Título: Uso de florestas para corte de emissões divide países
Autor:
Fonte: Valor Econômico, 08/12/2008, Especial, p. A12

O assunto mais comentado da conferência do clima em Poznan atende por uma sigla REDD. A Redução de Emissões por Desmatamento e Degradação é tema constante tanto nas negociações oficiais como nos eventos paralelos. Como proteger as florestas é a vertente que mais avançou nos últimos meses no debate internacional sobre mudanças climáticas.

A idéia dos países ricos e mais emissores é que é mais fácil e mais barato evitar o desmatamento nas nações com florestas do que mudar o padrão energético, de transporte e consumo em seu próprio território. O desmatamento responde por 15% a 20% das emissões globais de gases-estufa.

Esse argumento incomoda os países florestais. "Não podemos deixar que os que não conseguem cortar suas emissões em casa façam um acordo barato", diz a indiana Sunita Narain, diretora do Centro para Ciência e Ambiente de Nova Déli. "As florestas não podem ser uma opção barata", reforça. É a mesma opinião brasileira.

Segundo Luiz Alberto Figueiredo Machado, chefe dos negociadores do Brasil, as florestas não podem ser negociadas dentro do mercado de créditos de carbono. Ou seja, descobrir quanto se deixou de lançar de gases-estufa na atmosfera ao evitar o desmatamento não deveria ser transformado em créditos de carbono.

Há várias razões para isso, acredita. O preço do carbono pode despencar, considerando-se o incrível estoque que existe nas florestas e inviabilizar o chamado MDL, Mecanismo de Desenvolvimento Limpo, pelo qual países que têm que reduzir suas emissões pelo Protocolo de Kyoto podem investir em projetos de tecnologias limpas em países em desenvolvimento.

Outro motivo é que não há como garantir, no longo prazo, que aquela floresta, com a qual alguma nação rica obteve crédito (e, com isso, licença para emitir), continue de pé no futuro. Corre-se então o risco de uma dupla emissão.

O Fundo Amazônia, lançado pelo Brasil, é uma tentativa de materializar o REDD dentro da Convenção do Clima, mas fora do Protocolo de Kyoto. Ou seja: os países ricos podem doar dinheiro para que o Brasil evite o desmatamento, mas não contabilizam créditos de carbono com isso. Eles evitam o agravamento do aquecimento global ajudando na proteção das florestas, mas continuam tendo que reduzir as emissões de suas fábricas e carros em casa. A idéia brasileira é não permitir que a proteção das florestas seja uma licença para que os países ricos possam emitir.

Se no Brasil a discussão de REDD passa por reduzir o desmatamento, na Índia, onde não há desmate, a idéia é que o novo acordo ajude na conservação das florestas. Em outros países, como Indonésia ou Gana, o interesse é recuperar áreas degradadas, o segundo D da sigla.

Como estabelecer uma metodologia que conte qual o estoque de carbono de uma floresta é um dos assuntos em pauta nas discussões técnicas oficiais da conferência. Outro é quanto isso pode custar. Estudo lançado em Poznam pelo Cifor (Center for International Forestry Research) diz que os custos podem variar de US$ 7 bilhões a US$ 28 bilhões por ano para reduzir o desmatamento pela metade. Mesmo estimativas mais elevadas são mais baratas que o custo de reduzir emissões em países ricos.

REDD é a vedete dos eventos paralelos. O Banco Mundial está adiantado no processo e apresentou em Poznan projetos-piloto de REDD em nove países. (DC)