Título: Em clima de ceticismo, Lamy tenta salvar reunião
Autor: Moreira , Assis
Fonte: Valor Econômico, 08/12/2008, Brasil, p. A3

A Organização Mundial do Comércio (OMC) apresentou novos textos de compromisso para um acordo agrícola e industrial na Rodada Doha, com diferentes opções para agradar todo mundo - exportadores e importadores. Mas ontem à noite o diretor-geral da OMC, Pascal Lamy, lutava desesperadamente para tentar convocar uma reunião ministerial para esta semana em Genebra, para a barganha final, em meio a um ceticismo crescente de negociadores.

Ele contatou os principais negociadores - Susan Schwab (EUA), Celso Amorim, Kamal Nath da Índia, o ministro chinês de comércio e outros. Dependendo do que terá ouvido, Lamy decidirá hoje se convoca a ministerial. A opinião crescente era de que a ministerial "subiu no telhado", diante de sinais ruins enviados dos EUA, da Índia, da China e outros. Só que os países não querem assumir culpa por novo fiasco e jogam para Lamy. ''Os EUA estão comprometidos com um acordo ambicioso e vamos a Genebra se Lamy convocar a reunião, a decisão é dele'', disse o porta-voz de Schwab, Sean Spicer.

Lamy reconheceu que os problemas que persistem são poucos, "mas muito sensíveis politicamente", e pediu flexibilidade dos países. O mediador da negociação industrial, o suíço Luzius Wasescha, apontou "sérias dificuldades" em relação a acordos setoriais. Para o australiano Crawford Falconer, mediador da negociação agrícola, "os progressos são ainda frágeis" sobre salvaguarda especial, tema que provocou o colapso da tentativa de acordo em julho, no confronto entre EUA e India.

Fontes da indústria americana diziam que os textos divulgados sábado não dão espaço para Washington obter suficiente acesso adicional para as exportações. Susan Schwab, entregou um documentos aos chineses, condicionando fórmulas e flexibilidades na área industrial à participação de emergentes como a própria China, Brasil e India em acordos setoriais.

Os emergentes, porém, discordam dos termos das demandas americanas. Anda mais que, nessa situação, tampouco está definido o equilíbrio entre as concessões agrícolas e industriais, como pede o G-20, grupo liderado pelo Brasil.

Os novos textos para compromissos são mais precisos sobre a base para liberalização agrícola e industrial, mas nada está atado a nada. Na prática, pavimentam o terreno para que a reunião de ministros, se ocorrer, alcance um acordo político de base, sobre o qual continuará a ser negociado em 2009, sem decidir modalidades (definição de fórmulas e métodos para cortar tarifas e subsídios).

Os principais pontos de impasse persistem, sobre acordo setorial, flexibilidade adicional para Argentina, Venezuela e África do Sul protegerem indústrias, salvaguarda especial temporária para países em desenvolvimento frearem importações agrícolas. A reação do Brasil foi de prudência. "O mais importante é saber qual o grau de flexibilidade dos países para chegar a um acordo", disse o embaixador Roberto Azevedo.

Para o embaixador da Argentina, Alberto Dumont, "todo mundo pode aceitar esses documentos, porque eles não definem absolutamente nada". No caso de flexibilidade adicional para o país, Dumont considerou que o texto industrial "melhorou" em relação ao anterior. "É mais realista", porque coloca em pé de igualdade Argentina, África do Sul e Venezuela sobre necessidade de proteção. A África do Sul quer flexibilidade adicional de 1% a 6% nas linhas tarifárias.

Num cenário de recessão global e falências, a União Européia também pode ter problemas. Quer um compromisso, porque vai pagar pouco na área agrícola. Mas a Alemanha tem mais ambição na área industrial. Ainda mais com a brusca desaceleração de suas indústrias. Os canadenses não estão contentes. O Japão resiste na área agrícola como a Argentina na área industrial.