Título: ABN AMRO centra foco em renda fixa
Autor: Cristiane Perini Lucchesi
Fonte: Valor Econômico, 28/02/2005, CAPTAÇÕES EXTERNAS, p. Fs

O ABN AMRO Real vem investindo com força há dois anos na área de mercado de capitais com o objetivo de ser o primeiro em operações de renda fixa do Brasil, no mercado interno e externo, disse José Berenguer, vice-presidente executivo do banco. Esses esforços já trouxeram resultados: pela primeira vez, a instituição financeira ficou entre os três primeiros colocados no "Ranking Valor de Captações Externas", com um total de US$ 2,342 bilhões em operações realizadas no mercado externo em 2004. O banco ganhou também a primeira colocação em dois rankings de primeira importância. Um deles foi o de total de captações corporativas, que inclui todas as operações excluindo apenas as da República. "Agora temos condições plenas de prover liquidez ao mercado secundário de todos os tipos de títulos", disse Berenguer. "Neste ano esperamos continuar liderando grandes operações externas, inclusive da República." No concorrido mercado de empréstimos sindicalizados, o ABN AMRO liderou US$ 1,940 bilhão em operações, ficando em primeiro lugar no ranking que exclui os títulos emitidos no mercado externo. No total, foram tomados US$ 5,951 bilhões em empréstimos em 2004, mais do que o dobro do que os US$ 2,849 bilhões do ano anterior. "Queremos ser os primeiros não apenas nos rankings, que são importantes, sem dúvida, mas principalmente em qualidade", faz questão de frisar Berenguer. Os investimentos do ABN AMRO Real na área de renda fixa englobam a mesa local de distribuição de títulos, a de Nova York e a de Londres. Foram contratados mais analistas, pessoal para a área de distribuição e venda de títulos, e também funcionários que fazem estruturação e originação das operações. O banco reforçou também seu papel de "market maker", que dá preço para a venda e compra de papéis no mercado secundário, garantindo a liquidez para os títulos vendidos. "Temos comprometimento com o Brasil e mostramos isso em 2002, quando outros bancos estrangeiros deixaram o país", disse Berenguer. Ele acredita que hoje os investidores internacionais estão especialmente confortáveis com o país e que todos os mercados estão abertos. "Como podemos oferecer todo um leque de opções para nossos clientes, de empréstimos a bônus, e temos presença forte no mercado interno e externo, apresentamos vantagens competitivas em relação aos demais bancos, que têm presença mais forte em um determinado mercado ou nicho", avalia. O ABN AMRO foi um dos líderes da maior operação de empréstimo do ano: a renegociação de empréstimo da Telemar Holding, de US$ 814 milhões. Também esteve à frente de operações de pré-pagamentos à exportação de empresas médias, como a Frangosul e o Frigorífico Minerva, e grandes, como a Votorantim Celulose e Papel, de US$ 350 milhões. Liderou o empréstimo stand-by (contingente) de US$ 400 milhões para a Vale do Rio Doce, mas também esteve à frente de estruturas como empréstimos guarda-chuva para a Comgás, empréstimos com a participação de agências de crédito à exportação para a Gerdau Açominas, eurobônus para o Grupo Votorantim, de US$ 300 milhões, e uma securitização de fluxos financeiros para o Bradesco, no total de US$ 100 milhões. "Não é raro acontecer situações nas quais nós discordamos dos nossos clientes", afirma Berenguer. "Acabamos funcionando muitas vezes como um conselheiro para a empresa", disse Cristiane do Valle, vice-presidente sênior. As operações no mercado interno feitas pelo ABN, comenta Berenguer, são realmente colocadas junto aos investidores de forma pulverizada. "À medida que o mercado interno vai amadurecendo e evoluindo, cultivar uma base real de investidores vai se tornando cada vez mais importante para as empresas", diz Cristiane do Valle. "É só isso que pode assegurar o contínuo acesso das empresas a esse mercado", completa. Segundo ela, as empresas com receitas em reais vão acabar preferindo realizar captações em reais, no mercado interno, que está cada vez mais alongando prazos. O mercado externo vai ficar cada vez mais restrito aos exportadores, que conseguem prazos e preços melhores e possuem nas exportações um hedge (proteção financeira) mais natural. O mercado deste ano vai repetir a liquidez forte do ano passado, consideram. Vão continuar sobrando recursos para as melhores empresas brasileiras. Operações de crédito stand-by podem se repetir. Por meio dessa operação, a empresa pode sacar os recursos se e quanto quiser por um determinado período, como um cheque especial. "É uma maneira de se aproveitar da liquidez extrema e negociar uma condição futura favorável", comenta Berenguer. Ele acha que as operações de empréstimos externos vão continuar lastreadas às exportações, visto que os empréstimos para capital de giro vão se tornar pouco competitivos em relação aos bônus. Uma "certa tensão" por causa dos juros americanos e da expectativa se eles vão subir mais ou menos do que o implícito na curva de juros futuros vai continuar a existir durante todo o ano, acredita, mas não a ponto de atrapalhar as captações brasileiras. Os prazos de vencimento dos eurobônus corporativos vão continuar a se ampliar, acredita ele, indo para mais de 20 ou 30 anos. "A liquidez que vem ao país tem relação com a consistência da política econômica adotada pelo governo Lula", disse Berenguer. Ele elogiou a manutenção do superávit primário, de uma conta corrente superavitária e de uma taxa de inflação sob controle. "O governo só gasta o que pode gastar e esses conceitos hoje estão difundidos por todos os partidos no país", disse ele. Para Berenguer, a democracia brasileira passou por um processo de amadurecimento. "O investidor externo vê que hoje não há mais espaço para irresponsabilidades ou aventuras", continua. O ABN AMRO Real realizou como emissor captações denominadas em reais em 2004 do equivalente a US$ 55 milhões. Liderou o primeiro bônus em real indexado ao IGP-M, operação feita pelo Banco Interamericano de Desenvolvimento. Cristiane do Vale acredita que esse mercado externo de títulos em reais vai crescer em 2005. "E nós estamos preparados para liderá-lo", diz. O ABN AMRO liderou as emissões denominadas em peso da Colômbia e do Uruguai, conta a executiva.