Título: Antecipação do debate sucessório acirra disputa entre petistas e tucanos
Autor: César Felício
Fonte: Valor Econômico, 28/02/2005, Política, p. A12

O PSDB entrará hoje com uma interpelação judicial contra o presidente Luiz Inácio Lula da Silva no Supremo Tribunal Federal (STF). Segundo o presidente do partido, o senador Eduardo Azeredo (MG), Lula será interpelado a esclarecer as afirmações de que teria acobertado supostos crimes de corrupção ocorridos antes de seu governo em nome da governabilidade do país. Além da interpelação, o PSDB impetrou na Câmara dos Deputados um pedido de abertura de processo contra o presidente por crime de responsabilidade, assinada pelo líder do partido na Casa, Alberto Goldman (SP). O presidente da Câmara, Severino Cavalcanti, tem o poder para arquivar o pedido ou dar-lhe seguimento. No Senado, o presidente da Casa, Renan Calheiros (PMDB-AL) também receberá requerimento do senador do PSDB, Antero Paes de Barros (MT) apresentou requerimento convocando o ministro da Casa Civil, José Dirceu, para depor. As iniciativas parlamentares dos tucanos foram coordenadas com a nota em que o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso cobra de Lula uma retratação. "A palavra está com sua excelência, o presidente Lula. Se calar, caberá ao Congresso exigir que a lei se cumpra", escreveu o ex-presidente. Em resposta a essas iniciativas tucanas, o presidente do PT, José Genoíno, divulgou ontem nota oficial em que acusa a oposição de apostar na "desestabilização política do governo e do Brasil, usando instrumentos democráticos para atingir objetivos meramente particularistas de setores de um partido político que não parecem estar conformados com o papel de oposição que o eleitorado lhe reservou". O pronunciamento do presidente Luiz Inácio Lula da Silva no Espírito Santo e a reação do PSDB sacramentou a antecipação da sucessão presidencial de 2006. Tucanos e petistas acusaram-se mutuamente de terem agido com motivos eleitorais e a corrida começa com cinco candidatos, sendo Lula o único consolidado. Segundo um parlamentar pefelista, o fato de Lula ter-se exposto a um processo por crime de responsabilidade ao insinuar corrupção no governo do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso não deverá abalar a sua posição. O parlamentar vê com ceticismo o pacote de iniciativas tomadas pela oposição. "As crises políticas que ele mesmo gera são mascaradas pelo sucesso da política econômica. Enquanto os indicadores macroeconômicos estiverem favoráveis, Lula tem um salvo-conduto para fazer ou dizer o que seja", lamentou o congressista do PFL. No PT, o cálculo eleitoral da fala do presidente é negado. "Esta discussão sucessória agora encurta o mandato do presidente em dois anos, seria um erro primário que ninguém faria", comentou o deputado Arlindo Chinaglia (PT-SP). Quatro oponentes procuram se viabilizar: o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB) e o ex-governador do Rio, Anthony Garotinho (PMDB) ainda precisam convencer suas siglas. O prefeito do Rio, Cesar Maia (PFL), precisará ficar com mais de dois dígitos nas pesquisas de intenção de voto para tornar a sua candidatura real e a senadora Heloísa Helena (AL) dependerá da situação legal do partido que tenta criar, o P-Sol, para poder concorrer. A antecipação do calendário eleitoral começou a ficar nítida ainda antes da eleição municipal do ano passado, e a iniciativa partiu da oposição. Ao lançar José Serra, seu presidente nacional, na disputa pela prefeitura paulistana, o PSDB fez com que o PT nacionalizasse a disputa local. A prefeita derrotada, Marta Suplicy, é vice-presidente petista e contou com Lula em seu palanque. Logo após a vitória de Serra, a oposição fez dois outros movimentos em relação a 2006: o senador Tasso Jereissati (PSDB-CE) anunciou publicamente que Geraldo Alckmin era o favorito para tornar-se o candidato do partido à Presidência; e Cesar Maia, lançou-se pelo PFL. A candidatura de Alckmin só não foi antecipada para este primeiro semestre em função de discordâncias internas. O governador de Minas Gerais, Aécio Neves , é o principal obstáculo para o paulista dentro do partido. Já o PFL iniciou uma estratégia de ampliar a exposição de Cesar Maia, de modo a torná-lo competitivo nas pesquisas de intenção de voto. É a mesma estratégia que o partido adotou em 2001, quando patrocinou a frustrada candidatura da hoje senadora Roseana Sarney (MA). Em novembro, aliado ao presidente nacional do PMDB, Michel Temer, e aos governadores do partido que estavam insatisfeitos com o tratamento que recebiam do governo federal, o ex-governador do Rio de Janeiro, Anthony Garotinho, lançou a sua ofensiva para afastar a sigla do projeto de reeleição do presidente , um primeiro passo para garantir a candidatura própria pemedebista. A única iniciativa fracassada dos oposicionistas foi a frente entre com o PDT, idealizada pelo presidente nacional do PPS, o deputado Roberto Freire (PE). O ministro da Integração Nacional, Ciro Gomes, resiste a deixar a sigla sob o controle de Freire na sigla e o PDT está em fase de cooptação pelo Planalto, com a filiação de políticos interessados em religar o partido com o poder, como o governador de Alagoas, Ronaldo Lessa. Na extrema-esquerda, a senadora Heloísa Helena (AL), que tenta estruturar o P-Sol, já foi lançada à Presidência. (Colaborou Taciana Collet)