Título: CNI vincula investimento à queda na taxa de juros
Autor: Maia , Samantha
Fonte: Valor Econômico, 03/12/2008, Brasil, p. A4

Empresários da indústria vincularam a manutenção dos investimentos para aumentar a produção a uma mudança do arranjo da política macroeconômica do governo federal. A crise financeira acentuou o discurso das empresas contra os juros altos e o câmbio valorizado, e segundo Armando Monteiro Neto, presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI), mudar esse arranjo macroeconômico é condição para superar a crise. Leo Pinheiro/Valor

Armando Monteiro, presidente da CNI: momento de fazer um ajuste no arranjo macroeconômico do país

"Até há pouco tempo a política econômica era baseada em câmbio valorizado e juro alto, mas é hora de fazer um ajuste porque o câmbio se depreciou", diz ele. O empresário falou após reunião em São Paulo do Fórum Nacional da Indústria para discutir estratégias para superar os efeitos da recessão econômica mundial. Estavam presentes representantes dos setores de eletroeletrônico, infra-estrutura, e alimentação, entre outros.

O presidente da CNI afirma que a queda de 1,7% da produção industrial em outubro sobre setembro já reflete o quadro de desaceleração da economia provocado pela crise financeira. Ele enfatiza, porém, que a redução é relacionada a setores mais suscetíveis à diminuição do crédito, da renda e das exportações. "A economia vinha num crescimento robusto, por isso a desaceleração deve ser suave", diz.

Monteiro Neto diz que a maioria das companhias já perceberam os efeitos da crise e isso afeta diretamente a decisão de investir. Ele garante, porém, que a indústria continuará investindo, mesmo que em níveis mais modestos. Segundo o empresário, isso será possível porque a economia brasileira apoiou seu crescimento no mercado interno. "Não desconhecemos o peso da economia americana, mas o Brasil tem garantias."

O reflexo mais forte da crise, porém, ainda não apareceu, segundo ele, mas deverá ser sentido pela indústria no primeiro trimestre de 2009. Para esse ano, mesmo a desaceleração a partir de outubro não ameaça um crescimento da indústria acima de 5%. "No conjunto da extração mineral, transformação e construção civil, o crescimento em 2008 deve superar 5%." Para 2009 a previsão é de que a produção cresça menos, de 3% a 3,5%.

Segundo o empresário, a cautela para investir já afeta as compras de bens de capital, o primeiro bem a ser afetado quando o investimento cai. "A compra de máquinas está afetada pelo câmbio, mas quem está com o investimento em curso não deixa de importar", diz. Segundo números do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC), as importações brasileiras de bens de capital tiveram uma desaceleração em novembro, com crescimento de 10% sobre novembro de 2007.