Título: Capitalização ajudaria estatal a levantar recursos
Autor: Schüffner , Cláudia
Fonte: Valor Econômico, 05/12/2008, Brasil, p. A5

A queda do preço do petróleo no mercado internacional e a exposição do caixa da Petrobras mostram que a estatal pode enfrentar problemas para financiar o início da produção de petróleo nos campos do pré-sal, o que pode tornar ainda mais necessário um aporte de capital na companhia por parte da União. O aporte deve se dar por meio da integralização de parte dos reservatórios do pré-sal que ainda não foram licitados e que estão ligados com campos já concedidos à estatal, como Iara e Tupi, na bacia de Santos. Silvia Costanti/Valor

Jorge Camargo, presidente da StatoilHydro no Brasil: "Aumentou o risco comercial já que o petróleo está baixando"

À medida que o governo aumentar seu capital na Petrobras, a companhia passa a ter mais capital próprio em relação à atual dívida o que, conseqüentemente, reduz sua alavancagem (dívida com terceiros em relação ao patrimônio), permitindo contrair mais empréstimos para financiar investimentos. Uma capitalização do governo permitiria que a Petrobras se "desalavanque", como se diz no jargão financeiro, evitando também um aumento do custo do dinheiro.

Existem desafios para que esse projeto se concretize. Um deles é o valor que será atribuído ao petróleo dos campos do pré-sal, cujos volumes se desconhece e que ainda não são, sequer, considerados reservas pois que não tiveram sua viabilidade comercial declarada.

Em recente relatório, analistas do Itaú Securities chamaram a atenção para o risco de "destruição" dos acionistas minoritários em um momento de queda de preços, inclusive das ações da Petrobras. Essa queda dificulta o cálculo do preço justo para efeito de uma participação dos acionistas em uma chamada de capital.

Entre as empresas de petróleo que operam no país, a expectativa é que o novo cenário - com preços em queda e redução da demanda por petróleo e derivados no mundo - traga um choque de realismo nas discussões sobre a mudança do modelo regulatório, permitindo mais racionalidade às discussões. "O negócio ainda está um oba-oba. Querem usar o pré-sal para resolver todos os problemas do Brasil. Falam em mudar a Previdência, resolver os problemas da educação e até financiar um programa de renovação da frota da Marinha. E se mandarem esse modelo do pré-sal para Congresso, não vai sair de lá de graça", avalia um executivo do setor.

Em tom moderado, o presidente da norueguesa StatoilHydro, Jorge Camargo, lembra que a proposta que o Instituto Brasileiro de Petróleo (IBP) vem apoiando é a de manter o modelo atual, que ele considera bem-sucedido, "com uma ou outra mudança pontual, eventualmente, que reflita as características do pré-sal".

Para Camargo, em épocas de crise como a atual, manter o modelo seria uma forma de o governo atrair mais investimentos no momento em que eles estão difíceis em todo o mundo. "Aumentou o risco comercial já que o petróleo está baixando. Com isso as margens (das petroleiras) diminuem e o risco de desenvolvimento da produção aumenta. Então, é o momento em que os países procuram atrair mais investimentos ou tentam evitar que eles sejam postergados", pondera o executivo.

Apesar das manifestações das empresas privadas, o governo está convencido de que criar uma nova estatal de participações no setor, nos moldes da norueguesa Petoro, é o melhor para o país. A idéia encontra simpatias na Petrobras, que não vê esse modelo como uma concorrência para seu poderio. Ao contrário. A Petrobras se vê como operadora das áreas onde essa nova estatal, não operacional, tiver participações acionárias.

Camargo, da StatoilHydro, é um defensor do modelo brasileiro tradicional, onde as áreas são disputadas pelas empresas em leilões coordenados pela Agência Nacional do Petróleo (ANP). "Manter o modelo é a melhor maneira para o país obter uma justa remuneração sobre os seus recursos naturais. E a melhor maneira de construir isso é por um leilão transparente e aberto, por meio de competição."

Murilo Marroquim, presidente da Devon no Brasil, lembra que os projetos dessa indústria são de longo prazo, normalmente de trinta anos, e que por isso não levam em conta os preços correntes, sejam eles altos ou baixos. Daí a necessidade de regras previsíveis.