Título: Banco prepara abertura de corretora em NY
Autor: Cristiane Perini Lucchesi
Fonte: Valor Econômico, 28/02/2005, CAPTAÇÕES EXTERNAS, p. Fs

O Banco Votorantim quer reforçar sua atuação na área internacional e por isso está em processo de abertura de um escritório de representação e de uma a corretora em Nova York, segundo informa o tesoureiro do banco Pedro Mollo. De acordo com Mollo, o objetivo é realizar negócios com títulos da dívida externa e também papéis de renda variável de empresas, governo e bancos brasileiros no mercado primário e secundário. O banco, que no ano passado captou US$ 350 milhões e foi o primeiro a lançar eurobônus denominados em reais, já pediu autorização da SEC (Securities and Exchange Comission), o xerife do mercado financeiro norte-americano, para a abertura da corretora. "As operações em reais no exterior são a última moda", afirma Mollo, que vê demanda crescente por esses papéis por um prazo cada vez mais longo. Ele acredita que o governo federal deveria estimular as empresas não-financeiras a buscar recursos no exterior em reais reduzindo o custo fiscal de trazer os recursos para dentro do país. Hoje, quando o dinheiro sai para o pagamento do eurobônus, há o Imposto de Renda de 15% sobre os juros remetidos que o investidor externo tem de pagar, mas que acabam saindo do bolso do emissor. Sobre juros altos como o das emissões em reais, o imposto passa de 2,5% ao ano do valor total da operação. Por isso, só os bancos com subsidiária externa têm emitido e deixado o dinheiro no exterior para evitar o impacto fiscal. Pedro Mollo acredita que as empresas não-financeiras com subsidiária no exterior vão captar em reais, mas só se pretenderem deixar os recursos no exterior. "O Brasil está abrindo mão de financiamento de longo prazo em grande volume e com taxas de juros prefixadas, que poderia ajudar no seu desenvolvimento econômico e no fortalecimento do mercado interno de capitais", afirma o tesoureiro. Em entrevista ao Valor, o secretário do Tesouro Nacional, Joaquim Levy, chegou a afirmar em agosto de 2004 que "se a tributação é um problema, a gente resolve". Segundo ele, a criação desse mecanismo de emissões no exterior indexadas ao real foi discutido durante um ano com o Banco Mundial, com o Banco Interamericano de Desenvolvimento e com vários bancos, conta o secretário. E nele o governo tem grandes expectativas como fonte de financiamento a projetos de infra-estrutura, disse Levy. Até agora, no entanto, nada mudou nessa tributação. Mollo considera que os bancos nacionais terão condições de atuar com destaque nesse mercado de lançamento de títulos em reais, pois são eles os que mais conhecem esse mercado, têm a expertise. "A liquidez maior está hoje nos prazos de três a cinco anos", diz Pedro Mollo. O tesoureiro do Banco Votorantim não vê nenhum temor do investidor externo com relação às eleições de 2006 no país, como fica demonstrado por essa vontade de alongamento de prazos dos títulos. Ele acredita que as emissões em reais vão ficar restritas aos maiores bancos e empresas de baixíssimo risco de crédito no país. "O investidor que compra esses papéis está interessado nas taxas de juros em reais e no risco da moeda. Não quer risco de crédito", afirmou ele. Mollo acredita que aparecerão operações externas em reais não apenas prefixadas, mas com indexadores como o DI (Depósito Interfinanceiro), IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo) e IGP-M (Índice Geral de Preços de Mercado). (CPL)