Título: O salgado preço das urnas
Autor: Rothenburg, Denise
Fonte: Correio Braziliense, 28/02/2010, Política, p. 3

PT e PSDB admitem investir mais de R$ 50 milhões para dar visibilidade aos seus candidatos na corrida presidencial Na última eleição presidencial, em 2006, Luiz Inácio Lula da Silva declarou ao Tribunal Superior Eleitoral uma despesa total de R$ 91 milhões

A quatro meses das eleições, os partidos começam a mergulhar num emaranhado de cálculos antes mesmo de ter os candidatos ou os comitês prontos. Nesta fase de fazer as contas para ver quanto será preciso arrecadar, os marqueteiros e os técnicos do PT e do PSDB, os dois maiores partidos com candidatos a presidente da República, estão convictos de que os gastos vão ultrapassar com facilidade a casa dos R$ 50 milhões, incluindo programa de TV, deslocamentos dos candidatos, comitês e material de propaganda. A previsão é menor do que o total consumido em 2006, quando PT e PSDB gastaram juntos R$ 158 milhões.

Na última eleição, o presidente Lula, candidato ao segundo mandato, declarou ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) uma despesa de R$ 91,4 milhões. Geraldo Alckmin, do PSDB, apresentou uma conta de R$ 79,2 milhões. Esses valores ficaram muito acima do que foi apresentado pelo próprio Lula em 2002 (R$ 21 milhões) e pelo comitê financeiro de seu principal rival naquele pleito, José Serra (R$ 34,7 milhões).

Os especialistas acreditam que não foram as campanhas que ficaram mais caras (1)em relação a 2002. Os gastos é que ficaram mais transparentes e próximos da realidade, principalmente depois do escândalo do mensalão petista ¿ quando o país viu o que se passava nos bastidores da contabilidade e a diferença entre valores declarados ao Tribunal Superior Eleitoral e o que realmente era pago aos prestadores de serviços.

Para 2010, o primeiro levantamento recebido dos marqueteiros pelos partidos indica que os equipamentos de vídeo estão cada vez mais baratos, mas a dedicação de profissionais gabaritados ¿ que precisam receber valores acima do mercado para compensar o tempo que podem demorar para reingressar no mercado de trabalho depois da eleição ¿ continua no mesmo patamar. No quesito transporte, os valores também são elevados, mas ainda não foram calculados. Em 2006, o presidente Lula, que usou o Airbus presidencial, gastou mais de R$ 300 mil com esses deslocamentos.

Duda Mendonça, que na CPI dos Correios, durante a investigação do mensalão do PT, declarou ter recebido R$ 25 milhões, hoje custa menos. Mas, para as campanhas estaduais, não sai de casa por menos de R$ 9 milhões, com desconto (leia na página 4).

No caso dos estados, os marqueteiros e políticos, hoje mais reservados para falar de custos, comparam os preços ao que uma noiva pode pagar para o vestido do ¿grande dia¿. ¿Pode ser de chita, que sai baratinho, ou um modelo exclusivo de um grande estilista, que fica na casa do milhão¿, diz o presidente do Instituto Teotônio Vilela, deputado Luís Paulo Veloso Lucas, candidato a governador do Espírito Santo.

Mas, como a maioria fica na média, os cálculos feitos pelo marqueteiros ¿ e não pelos candidatos, que querem buscar descontos para baratear esse custo ¿ apontam para gastos da ordem de R$ 3 milhões a $ 3,5 milhões. O valor inclui criação e produção do programa de rádio e TV para os governos estaduais. Cobrar mais que isso só mesmo em praças como São Paulo, Rio e Minas, onde os preços são mais salgados.

Virtualidade

Há ainda um outro custo que ninguém mensura: o da campanha pela internet. Embora a TV ainda seja a aposta mais segura, ferramentas mais modernas, como Twitter, blogs e sites de relacionamentos, estão na mira dos candidatos. Serra, por exemplo, virou twitteiro diário. ¿Esta campanha promete ser mais interativa. O candidato terá que estar disponível para chats e respostas¿, comenta Edson Barbosa, da Link, que já preparou programas do PSB e começa a elaborar propostas para as campanhas estaduais, nas quais a maioria dos marqueteiros vai investir, já que são apenas três os candidatos presidenciais definidos: Dilma Rousseff (PT), que terá a campanha coordenada por João Santana, Marina Silva (PV) e um do PSDB, possivelmente José Serra, cujo marqueteiro mais próximo é Gonzales.

1 - Sondagens custosas No caso das campanhas estaduais, um dos itens considerados indispensáveis e de alto custo são as pesquisas eleitorais, em que um pacote custa de R$ 300 mil a R$ 700 mil, dependendo do número de rodadas que o candidato deseja. Em média, o investimento em comunicação para ter um termômetro das intenções de voto exige cerca de R$ 4 milhões.

O número R$ 3,5 milhões Estimativa do valor médio das campanhas estaduais