Título: Brasil retorna à lista de prioridades do Citigroup
Autor: Cristiane Perini Lucchesi
Fonte: Valor Econômico, 28/02/2005, CAPTAÇÕES EXTERNAS, p. Fs

"O Brasil recuperou a importância relativa que tinha antes no Citigroup". Essa é uma das razões para o banco voltar à primeira posição no ranking Valor de Captações Externas de 2004, segundo afirmou Marcio Guedes, diretor do Banco de Investimento do Citigroup. O maior banco do mundo em ativos e valor de mercado foi também o primeiro colocado no ranking do Valor de 2001, teve posição de destaque nos demais anos, mas só agora voltou a ser o número um entre as instituições que mais lideraram operações de captação de recursos externos por meio de bônus e de empréstimos sindicalizados (com a participação de mais de um banco) para empresas, bancos e governo federal brasileiro.

No total, o Citigroup liderou nada menos do que US$ 4,111 bilhão em operações de captação externa no ano passado, 40% a mais do que os US$ 2,95 bilhões liderados em 2003. O Citigroup também foi o primeiro colocado no ranking de líderes na emissão de bônus, que exclui os empréstimos, com US$ 3,262 bilhões em operações realizadas. O banco liderou 25% do total de US$ 13,134 bilhões de bônus emitidos pelo Brasil em 2004, uma queda de 45,3% na comparação com os US$ 23,998 bilhões em 2003. O banco liderou US$ 2,5 bilhões em duas operações da República. Mas também teve posição de destaque entre as empresas do setor privado. Esteve à frente de um eurobônus da Brasil Telecom, de US$ 200 milhões, e de dois eurobônus da Companhia Siderúrgica Nacional, de US$ 400 milhões. Liderou ainda uma operação de securitização de recebíveis de exportação da CSN (títulos lastreados nos recursos a receber com vendas externas), de US$ 161,95 milhões. Com isso, o Citigroup foi o primeiro colocado em outro ranking, de líderes em bônus corporativos privados não-financeiros.

O banco foi um dos que coordenou toda a renegociação do empréstimo de US$ 814 milhões da Telemar, uma das principais operações de empréstimos sindicalizados no ano passado. "O Brasil teve posição de destaque no mercado internacional em 2004", disse Guedes. "A grande dificuldade para os bancos no ano passado foi que quase ninguém queria tomar financiamento em dólar", diz. As grandes empresas, com o excesso de liquidez, preferiram quitar dívidas externas, afirmou. Como o custo do hedge - proteção financeira - ficou alto demais, foram principalmente os exportadores, que têm hedge natural nas exportações, que preferiram tomar dinheiro no exterior. As empresas com receitas em reais, para não ter descasamento entre ativos e passivos e não ter de arcar com os custos do hedge, preferiram acessar o mercado de capitais interno. Mas, neste ano, acredita ele, um "ciclo positivo" de investimentos vai acontecer, e as empresas vão precisar de financiamento de mais longo prazo, que deverá ser obtido ou complementado no mercado internacional em operações mais estruturadas, de financiamento de projetos. "O desafio do mercado é ampliar o leque de tomadores de recursos no mercado internacional", acredita Guedes. Ele disse que já há vários investimentos sendo realizados e outros no forno, nos setores de papel e celulose e siderurgia. Com o início dos projetos de Parceria Público Privada (PPPs), o setor de energia elétrica também pode deslanchar, acredita ele, dependendo do preço da energia nova nos leilões. As empresas do setor de telefonia também tendem a manter investimentos constantes na rede, embora nenhum de maior vulto, acredita ele. O mercado interno, afirma, já chega a aceitar operações de debêntures de vencimento em cinco anos ou até de prazo maior. "Mas é necessário pagar um prêmio que o grande exportador não se dispõe a pagar por esse alongamento de prazos", afirma Marcio Guedes. Com a sobra de dólares para o país, as operações mais estruturadas de securitizações de recebíveis se tornaram menos necessárias, lembra Guedes. "O exportador recebe a mesma quantia de dinheiro pelo mesmo prazo longo e pelo mesmo preço por meio de um pré-pagamento à exportação, que é mais fácil de montar - tem uma estrutura mais simples", afirma. Ele conta que os bancos hoje ficam com o crédito das melhores empresas, que em momentos difíceis para o país são vendidos para o investidor institucional por meio da securitização de recebíveis de exportação. Ele acredita que a disponibilidade de recursos externos para o Brasil continuará a ser grande neste ano, apesar da volatilidade inicial com a perspectiva de alta nos juros americanos maior do que a esperada. Por isso, Guedes acha que o Tesouro Nacional e as empresas e bancos deverão antecipar para este ano captações que só seriam realizadas em 2006. "Como o momento está positivo, a tendência é de o governo e as empresas aproveitarem e anteciparem captações, trocando o certo pelo incerto", afirma. Ainda mais considerando-se que 2006 será um ano eleitoral em grande parte da América Latina. Ele considera que o mercado não vê mais risco eleitoral no Brasil, mas acha que a volatilidade pode crescer no ano que vem. Segundo ele, as grandes empresas mais mais modernas já fazem no Brasil o chamado gerenciamento de passivos. "Se você aproveita os bons ventos e capta recursos, tira a pressão do refinanciamento de última hora", afirma ele. Essa estratégia traz melhorias no perfil da dívida, garante o especialista. Ele citou como exemplo a operação da Telemar, que viu que o mercado melhorou e buscou melhorar o perfil de sua dívida externa - pagou menos pelos recursos antes tomados a taxas mais altas. Marcio Guedes acredita que esse tipo de operação, de alteração de preço nos empréstimos, tende a acontecer mais vezes se a classificação de risco de crédito no Brasil melhorar, diz o especialista. Para manter sua liderança nesse mercado de concorrência acirrada, o Citigroup, que comemora em abril 90 anos de Brasil, pretende fazer mais do mesmo, diz Marcio Guedes. "Nosso apetite é grande. Manteremos o mesmo foco no cliente e o interesse no país", afirmou.