Título: Maior doação é da Camargo Corrêa a Kassab
Autor: Felício , César
Fonte: Valor Econômico, 05/12/2008, Política, p. A7
A empreiteira Camargo Corrêa fez a maior doação individual identificada para um candidato eleito prefeito em uma capital na última eleição municipal. A empresa doou R$ 3 milhões para o prefeito reeleito de São Paulo, Gilberto Kassab (DEM), quase 10% do total arrecadado pelo integrante do DEM, que foi de
R$ 34 milhões. A aposta alta da Camargo Corrêa no financiamento eleitoral não é novidade. Já na campanha de 2004 a empresa estava relacionada entre as maiores financiadoras no país.
Na ocasião, a empresa doou R$ 1,016 milhão para a campanha de José Serra (PSDB), que tinha Kassab como vice, convertendo-se também na maior doadora individual de então, não só na campanha paulistana mas como na do Brasil como um todo.
O levantamento feito pelo Valor, tendo como base os relatórios disponíveis na página eletrônica do Tribunal Superior Eleitoral, não analisou as contas dos prefeitos eleito do Recife, João da Costa (PT) e do reeleito de Belém, Duciomar Costa (PTB). Não constam dados sobre o comitê de campanha do primeiro e do comitê financeiro do PTB em Belém, impossibilitando a identificação dos doadores.
O fato de a Camargo Corrêa aparecer como a maior contribuinte individual identifica não significa necessariamente que ela tenha sido a maior doadora da campanha. Isto porque a legislação eleitoral possibilita às empresas e pessoas físicas realizarem doações não identificadas. Para isto, basta fazer a contribuição para o partido do candidato, com a orientação para que o valor seja repassado. O partido não é obrigado a revelar seus financiadores e esta manobra é absolutamente legal. Para alguns dos eleitos, como a nova prefeita de Natal, Micarla de Souza (PV), as doações de partidos representam a maior parte arrecadada.
Além de mais rica, com receita aproximada de R$ 34 milhões, a campanha de Kassab foi também a mais diversificada em termos de doadores. O integrante do DEM teve as empreiteiras como maiores doadores, mas recebeu também contribuição de instituições financeiras e de seguro, como o Itaú, o Unibanco, a Porto Seguro e o Banco Fator; de empresas do setor imobiliário, como a JHS e do setor industrial, como a Gerdau e a Ambev.
O prefeito eleito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes (PMDB), foi o que recebeu maior apoio da indústria imobiliária. Entre seus doadores, destacaram-se empresas como a Multiplan (doação de R$ 300 mil), Century Investimentos (R$ 350 mil), Rossi Residencial (R$ 200 mil) e CHL Desenvolvimento Imobiliário (R$ 100 mil)
Em Manaus, a campanha do prefeito eleito Amazonino Mendes (PTB) foi sustentada por empresas do setor de serviços e que atuam na Zona Franca de Manaus. A maior doação foi de uma editora, a Grafisa, que investiu R$ 680 mil na campanha do petebista.
Em Goiânia, predominaram as empresas revendedoras de veículos e donas de frotas. O grupo Nasa foi o maior doador da campanha do prefeito reeleito Iris Rezende (PMDB), com doações que somam R$ 570 mil.
A campanha do tucano João Castelo em São Luís foi praticamente sustentada por um único grupo empresarial, o Dalcar Veículos, também controlador da revendedora Cauê. Estas duas pessoas jurídicas doaram somadas R$ 1,018 milhão para o novo prefeito, três vezes mais que o segundo maior doador, o posto de combustíveis Bacanga. A Dalcar controla a revenda de veículos GM no Maranhão.
O setor financeiro só predominou como doador em uma única campanha vitoriosa nas capitais, a do prefeito reeleito de Campo Grande, Nelsinho Trad (PMDB). Seu maior doador foi o Banco Rural, com uma colaboração de R$ 650 mil.