Título: Europeus lideram ranking em euros
Autor: Cristiane Perini Lucchesi
Fonte: Valor Econômico, 28/02/2005, CAPTAÇÕES EXTERNAS, p. Fs

A primeira posição no ranking que acompanha o segmento de captações em outras moedas -euros, ienes e reais- foi dividida neste ano pelo Dresdner Kleinwort Wasserstein e o UBS, que foram líderes em operações que somaram US$ 1,221 bilhão. A posição das duas instituições financeiras, no caso específico das operações em euros, deveu-se à emissão feita pela República brasileira, em setembro de 2004, no valor de 1 bilhão de euros. O mercado de ienes continua fechado. Nessa operação, dizem executivos dos bancos, o número total de investidores interessados -entre fundos de pensão, seguradoras e hedge funds (menos avessos ao risco) - chegou a 275 e a demanda foi superior a 3 bilhões de euros. "Além dessa emissão, o Dresdner envolveu-se em um número bastante significativo de emissões de bônus para outros tomadores da região também, incluindo Pemex, República da Venezuela e Unibanco", afirma Enrique Bustamante, diretor gerente de mercado de capitais do Dresdner para a América Latina. O executivo do Dresdner considera que o mais importante foi a República brasileira ter conseguido com essa captação ampliar o leque de fontes de financiamento, aumentando assim a concorrência e, por extensão, permitindo a redução do custo e a ampliação dos prazos de vencimento de sua dívida. No caso dos empréstimos em euros para as empresas brasileiras, de acordo com Bustamante, apenas aquelas que encontraram boas oportunidades decidiram aventurar-se no mercado, já que liquidez em dólar e mesmo no mercado doméstico conseguiu, de modo geral, suprir suas necessidades de caixa. "Mas continuamos a ver o interesse crescente de investidores internacionais em ativos de mercados emergentes, de modo geral, e, em particular, brasileiros, quando procuram maior rentabilidade", considera. Uma nova rodada de emissões em euros poderá ocorrer, dizem executivos que atuam na linha de frente de alguns bancos internacionais, a partir de novos projetos de investimentos de ampliação de fábricas ou mesmo início de novos projetos industriais, incluindo aí investimentos que poderão surgir do programa federal de parcerias com a iniciativa privada. Quando esses projetos começarem a sair do papel, dizem os executivos, os bancos deverão estar prontos para captar financiamentos de importação de máquinas e equipamentos, muitas vezes em operações conjuntas com agências de fomento às exportações européias, americanas ou asiáticas. As perspectivas do mercado de capitais para este ano são boas, dizem os especialistas. E as duas emissões realizadas pela República, uma em euro e outra em dólar, demonstram que o governo decidiu acelerar seu cronograma, avalia Bustamante, do Dresdner. "O Brasil já deu início com muito sucesso à sua estratégia financeira de 2005. Depois de abrir o ano com uma emissão emissão em euro, seguida de uma emissão em dólar com prazo de 20 anos, nós acreditamos que eles tentarão finalizar seu programa de financiamento o mais rápido possível." As perspectivas positivas para a economia brasileira neste ano também animam os investidores internacionais, de acordo com o executivo do Dresdner. A maior preocupação fica por conta do ritmo dos preços no mercado doméstico e também a eventuais dificuldades na articulação política necessária para tocar as reformas. "Os investidores demonstram acreditar na continuidade do crescimento, mas com um olho nos riscos que podem afetar essa performance, incluindo inflação, a valorização do real e turbulências políticas. Entretanto, eles compartilham nossa visão otimista do Brasil", diz Bustamante. A liquidez favorável de 2004, que deverá manter-se durante este ano já que as taxas de juros internacionais continuam em níveis historicamente muito baixos, permitirá que as empresas, bancos e República brasileiros encontrem recursos internacionais sem grandes dificuldades, consideram os especialistas na área. Com isso, o mercado poderá assistir a algumas operações de porte sem relação direta com exportações, que continuarão, como sempre, dominando a maior parcela dos empréstimos externos, acreditam eles. As emissões em euros deverão continuar com força em 2005, diz um executivo que atua nesse nicho. "A emissão da República foi positiva também porque havia uma percepção de que o mercado europeu era muito mais lento do que o americano, e o resultado dessa captação demonstrou que isso não é verdade", considera o executivo.