Título: Votorantim alonga prazo e reduz custo de sua dívida
Autor: Cristiane Perini Lucchesi
Fonte: Valor Econômico, 28/02/2005, CAPTAÇÕES EXTERNAS, p. Fs

Tivemos um ano muito ativo. Uma janela de oportunidade única, que eu não vejo há anos." Com essas frases o diretor financeiro da Votorantim Industrial, Luis Felipe Schiriak, explica as razões pelas quais a empresa foi a número um entre os tomadores de recursos externos brasileiros em 2004, segundo o ranking do Valor. Pela primeira vez desde que o estudo comparativo foi criado, a gigante Petrobras não fica em primeiro lugar. No total, o Grupo Votorantim captou US$ 1,749 bilhão em empréstimos sindicalizados e títulos. Só a Votorantim Industrial obteve US$ 1,399 bilhão, 16,6% a mais do que o segundo colocado, Companhia Vale do Rio Doce, com US$ 1,2 bilhão. Os outros US$ 350 milhões foram obtidos pelo Banco Votorantim, que teve o papel importante de inaugurar o mercado de eurobônus em reais no ano passado. A "janela de oportunidade única" foi usada pela Votorantim Industrial - inclui as empresas não-financeiras do grupo e exclui a Votorantim Novos Negócios - para alongamento do prazo de vencimento da dívida, segundo explicou Schiriak. No início de 2004, 65% da dívida bruta total da empresa, de R$ 12 bilhões, vencia em 24 meses. Foi a conseqüência dos difíceis anos de aperto da liquidez de 2002 e início de 2003. "Na época, a nossa dívida consumia boa parte de nosso fluxo de caixa", comenta. Aproveitando o apetite por risco-Brasil de investidores e bancos, a Votorantim Industrial refinanciou até mesmo a parcela da dívida que não estava vencendo. O resultado foi que em janeiro deste ano a parcela da dívida que vencia em 24 meses era de 42% - 15% correspondente a um eurobônus de US$ 400 milhões de vencimento em junho que já está sendo rolado agora. Em compensação, a dívida que vencia depois de 2009 passou de 12% em janeiro de 2004 para 40% em janeiro deste ano, segundo informou. "Foi uma verdadeira revolução", afirma Schiriak. Após a rolagem do eurobônus de US$ 400 milhões, a tarefa de alongamento do prazo de vencimento da dívida estará finalizada, pelo menos neste ano, acredita o executivo. Mas Schiriak não descarta realizar mais captações externas, por meio de empréstimos e bônus, dependendo do ritmo de aquisições internacionais que o Grupo Votorantim Industrial for implementar. Considerando-se empréstimos bilaterais, a Votorantim Industrial captou mais de US$ 2 bilhões em 2004, segundo informou. Neste ano, não estão descartados valores ainda maiores. No ano passado, a empresa deixou o mercado boquiaberto não apenas pelos volumes captados, mas também pelas baixas taxas de juros conquistadas para prazos cada vez mais longos, principalmente nos empréstimos à exportação. Um dos empréstimos mais comentados foi um pré-pagamento à exportação de vencimento em sete anos fechado em maio, sob a liderança do ABN AMRO e do Santander, de US$ 350 milhões, pagando juros de apenas 2% ao ano sobre a Libor, taxa interbancária de Londres. Em dezembro, um pré-pagamento de US$ 260 milhões em duas parcelas, de vencimento em cinco e sete anos, liderado pelo WestLB, pagou taxa de 1,51% na média, pelo prazo de cinco a sete anos de vencimento. Como política interna de prudência e cautela, segundo explicou Schiriak, a Votorantim Industrial não compromete mais de que 50% de suas exportações com operações de pré-pagamento. "Temos uma certa restrição interna", definiu.

"Queremos garantir que nós vamos sempre gerar volume suficiente de exportação para honrar nossos compromissos"

Para este ano, as exportações previstas são de US$ 1,2 bilhão e US$ 550 milhões já estão comprometidos, explicou Schiriak. "O espaço existe de 2007 para frente", afirma. De acordo com ele, a restrição existe, pois é impossível prever os preços futuros das commodities e não há liquidez no mercado de hedge (proteção financeira) para prazos mais longos, principalmente no caso do níquel e do zinco. "Queremos garantir que nós vamos sempre gerar volume suficiente de exportação para honrar nossos compromissos", diz. "Não vamos alavancar a companhia alegremente", conta. Como um administrador de fundos, Schiriak criou uma matriz no qual relaciona o risco e retorno de cada um dos ativos de sua carteira - os produtos que a Votorantim Industrial vende. Alguns produtos, como papel e celulose, têm taxas de retorno baixas, mas pequena volatilidade nos preços. Outros, como o níquel, têm volatilidade de preços e retorno elevados. Como o gigante industrial produz uma ampla gama de produtos, muitos deles com "correlação negativa" (via de regra, quando o preço de um sobe, o do outro cai), a empresa se beneficia do "efeito diversificação", explica Schiriak. A volatilidade medida por essa matriz, que seria de 9,3%, cai para 3,8% por causa da diversificação. A idéia, diz, é manter a volatilidade da empresa em torno dos 3,8%. A diretoria financeira se utiliza, também de um hexaedro com seis indicadores financeiros em cada uma das pontas, elaborado pelas agências de classificação de risco de crédito internacionais para definir o grau de solvência de uma empresa. A Votorantim Industrial procura ficar sempre dentro do círculo das empresas de melhor nota possível, que ganham "AAA" nos Estados Unidos. "Mas, apesar disso, nossa nota em moeda nacional é 'A'", comenta Schiriak. Também como forma de fazer subir sua nota de crédito em moeda estrangeira, a Votorantim Industrial busca internacionalizar a porcentagem de sua receita em moeda forte, que hoje é de 25%, para mais de 50%. Em 2004, fez aquisições de empresas no valor de R$ 4,2 bilhões. Hoje, a empresa tem o que Schiriak definiu como um colchão de liquidez de R$ 9 bilhões, que é o seu caixa total bruto. "Fazemos uma administração financeira dinâmica", explica o executivo. "Nossa Tesouraria muda de posição quase todo o dia", diz, de acordo com o tripé segurança, liquidez e rentabilidade, nessa ordem, relata. Com os juros no mercado interno em reais altos, a Tesouraria da Votorantim ficou mais conservadora, comprando principalmente títulos públicos que já garantem um bom rendimento, segundo Schiriak. Conforme comentou, o investimento do caixa no mercado interno tem retorno mais atrativo do que no mercado externo, considerando-se os juros em reais de 18,75% ao ano. "Se aplicar meu caixa no exterior, recebo 2% ao ano", compara. Da dívida total de R$ 12 bilhões, apenas R$ 1,3 bilhão é em reais, de acordo com Schiriak. O resto é dólar. As exportações são um "hedge" (proteção) natural contra as oscilações do câmbio. O problema, disse, é que o impacto financeiro de uma desvalorização forte do real na dívida é imediato, enquanto que o aumento da receita com exportações é diluído ao longo do tempo. Por isso, a empresa está sempre avaliando quantos meses de exportação são necessários para pagar a dívida, explicou Schiriak. "Avaliamos nossa exposição ao dólar vis a vis nosso fluxo. O importante é saber, no caso de uma desvalorização, quantos meses serão necessários para recuperar as perdas financeiras via ganhos com exportação", explica. O ajuste no hedge é feito semanalmente, se não diariamente.