Título: Empresas brasileiras cobiçadas na França
Autor: Verdini, Liana
Fonte: Correio Braziliense, 28/02/2010, Economia, p. 18

País europeu instalará agência de investimentos em São Paulo para atrair capital brasileiro de longo prazo

Linha de montagem da Natura: a exemplo da fabricante de cosméticos, as verdes e amarelas Embraer, Vale e Perdigão atuam no território francês

O Brasil está na alça de mira da França. Em maio, a Agência Francesa para Investimentos (IFA, na sigla em inglês) inaugura seu escritório em São Paulo. A intenção é convencer o empresariado nacional a incluir o país europeu em seus planos de expansão internacional, divulgando os incentivos oferecidos pela legislação local e dando todo o suporte para que o empreendimento se torne operacional no menor tempo possível. A estratégia é impulsionar o crescimento econômico e reduzir a taxa de desemprego, que alcançou 10% em dezembro, acima do registrado por Alemanha (7,5%), Itália (8,5%) e até pela própria União Europeia (9,6%).

O Brasil é o primeiro país da América do Sul a receber a agência governamental francesa. ¿Hoje, estamos presentes em 21 países¿, contou David Appia, presidente da IFA. São escritórios na Europa, na América do Norte e na Ásia, trabalhando para atrair capital de longo prazo para a França. O interesse do governo francês pelo Brasil, segundo Appia, tem dois motivos principais. ¿O primeiro é incrementar, em nível econômico, o bom relacionamento existente entre os dois países.¿ Ele conta que desde 2003, mais de 65 projetos brasileiros se instalaram na Europa. ¿Isso demonstra que existe um grande potencial de crescimento.¿

Mas a razão principal, Appia não esconde, é que o Brasil atualmente ¿é um ator muito importante na arena econômica internacional¿. Essa percepção se consolidou a partir da rápida recuperação brasileira depois da crise. O presidente da IFA cita Embraer, Vale, Natura e Perdigão como empresas brasileiras já presentes em seu país. ¿Estamos certos que com nossa presença no Brasil várias outras deverão se juntar a essas.¿

Agressividade

Para isso, a França mudou sua legislação em 2008 e passou a oferecer abatimento fiscal de 30% a 60% de todas as despesas com pesquisa e desenvolvimento, o mais agressivo benefício de toda a Europa. O país facilitou a criação de firmas e dá tratamento preferencial a micro e pequenas empresas em licitações públicas. Em janeiro de 2009, foi criada a figura do autoempreendedor para os autônomos, o que resultou na criação de 320 mil empresas em pouco mais de um ano, de acordo com dados da IFA. Com tudo isso, só no ano passado, foram criadas mais de 500 mil companhias.

¿Queremos que o empresariado brasileiro se sinta confortável na França¿, disse Appia. ¿A França está aberta a todo tamanho de projeto, em todas as áreas: serviços, agroindústria, cosméticos, farmacêuticas, transportes.¿ No Brasil, segundo ele, existem mais de 400 empresas francesas estabelecidas. ¿Essa é uma via de mão dupla. E agora buscamos melhorar nosso trânsito na área de investimentos.¿

Perfil francês

5ª maior economia do mundo

População de 63,6 milhões

3 milhões de companhias com sediadas no país

Mais de 22 mil empresas estrangeiras com negócios na França

O percentual médio de poupança das família é de 13%

O desemprego é de 10%

Variação do PIB (em %)

2007 - 2,3 2008 - 0,4 2009 - -2,2 2010 - 1,2 2011 - 1,5

Inflação (em %)

2007 - 1,6 2008 - 3,2 2009 - 0,1

Fontes: IFA e European Comission

Recuperação após a crise é vantagem Monique Renne/CB/D.A Press - 29/12/09 Obra do VLT, em Brasília: oportunidades vão além da Copa do Mundo

Apesar do sentimento de que os ativos brasileiros podem já ter ido longe demais, ainda há muita riqueza a ser explorada no país. De recursos naturais a uma classe média emergente, o Brasil continua sendo uma das melhores apostas para investidores norte-americanos. ¿O Brasil é bastante visto como a economia que mais rapidamente se desenvolve depois da China e com muito mais confiança no governo, quase não importando quem vencerá a eleição que se aproxima¿, disse Michael Fitzgerald, presidente da área de ativos globais e de América Latina do Milbank, Tweed, Hadley & McCloy LLP.

Nos últimos anos, o país consolidou sua posição como uma das principais economias do mundo. Recuperou-se rapidamente de uma breve recessão no ano passado e, para este ano, espera-se que a economia cresça mais de 5%. Dentre os mercados emergentes da América Latina, o Brasil é o maior, mais desenvolvido e no caminho para um crescimento econômico mais forte, segundo os analistas.

Além disso, o país se beneficiará da força da demanda dos consumidores, de mais investimentos e de uma recuperação nos preços das commodities, de acordo com Shelly Shetty, analista sênior da Fitch. ¿A oportunidade no Brasil vai além da Copa do Mundo e dos Jogos Olímpicos¿, afirmou Richard Kang, diretor de pesquisa da Emerging Global Advisors. ¿O governo brasileiro tem prometido recursos para expansão em infraestrutura, e é de interesse do governo, do crescente setor privado do país e do cidadão comum que isso aconteça, e aconteça rápido.¿

Fundo

O Emerging Global Shares lançou na quarta-feira o primeiro fundo negociado em bolsa dedicado à infraestrutura brasileira. O fundo investe em 30 das maiores companhias negociadas em bolsa ligadas à indústria de infraestrutura do país, com uma média de capitalização de mercado de US$ 11,7 bilhões. ¿A classe média brasileira tem mais dinheiro no bolso. Vai exigir melhores estradas para suas motos e carros, vai exigir que haja infraestrutura¿, disse Kang.

O Brasil é também um dos principais fornecedores de matérias-primas para a China. Como economia de maior crescimento do mundo, o país asiático tem funcionado como um colchão para a maior parte dos países exportadores da América do Sul. Essa é uma das razões pela qual o Brasil conseguiu sair da crise financeira global em condições mais favoráveis que muitos países desenvolvidos. ¿A maior parte da rápida formação de capital do mundo está nos países emergentes, principalmente nos maiores, como o Brasil¿, afirmou Fitzgerald, do Milbank.

O número US$ 11,7 bilhões Média de capitalização de mercado das 30 maiores companhias negociadas em bolsa ligadas à infraestrutura brasileira