Título: Texto 'light' surpreende bancos
Autor: Alex Ribeiro
Fonte: Valor Econômico, 25/02/2005, Finanças, p. C1

"Benigna", "light", "menos carregada", "a ata da transição". Estas foram algumas das palavras usadas pelos economistas e analistas do mercado para descrever a ata da última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central, divulgada ontem. Entre eles, o consenso é de que a alta dos juros deve ser interrompida após a reunião de março. Os analistas lembram que se o tom pesado da ata de janeiro redundou numa elevação da Selic de apenas 0,50 ponto, o otimismo da ata de fevereiro sugere a diminuição da intensidade do aperto. Trata-se de uma desaceleração da política monetária até a sua parada completa. Octavio de Barros, economista chefe do Bradesco, destaca que esta ata vai marcar a transição para o encerramento do ciclo de ajuste da política monetária. O economista prevê um aumento de 0,25 ponto percentual na reunião agendada para o dia 16 de março, para depois ficar inalterada "por diversos meses" e só começar a cair no fim do terceiro trimestre. Os analistas da corretora Merrill Lynch vão na mesma direção. "A ata teve um tom, decididamente, mais ameno", destaca um relatório distribuído a clientes. "O que mais impressionou na ata do Copom foi uma forte mudança no tom do discurso da autoridade monetária", afirma Alexandre Póvoa, sócio diretor da Modal Asset Management. Para Póvoa, parece haver na ata uma demonstração inequívoca de confiança, por parte do BC, em relação ao processo de queda futura dos índices de inflação. Para o economista Alexandre Maia, da GAP Asset Management, a ata mostra um maior otimismo do BC em relação a convergência da inflação para as metas. "A ata mostra que o BC já começa a perceber os efeitos da alta dos juros sobre a inflação", diz. Maia prevê um aumento de 0,25 ponto percentual para a Selic em março. "Os dados sobre a inflação corrente e a atividade econômica permitem uma atitude menos conservadora do Banco Central", diz. "A ata foi surpreendente", diz Newton Rosa, economista chefe da SulAmérica Investimentos. "O cenário mais positivo traçado pela ata mostra que a economia está respondendo ao aperto monetário", diz. Rosa acredita em uma alta de 0,50 ponto percentual no juro em março. Mas dependendo dos números da inflação de fevereiro, o economista aposta em uma elevação menor, de 0,25 ponto. "Se os núcleos dos índices vierem próximo da meta, o BC tem condições de subir menos a Selic", diz. Para a consultoria GRC Visão, que prevê novo avanço do juro básico de 0,50 ponto, a Selic ficará estável a partir de abril. A estabilidade deve estender-se até o terceiro trimestre. Resta pouco espaço para reduções da taxa depois disso, já que a consultoria trabalha com Selic a 18% em dezembro. Mesmo que a ata produza um efeito positivo sobre o ânimo do mercado, o lado negativo, segundo a GRC Visão, é que a manutenção dos juros se dará por muito tempo e em um patamar elevado, provavelmente em 19,25% ao ano, o que praticamente condena o setor produtivo da economia em 2005. Nessas condições a taxa de juro real projetada para encerrar 2005 sobe de 12,3% para 12,8% já em março e "continuamos tendo a maior taxa de juro real do mundo", destaca a consultoria. Ela alerta que tal taxa é proibitiva aos investimentos em mão-de-obra e maquinário, limitando o potencial de crescimento da economia, a melhora na renda e no emprego.