Título: Itaú BBA é o primeiro em debêntures e CPs
Autor: Cristiane Perini Lucchesi
Fonte: Valor Econômico, 28/02/2005, CAPTAÇÕES EXTERNAS, p. Fs

O Banco Itaú BBA liderou a originação e distribuição de emissões de debêntures em 2004, em uma disputa apertada com o Bradesco. A surpresa foi o Banco Votorantim, que passou à frente de instituições tradicionais no mercado de emissões primárias de debêntures como o Banco do Brasil (BB), Unibanco e Citibank, e pegou a terceira colocação em originação e distribuição, tanto em número de operações como em volume financeiro. O ranking, inédito, foi produzido pelo Valor com base em dados da Associação Nacional dos Bancos de Investimento (Anbid ). Anualmente, a Anbid elabora o ranking de renda fixa, uma consolidação do posicionamento dos bancos em emissões dos ativos debêntures, Certificados de Recebíveis Imobiliários (CRI) e "commercial papers" (ou CP), expressão em inglês para notas promissórias, um instrumento de mercado de capitais, com regulamentação específica da Comissão de Valores Mobiliários (CVM). Tipicamente de curto prazo, as CPs são destinadas à rolagem de dívidas. O Valor publica agora, pela primeira vez, o ranking da Anbid detalhado por ativos. O Itaú BBA, banco de investimentos controlado pelo segundo maior grupo de varejo bancário privado do país, realizou R$ 1,854 bilhão como originador de emissões de debêntures, ao mesmo tempo em que distribuiu R$ 1,797 bilhão, respondendo por 19,6% e 18,96% das emissões totais, respectivamente. Em número de operações originadas, Itaú BBA e Bradesco dividiram o primeiro lugar, com 15 operações realizadas, respectivamente. O Bradesco foi o coordenador de 15 operações no valor total de R$ 1,812 bilhão. Na distribuição de títulos junto aos investidores, o Bradesco respondeu por R$ 1,727 bilhão. O Banco Votorantim dividiu com o Banco do Brasil (BB) o segundo posto em número de emissões de debêntures (dez cada um), mas superou em R$ 20,5 milhões o volume financeiro de emissões coordenadas, com R$ 958,8 milhões contra R$ 938,3 milhões da instituição estatal. Na distribuição, o banco do grupo Votorantim superou o BB também por estreita margem, apenas R$ 26,41 milhões, respondendo por R$ 985,16 milhões em debêntures distribuídas contra R$ 958,75 milhões do BB. O mercado de capitais em renda fixa experimentou um crescimento expressivo em 2004, tanto quantitativo quanto qualitativo. O volume total de emissões de debêntures, superior a R$ 9,6 bilhões, foi 82% maior que em 2003. Um balanço divulgado no final de janeiro pela Anbid mostrou que em 2004, as captações das empresas no mercado doméstico (em ações e renda fixa) atingiram R$ 21,5 bilhões, o dobro de 2003. Segundo a Anbid, o setor de tecnologia da informação (TI) e telecomunicações foi o que mais captou (19,74% do total de recursos captados), seguido por energia elétrica (15,44%) e o setor químico e petroquímico (13,63%). Fernando Iunes, diretor do Itaú BBA, relata que, apesar das altas taxas de juros, o cenário foi ficando mais claro ao longo do exercício e o segundo semestre esteve bastante aquecido. "Do lado dos investidores, houve mais conforto com o mercado de capitais e um melhor entendimento da situação de crédito e do mercado", define o executivo. O perfil das operações foi marcado pela reorganização de passivos e rolagem de dívidas, analisa Denise Pavarina de Moura, diretora de mercado de capitais do Bradesco. O "clima" propício na economia levou a um desfecho bem sucedido algumas destas operações, com destaque para a rolagem da dívida dos grupos Braskem, de petroquímicos e da companhia de papel e celulose Suzano, das quais os três bancos líderes no ranking participaram. Para Fernando Iunes, do Itaú BBA, a emissão de debêntures da Suzano foi um grande desafio: operação "clean", ou seja, sem garantias ou seguros adicionais de risco, no valor equivalente a US$ 110 milhões, de uma empresa privada, para vencimento em dez anos. A remuneração era equivalente à variação do IGP-M mais 10% ao ano e contou, pela primeira vez, com um esforço de venda a varejo (perto de 20% da emissão foi ofertada a pessoas físicas). A revista inglesa "The Banker", em sua última edição (de fevereiro) classificou a emissão de debêntures da Suzano como "Deal of the Year". A emissão da Braskem também ajudou a pavimentar o mercado, atraindo o interesse dos investidores. A empresa captou R$ 1,2 bilhão em janeiro e poucos meses depois resgatou os papéis, mostrando uma surpreendente recuperação de suas contas. "A Braskem foi uma operação extremamente complexa e importante para a empresa e para os bancos porque começou como um empréstimo, mas a companhia melhorou tanto que virou um papel de mercado", relata Denise Moura. Entre as grandes emissões, outra que comprovou a melhoria qualitativa do mercado foi a da Telesp. A empresa de telecomunicações captou R$ 1,5 bilhão - uma das maiores emissões de debêntures já realizadas no mercado brasileiro - com um "spread" (margem) de 103,5%, "muito próximo do 'spread´ da República (de características semelhantes em prazo e indexador)", afirma Fernando Iunes. "Tudo está relacionado à liquidez do mercado", diz Emilio Otranto, diretor do Banco Votorantim. Depois de dois anos ruins (2002 e 2003), com queda da atividade econômica, incertezas causadas pelo ano eleitoral e um primeiro ano de novo governo mais voltado à "arrumação da casa", os investidores se retraíram e as empresas estavam sem capital e com muitas dívidas. "Tivemos o ´feeling´ de identificar essa necessidade (de refinanciamento de dívidas), víamos vários passivos vencendo e sem caber no fluxo de caixa. Decidimos então alongar a captação de empresas selecionadas e tomar ativos para o banco", relata Otranto. Das dez operações coordenadas pelo Votorantim, sete receberam garantia firme (quando o coordenador da operação se compromete a comprar os papéis da empresa caso não haja compradores para toda a emissão) e três foram distribuídas em consórcio com outras instituições, um movimento com declarado objetivo de levar o banco para o topo do ranking, afirmou Otranto: "Nossa estratégia é estar no mínimo entre os três primeiros daqui para frente". Para 2005, acredita Denise Moura, a expectativa é de continuidade do crescimento dos volumes e número de emissões, "com foco maior talvez no financiamento de investimentos e novos projetos". Nem a alta das taxas de juros básica (a Selic), promovida pelo Banco Central desde junho, chega a desanimar esses executivos. "Evidente que ninguém está muito feliz com a atual taxa de juros, mas não se imagina que essa subida temporária vai prejudicar o programa de captação das empresas", diz Fernando Iunes, do Itaú BBA. Em compensação à Selic em alta, "o ´spread´ dos títulos públicos vem caindo, o que obriga aqueles investidores que têm ´benchmark´ em Selic e DI a buscar títulos privados para manter a rentabilidade de seus portfólios", aposta Emilio Otranto, do Votorantim.