus gastos para não provocar demanda adicional.