Título: Anatel afirma que pretende debater implantação da 3G
Autor: Heloisa Magalhães
Fonte: Valor Econômico, 28/02/2005, Empresas &, p. B4

A chuva de críticas pode ter contribuído, mas a Anatel garante que a proposta de licitar ainda neste ano licenças para operação da terceira geração da telefonia celular (3G) foi divulgada apenas para abrir a discussão. O órgão informa que pode ajustar as datas anunciadas, que previam o início da operação comercial do serviço em 2006. "Se houver interesse, tudo bem, vamos licitar. Mas a intenção é debater e ouvir. A agência precisa abrir o tema, pois o momento é de evolução no mundo todo e o Brasil não pode ficar muito fora", disse ao Valor o superintendente de serviços privados da agência, Jarbas José Valente. Ele escolheu o 3GSM World Congress, realizado em Cannes, na França entre 14 e 17 de fevereiro, para apresentar à comunidade internacional a proposta brasileira. Valente relata que a intenção foi abrir a discussão de forma ampla. Ele diz que os representantes de "todas as operadoras (brasileiras) estavam lá e não houve essa reação que está havendo aqui. A Anatel tem que se posicionar sobre o assunto, mas ainda vamos definir se irá acontecer mesmo a licitação neste ano", afirma. O presidente da Brasil Telecom GSM, Ricardo Sacramento, empresa que entrou na telefonia celular em outubro passado, bem depois das concorrentes, avalia que a sensação é de que a Anatel está colocando "o bode na sala". Para ele, a agência jogou a proposta para sentir a reação do mercado. O executivo defende que a agência precisa ter o papel de "puxar a tecnologia " e pode até mudar as datas anunciadas, mas lembra que as empresas podem acabar "se sentindo pressionadas". O presidente da Oi, Luiz Falco, é definitivo. Qualquer decisão para este ano ele aponta como "precoce" e "inoportuna". Para Falco, a Oi, com 7 milhões de clientes, ainda está na fase de adequação dos investimentos realizados e não seria adequado pular para uma nova tecnologia. Entre fornecedores, que poderiam parecer ávidos em vender novos equipamentos, a reação foi menos adjetivada, mas igualmente incisiva. O executivo da área de telefonia celular da Siemens, Humberto Cagno, diz: "As operadoras brasileiras fizeram enormes investimentos muito recentemente. Instalaram 15 mil sites, que custam US$ 100 mil cada, nos últimos dois anos. A Anatel tentou leiloar uma licença para São Paulo e não apareceu comprador. Para lançar o 3G precisaríamos ter certeza de que vamos atrair investimentos." O presidente da Nokia, Fernando Terni, também avalia que ainda é cedo. "As operadoras que acabaram de fazer investimentos pesados estão na fase de ter retorno. Quando se olha o 3G no mundo, vê-se que ele ainda é caro e a demanda maior no Brasil é por serviços de voz", diz. Há vários pontos a definir em torno da licitação da terceira geração de telefonia celular no Brasil. Um deles será o preço mínimo de cada licença. Valente, da Anatel, diz que o preço ainda não foi definido. O cálculo levará em conta o plano de negócios e fluxo de caixa descontado. Mas a grande alteração que a Anatel prevê, diferentemente das outras licitações de freqüências para operação de telefonia celular, é que a parte técnica das propostas terá mais peso que o valor a ser pago pela licença. Quem oferecer a melhor, leva a licença e terá que apresentar um prazo para a implantação do serviço. O órgão garante que o preço mínimo não será nem parecido com o das licitações da Europa. O momento é outro. E, de acordo com Valente, ainda vai ser discutido se as licenças - todas de âmbito nacional - serão oferecidas apenas para as empresas que atuam no país ou serão abertas para novos investidores. Na Europa, os terminais mais baratos de 3G custam US$ 500. A grande diferença do serviço GSM utilizado lá é que a nova tecnologia permite a transmissão de vídeos. Há três anos as operadoras européias pagaram quase 100 bilhões de euros por licença de 3G e agora estão dando os primeiros passos na tecnologia. Fecharam 2003 com 2,68 milhões de assinantes e 2004 com 16,2 milhões, enquanto o universo de adeptos do telefone móvel na região em dezembro era de 559 milhões.