Título: Grande fabricante tenta reajustar preço no exterior
Autor: Vanessa Jurgenfeld e Raquel Salgado
Fonte: Valor Econômico, 28/02/2005, Brasil, p. A6

As grandes empresas de calçados já sentem os efeitos da perda de rentabilidade na exportação, mas ainda procuram alternativas. Reajustar preço de exportação, diversificar destinos com maior foco na zona do euro e ampliar a presença no mercado interno estão entre as principais estratégias destas companhias. Em Franca, pólo calçadista do interior paulista, a HB Calçados tem reduzido sua margem de lucro para manter os compradores estrangeiros. Cerca de 60% da produção é direcionada ao mercado externo, principalmente aos Estados Unidos, o que deixa a empresa sem saída: ou diminui a porcentagem a ser repassada ou perde encomendas. "Precisaríamos aumentar os preços dos calçados em 15%, mas o cliente não tem aceitado", conta José Henrique Bettarello, diretor comercial da empresa. Se a valorização do real persistir nos próximos meses, ele acredita que será preciso demitir 10% dos funcionários, cerca de 140 pessoas. A alternativa para a Democrata, especializada em calçados masculinos, são as linhas de produtos de maior qualidade e valor agregado, na qual há mais chance de reajustar os preços entre 7% e 10%. Situação inversa acontece nos produtos mais simples e que não levam a marca da empresa. Segundo David Gonçalves, diretor de marketing da Democrata, esses calçados sofrem com a competição da China e da Índia. "Mesmo com o real valorizado, temos que limitar o repasse de preços para não perder mercado", complementa. Wagner Aécio Poli, diretor da Pé com Pé, empresa localizada em Birigüi, outro pólo calçadista de São Paulo, foi obrigado a diminuir sua margem de lucro para honrar as encomendas feitas no ano passado e entregues neste início de ano. Agora o produto da empresa está 15% mais caro do que no mesmo período de 2004. "Por enquanto ainda não sofremos com a queda do dólar, mas os pedidos do exterior devem cair a partir do segundo trimestre", afirma. Mas, como apenas 12% da produção da fábrica é exportada, Poli pretende compensar eventuais perdas com ampliação do mercado interno. Situação parecida vive a Bibi Calçados, voltada para o público infantil. A partir de março a empresa vai reajustar seus preços ao mercado internacional em cerca de 10%. Por enquanto, a produção permanece aquecida, mas há o receio de que o câmbio atrapalhe os negócios. O principal mercado da empresa, que exporta 30% de seus calçados, é Argentina, com 18% de participação. "Estamos buscando novos clientes, principalmente na Europa, onde se trabalha com euro e não com dólar", comenta Andrea Kohrlrausch, gerente de exportação. Carlos Brigagão, presidente da Sândalo, empresa de Franca, ainda aposta na feira de calçados realizada recentemente em Las Vegas, nos Estados Unidos, para incrementar as encomendas dos próximos meses. "Tivemos um começo de ano ruim e não só pelo fator sazonal, mas também pela queda do dólar", analisa o diretor da Sândalo, que exporta 35% de seus produtos, com destaque para os Estados Unidos. A empresa mantém o ritmo de produção, mas vê com cautela o cenário futuro. Para Brigagão, "se os pedidos não chegarem nas próximas três semanas poderá haver dispensa de alguns empregados". A Beira-Rio, uma das maiores indústrias calçadistas do Rio Grande do Sul, diz que não haverá demissões, mas que a empresa vê com preocupação o cenário. O presidente da companhia, Roberto Argenta, afirma que o impacto do câmbio não é tão grande porque há concentração das vendas dentro do país. A empresa, no entanto, esperava elevar a fatia de exportação que representou cerca de 8% do faturamento no ano passado para 10% em 2005. Planos, que segundo Argenta, não mais deverão ser concretizados. (RS e VJ)