Título: Falta de emprego faz moradores de Teófilo Otoni emigrarem para Portugal
Autor: Chico Santos
Fonte: Valor Econômico, 28/02/2005, Brasil, p. A10

Entre 1999 e 2000, mais de 300 estabelecimentos comerciais de Teófilo Otoni foram fechados, entre eles uma fábrica da Nestlé. Sem emprego, muitos moradores deixaram a cidade do Vale do Jequitinhonha, no norte de Minas Gerais, em busca de oportunidades de trabalho. A maior parte foi procurar emprego fora do país, em Portugal. Não há na cidade quem não tenha amigo ou parente tentando a sorte no país europeu. "Por causa da fama de Governador Valadares, a população de Teófilo Otoni tem dificuldade para conseguir visto para os Estados Unidos", explica o presidente da associação comercial do município, Jary Mendonça Filho, referindo-se à cidade mineira conhecida por "exportar" imigrantes clandestinos para o país. "Por isso vai para Portugal." Faltam estatísticas oficiais sobre a emigração, mas Jary Mendonça Filho, que é ex-secretário de Indústria e Comércio e atual presidente do diretório municipal do PMDB, acredita que esta é a principal explicação para o declínio da população de Teófilo Otoni na década passada. "Foi uma década de decadência para a cidade", diz ele. A administração municipal, do PT, também credita à emigração para Portugal parte da redução do volume populacional, apontada pela pesquisa do IBGE. Mas, de acordo com o atual secretário de Planejamento da Prefeitura, Rudson Oliveira, o maior impacto nos números da população foi a emancipação de um pequeno distrito, Belo Oriente, no fim dos anos 90. Para satisfação dos comerciantes que permaneceram na cidade, os sinais são de que a onda de êxodo já é coisa do passado. Os números do Tribunal Regional Eleitoral mostram que a tendência de declínio populacional foi revertida. As estatísticas das duas últimas eleições municipais mostram que a base cresceu em 10 mil eleitores em 2004 em relação a 2000. A reabertura de muitos estabelecimentos comerciais e a chegada de grandes redes, como Casas Bahia e Magazine Luiza, é outro indicador de que o quadro mudou desde a década passada. A melhora das finanças ajudou a reaquecer a economia. Até 2000, era comum os servidores municipais receberem com até cinco meses de atraso. "Para o comércio isso era um desastre", diz o presidente da associação comercial. Com salários em dia, os funcionários públicos voltaram a gastar no comércio. Os euros enviados pelos conterrâneos que vivem em Portugal - como os dólares que enriquecem a mineira Governador Valadares - também movimentam o comércio de Teólfio Otoni. Quem está lá investe o dinheiro em bens para a família que ficou no Vale do Jequitinhonha. Conhecida pelo comércio de pedras preciosas, a cidade voltou a promover uma feira anual. O evento, que deixou de ser realizados nos tempos de crise da Prefeitura, costuma atrair compradores do exterior, o que também contribui para melhorar os negócios. Nos últimos anos, dois hotéis foram reformados e outros dois foram construídos. Grandes redes varejistas se estabeleceram em Teófilo Otoni de olho no potencial de consumo do entorno. A cidade é um pólo regional no extremo norte do Estado, atraindo moradores das cidades vizinhas, como Almenara e Araçuaí. "Na década passada, com o fechamento de muitas lojas, os moradores das cidades vizinhas sumiram de Teófilo Otoni", diz Jary Mendonça Filho. "Por causa dessas lojas de grandes redes, o município está voltando a ser um pólo regional." O comércio atacadista e varejista é a principal atividade econômica na cidade, seguido pela pecuária. Em terceiro aparece o extrativismo mineral. "Estamos iniciando um novo ciclo, com mais postos de trabalho", diz o presidente da associação comercial. Segundo ele, só falta o governo federal cumprir a promessa de criar a Universidade Federal do Vale do Jequitinhonha para que a população não tenha mais motivos para deixar a cidade.