Título: Ritmo do investimento cai 50% no trimestre
Autor:
Fonte: Valor Econômico, 08/12/2008, Brasil, p. A5

As empresas reduziram bruscamente suas encomendas de máquinas e equipamentos no Brasil e no exterior porque estão preocupadas com o impacto da crise global e pela insuficiência de crédito no mercado. A queda é generalizada entre os setores industriais e sinaliza forte desaceleração dos investimentos. Depois de acumular alta de 16% entre janeiro e setembro na comparação com o mesmo período de 2007, o crescimento do investimento do país deve cair pela metade no quarto trimestre.

As fabricantes de bens de capital perderam um terço da carteira de pedidos em relação ao período pré-crise, informa a Associação Brasileira de Máquinas e Equipamentos (Abimaq). O levantamento foi feito na última semana de novembro e comparou os pedidos com àqueles mantidos em 15 de setembro, no pré-crise. Menos competitivas por conta da desvalorização do real, as compras de bens de capital no exterior também desaceleraram. Em novembro, essas importações cresceram 10% em relação a novembro de 2007, depois de acumular alta de 48,6% de janeiro a outubro.

"Com a ameaça que a crise se instale no Brasil, as empresas estão céticas em fazer investimentos", disse Robinson Naoki Miki, gerente de marketing da Mitutoyo, situada em Suzano (SP), que fabrica máquinas para o setor de autopeças, um dos mais afetados pela crise. Segundo o executivo, a entrada de novas encomendas caiu 40% em novembro comparado com outubro. Ele também relata cancelamentos, mas garante que a maioria dos pedidos antigos foi mantida. O prazo da carteira da empresa, que variava entre dois e três meses, caiu para um mês e meio.

Entre os setores, a construção civil foi o que mais reduziu os investimentos em bens de capital, cortando em 47% as encomendas, segundo a Abimaq. As indústrias de bens de consumo também diminuíram os pedidos de máquinas em 38%. O dado demonstra que o setor está preocupado com a contaminação da economia pela crise, apesar das vendas no varejo ainda estarem positivas. Na agricultura, que sofre com a queda dos preços das commodities, as encomendas de máquinas recuaram 38%.

Entre os próprios fabricantes de bens de capital, os pedidos de máquinas cederam 28%. Nas indústria de base e de energia, a redução dos investimentos é menor e as encomendas caíram 13% e 23%, respectivamente. Esses setores planejam os investimentos com base na demanda prevista para 2010 e 2011, quando a economia global já deve estar se recuperando da crise. Se hesitarem agora, as empresas correm o risco de perder market-share.

"Não entraram novos pedidos e algumas encomendas foram postergadas ou canceladas", relatou o vice-presidente da Abimaq, Carlos Pastoriza. Ele informou que, em média, as indústrias de bens de capital operam com pedidos que garantem as entregas nos próximos quatro meses. No quadro atual, esse prazo caiu para três meses. O setor estima que os pedidos em carteira somem investimentos de R$ 25 bilhões, 32,3% menos que o registrado em 15 de setembro.

Para o executivo da Abimaq, a "paradeira" nas vendas de máquinas é resultado da escassez de crédito dos bancos brasileiros, que estão sendo "ultraconservadores", e do "efeito psicológico" do empresariado nacional, já que o consumo ainda não caiu. Preocupada com o faturamento em 2009, a entidade pede ao governo medidas anticíclicas urgentes. "Se não baixar a taxa de juros, vamos fabricar uma recessão nesse país", disse Pastoriza.

O faturamento total do setor de bens de capital ainda não foi afetado porque os contratos são de longo prazo, mas com a queda nas encomendas a expectativa é que a produção comece a cair no primeiro trimestre de 2009. Em outubro, o consumo aparente de máquinas (produção mais importações menos exportações) ainda cresceu expressivos 54%. Em novembro, no entanto, algumas empresas já relatam queda nas vendas.

A subsidiária brasileira da argentina Sanmartin, que fabrica equipamentos para indústrias de bebidas e de higiene e limpeza em Caxias do Sul (RS), sentiu o impacto da crise no mês passado, quando as vendas recuaram 8% em relação a novembro de 2007. Segundo o diretor comercial Ricardo Stallivieri, por enquanto, ocorreu um adiamento dos contratos para este mês e agora ele espera dobrar o volume de negócios em comparação com dezembro de 2007.

Segundo executivo, os clientes estão confirmando os orçamentos feitos a partir de setembro, porque o setor de bebidas, que representa 60% dos negócios, teve que voltar às compras para garantir o recebimento das encomendas em maio e junho, quando a produção em baixa por causa do inverno facilita a instalação de novos equipamentos. Mesmo assim, Stallivieri prefere uma projeção mais conservadora para 2009: empatar com 2008.

Na fabricante de máquinas gráficas Feva, as encomendas só garantem os próximos dois meses, metade do prazo usual de quatro meses. "Estou atrasada com a a chegada de novas encomendas. Temos que completar a carteira de pedidos", disse Mônica Vaders, diretora comercial da empresa. Ela contou que seus clientes também estão postergando investimentos, porque se sentem inseguros em relação ao desempenho da economia. "A maioria das empresas está deixando a compra de máquinas para fevereiro", afirmou.

Para o economista Braúlio Borges, da LCA Consultores, a preocupação do setor produtivo com a economia é o principal motivo para explicar a queda nas encomendas de máquinas. O indicador de confiança do empresariado da Fundação Getúlio Vargas (FGV) caiu 19,4% em novembro em relação a outubro livre na série livre de efeitos sazonais, a maior baixa mensal registrada desde o início da série em 1995.

Borges também ressaltou que os níveis de capacidade utilizada da indústria estão caindo rápido, o que desestimula o investimento. Segundo a FGV, esse indicador recuou para 84% em novembro comparado com 85,3% em outubro. Isso significa uma queda de 1,3 ponto percentual em apenas um mês, a maior desde agosto de 1998, quando a Rússia enfrentava uma crise econômica que ameaçava contaminar o Brasil.

Graças ao desempenho ruim do setor de bens de capital e a fragilidade da construção civil, o economista projeta forte queda da taxa de investimento no país. "Para novembro, não descartaria uma taxa negativa", disse Borges. A LCA projeta que a Formação Bruta de Capital Fixo (que mede os gastos em máquinas, equipamentos e construção e é um indicador de investimento) deve subir apenas 8% no quarto trimestre em relação ao mesmo período de 2007, depois de atingir alta de 18,2% no terceiro trimestre. De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o investimento cresceu 15,2% do PIB no primeiro trimestre e 16,2% no segundo, sempre em relação ao ano passado.

"A queda do investimento será a marca registrada dessa crise no Brasil", diz Sérgio Vale, economista-chefe da MB Associados. "O investimento foi o carro-chefe do crescimento do PIB até o terceiro trimestre, agora vai puxar a desaceleração". Ele ressaltou que as empresas estão agora fazendo as projeções para 2010 e, com a expectativa negativa, o resultado é um corte brusco na compra de máquinas.

Vale acredita que 2009 será um ano muito complicado para os fabricantes de bens de capital. As vendas do setor e, conseqüentemente, a taxa de investimento só devem se recuperar no fim de 2010. A projeção é que os primeiros sinais positivos só retornem no segundo semestre do próximo ano, o que poderia animar o empresário a investir. (Colaborou Sérgio Bueno, de Porto Alegre)

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