Título: Fundos vão investir mais em 2009
Autor: Júnior , Altamiro Silva
Fonte: Valor Econômico, 04/12/2008, Finanças, p. C6

Em meio às demissões, desistência de projetos, disparada do dólar e bolsa em baixa, pelo menos um setor traça um cenário um pouco mais otimista para 2009. Os fundos de private equity, especializados em comprar participações em empresas, projetam vários novos investimentos para o próximo ano. Os preços das empresas são considerados muito atrativos pelos gestores. Os negócios, porém, serão de valores mais baixos, concentrados em empresas menores e sem participação de crédito bancário para financiar as operações. Cacalos Garraatazu / Valor

Álvaro Gonçalves, sócio da Stratus Investimentos: "O que mudou foi o estilo das operações dos fundos"

Com a euforia do período pré-crise, as gestoras começaram a criar fundos e a captar recursos. Muitas dessas carteiras acabam de ficar prontas e estão com bilhões prontos para investir, caso da Pátria Investimentos, que tem US$ 1,1 bilhão disponível, ou da gestora inglesa Actis, que anunciou esta semana uma carteira de US$ 2,9 bilhões para mercados emergentes, com destaque para Brasil, que terá quase US$ 450 milhões.

Levantamento da Ocroma, empresa que assessora investidores desses fundos, detectou que há 24 carteiras em processo de captação, totalizando US$ 7,5 bilhões. Segundo Leonardo Pereira, sócio da empresa, a maior parte desses recursos é direcionada ao Brasil.

Gestores e especialistas do setor presentes ontem no Private Equity World, evento organizado pela Terrapinn, afirmam que, apesar da crise, o momento é oportuno para novos investimentos. Com a escassez de crédito bancário e com as aberturas de capital (IPO, na sigla em inglês) paralisadas, os private equities devem liderar os investimentos em empresas em 2009, prevê Piero Minardi, sócio da gestora Gávea Investimentos.

Para Luiz Otavio Reis de Magalhães, sócio da Pátria Investimentos, muitos fundos levantaram recursos no passado recente e agora é tempo de investir. Ele prevê, porém, que os fundos terão trabalho mais duro, tendo que participar mais ativamente da gestão da empresa, por causa dos tempos difíceis. Na euforia, era fácil comprar a participação por um múltiplo e vender por quatro ou cinco vezes mais. Agora, diz ele, isso tende a ser mais difícil. "Vemos diversas oportunidades de investimento."

Álvaro Gonçalves, sócio da Stratus Investimentos, espera um número razoável de negócios para 2009. "O que vai mudar é o estilo das transações", diz ele. Em um cenário marcado por falta de referência de preços e escassez de crédito, Gonçalves projeta operações de menor porte e com menos engenharia financeira. Em meio à crise, os gestores dizem que ficou mais difícil calcular o preço justo das companhias, pela falta de referencial.

O fechamento do mercado de IPO não é encarado como empecilho pelos gestores para novos investimentos. A abertura de capital vinha funcionando como forma de saída dos fundos do capital da empresa. Para Sidney Chameh, sócio da gestora DGF, para ativos de boa qualidade, sempre haverá compradores. Por isso, a maior preocupação com a gestão da empresa. Sem IPO, o investidor estratégico ganha espaço como alternativa de desinvestimento.

No Brasil, os fundos de pensão são apontados como um dos poucos investidores dispostos neste momento a colocar dinheiro nos private equities. A Fundação dos Economiários Federais (Funcef) gostou da experiência de aplicar no setor. Conseguiu retorno anual médio de 30% no fundo que aplicou e que já fez todos os desinvestimentos, o que equivale hoje a mais que o dobro da variação do Certificado de Depósito Interfinanceiro (CDI).

A Funcef, que tem recursos em 24 fundos, acaba de aplicar em mais dois, segundo Carlos Alberto Rosa, gerente de participações da fundação, que tem R$ 2,2 bilhões nos private equities (dos quais cerca de R$ 900 milhões ainda não foram investidos).

"O mercado de private equity continua atrativo", afirma Fabio Moser, diretor de investimentos da Previ, fundo de pensão do Banco do Brasil. A Previ tem R$ 1,2 bilhão em capital comprometido com esses fundos e planeja investir mais. Moser avalia, porém, que é caro investir no setor, por conta da criação de equipes específicas e participações em comitês.