Título: Integridade de dados preocupa consumidor
Autor:
Fonte: Valor Econômico, 08/12/2008, Empresas, p. B2

Ficou famoso o caso da rede varejista TJX, ocorrido em março do ano passado, quando descobriu-se que um grupo de piratas de computador havia invadido o banco de dados da empresa americana e copiado informações de nada menos que 45 milhões de pessoas. Os criminosos roubaram 80 gigabytes de dados, uma extensa lista recheada de senhas pessoais e números de cartão de crédito e de débito. Marisa Cauduro / Valor

Edson Gissoni, da Unisys: web inspira mais cuidados até do que segurança física

Escândalos como o vivido pela TJX chamam a atenção das empresas para um risco que, em períodos como o fim de ano, atinge seu nível mais agudo, principalmente para companhias de comércio eletrônico ou que dependem de transações bancárias via internet. "Nesses últimos dias do ano, as equipes de tecnologia ficam em alerta máximo, monitorando tudo em tempo real", diz Frank Meylan, sócio da divisão de risco em tecnologia da KPMG no Brasil. "O objetivo é reagir a qualquer comportamento do usuário que esteja fora do padrão."

A contar pelo grau de preocupação do consumidor brasileiro em relação à sua exposição em transações eletrônicas, fica claro que as equipes de tecnologia, de fato, terão de suar a camisa para garantir que o meio digital é o mais prático - e o mais seguro - para acessar uma conta bancária ou comprar um presente.

Uma pesquisa da Lieberman Research Group, encomendada pela Unisys, avaliou a percepção de 12,3 mil pessoas, de 13 países, sobre diversos aspectos de segurança, entre eles a segurança das transações eletrônicas e a circulação de dados confidenciais pela rede. O estudo mostra que o consumidor brasileiro - ao lado dos habitantes de Hong Kong e da Alemanha - é um dos mais preocupados com a segurança de seus dados pessoais. É um grande contraste com os moradores da França, Itália e Holanda, onde o medo de ter dados pessoais roubados ou ser vítima de fraude pela internet é pouco relevante.

"Dos 13 países que analisamos, dez deles citaram o roubo de dados pessoais como seu maior receio", diz Edson Gissoni, diretor de planejamento estratégico da Unisys para a América Latina. "Curiosamente, a preocupação das pessoas em ter seus dados confidenciais expostos de maneira ilegal chega a ser maior até que a preocupação com segurança física, inclusive no Brasil."

Os estragos mundiais causados pelo roubo de informações sigilosas foram contabilizados pela KPMG em seu barômetro de perda de dados. Segundo o documento, entre janeiro de 2005 e junho de 2008, ocorreram 1.034 incidentes envolvendo perda de dados. Vale destacar que tratam-se apenas de incidentes que vieram a público. Pelas contas da KPMG, 280 milhões de pessoas tiveram suas informações pessoais acessadas irregularmente. De 2007 para cá, mais de 60 milhões de pessoas foram vítimas de golpes de hackers. Nesse mesmo período, detalhes financeiros de 139 milhões de pessoas foram divulgados indevidamente.

"A preocupação das pessoas com segurança é uma conseqüência natural do que temos assistido", diz Frank Meylan, da KPMG. "As fraudes, principalmente as da internet, deixaram de ser feitas por adolescentes. Existem quadrilhas especializadas, com gente profissional, só para executar crimes."

A despeito da preocupação elevada com os riscos que fustigam o meio eletrônico, o consumidor brasileiro promete mais um ano de recordes em transações realizadas pela rede. A E-bit, que mede os gastos com varejo na internet, estima que as vendas natalinas - compreendidas entre 15 de novembro e 24 de dezembro - vão movimentar aproximadamente R$ 1,35 bilhão, o que representa um aumento de 25% sobre os R$ 1,08 bilhão do mesmo período de 2007.

O comércio paralelo de dados confidenciais também segue forte. No mês passado, na região da Santa Ifigênia, no centro de São Paulo, policiais apreenderam mais uma vez centenas de CDs com dados de contribuintes da Receita Federal.