Título: Alívio com a análise sobre inflação da ata do Copom
Autor:
Fonte: Valor Econômico, 28/02/2005, Opinião, p. A14

A divulgação, na quinta-feira, da ata do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central foi recebida com alívio pois fica claro nesse documento que o processo de aperto da política monetária ainda não terminou, mas pode estar, finalmente, próximo do fim. Como resultado da decisão governamental, tomada em setembro passado, de arrochar a política monetária para conter a inflação, o Copom elevou a taxa básica de juros seis vezes consecutivas, de 16% ao ano para 18,75%. E as atas das reuniões anteriores à de fevereiro foram consideradas pelos especialistas extremamente "duras" no sentido de indicar a manutenção da tendência de aumento dos juros por um prazo ainda longo. Desta vez, não se acenou com uma redução das taxas - ao contrário ficou a clara impressão de que haverá novas elevações da Selic -, mas pelo menos a autoridade monetária sugere que os juros poderão logo ficar estabilizados em um determinado patamar, ainda que elevado. É uma informação auspiciosa, que dá esperanças de que o processo de recuperação do crescimento da economia não vai ser interrompida pelo incremento contínuo e incessante do custo do dinheiro. Apesar de sinalizar que a política ainda continuará restritiva, o Copom se revela bem mais otimista sobre as perspectivas inflacionárias - uma mudança importante em relação ao tom imprimido no documento de janeiro. Agora, o Copom garante que a política monetária está, de fato, tendo os efeitos esperados, no que pode ser considerado uma tentativa de interferir no recente debate entre economistas sobre a eficácia da decisão de elevar os juros enquanto simultaneamente se promove a expansão dos financiamentos, por intermédio de medidas para estimular, por exemplo, o microcrédito. Se o Banco Central acredita, porém, que a política monetária está com sua eficácia preservada, torna-se mais remota a hipótese levantada no mês passado de se promover um mini-choque nos juros. Do ponto de vista dos empresários e dos investidores no setor produtivo, a ata do Copom é, dessa forma, um alívio mas serve também como um alerta porque ainda promete mais elevações das taxas Selic: "o comitê entende que ainda não será possível dar por concluído o processo de ajuste da taxa de juros iniciado em setembro" de 2004. A ata diz que "o número de etapas adicionais ao processo de ajuste" dependerá de dois fatores: a confirmação de que se desenha um cenário mais positivo para a inflação; e que, depois que o Copom parar de subir os juros, os agentes econômicos fiquem convencidos de que a taxa será realmente mantida elevada por um período prolongado de tempo - e, portanto, a curva de juros futuros não recue por um otimismo excessivo. Pela primeira vez desde setembro, o Copom diz em sua ata que "pode se verificar uma melhora nas projeções e expectativas de inflação", embora, ressalta, os núcleos "permaneçam ainda em níveis incompatíveis com as meta de médio prazo". Outro aspecto importante do documento foi a apreciação feita pelos membros do Copom sobre a política fiscal - o segundo aspecto macroeconômico que está no centro do debate dos especialistas, particularmente de críticos que consideram que houve no ano passado uma aceleração das despesas da União. O BC afirma que uma política de contenção de gastos públicos poderia ajudar a segurar a demanda, reduzindo a carga de juros necessária para fazer a inflação convergir para as metas. "É inegável que reduções nos gastos públicos reforçam a ação da política monetária no controle da inflação e que o aprofundamento no processo de melhora nas contas públicas abre ainda mais espaço para uma redução das taxas reais." O Banco Central evita fazer considerações na ata se a política fiscal atual é mais expansionista ou não - sempre se refere a "desenvolvimentos recentes" na área fiscal ou à "atual postura de política fiscal". Há alguns meses, o comitê entrou em choque com a Petrobras ao advogar uma elevação nos preços dos combustíveis. Dessa forma, o principal objetivo do Copom ao abordar o assunto na ata é esclarecer que, em tese, uma política fiscal expansionista tira parte da eficiência da política monetária (exigindo uma dose maior de juros), mas não elimina sua eficácia - ou seja, o remédio, quando bem administrado, não deixa de reduzir a inflação.