Título: Deutsche cresce e conquista a segunda colocação
Autor: Cristiane Perini Lucchesi
Fonte: Valor Econômico, 28/02/2005, CAPTAÇÕES EXTERNAS, p. Fs

Os emissores brasileiros devem planejar seus investimentos e antecipar suas captações externas para os próximos dois trimestres deste ano. Esse é o conselho de Marcelo Blanco, chefe da área de Debt Capital Markets para América Latina do Deutsche Bank. O banco de capital alemão conseguiu ficar como o segundo colocado no "Ranking Valor de Captações Externas" de 2004, atrás do Citigroup. Em 2004, o Deutsche liderou captações de US$ 2,45 bilhões, até menos do que os US$ 2,63 bilhões liderados em 2003. Mas subiu da quinta colocação para a segunda no ranking do Valor. "Nós estamos orgulhosos. Mas nosso serviço é superior e queremos ser o número um", disse. A estratégia, segundo ele, é o relacionamento de aconselhamento e de proximidade com os clientes, que inclui todo o gerenciamento de passivos e também política de hedge (proteção) contra a volatilidade na dívida. "Transitamos bem no mercado de dólar e de euros -nossa distribuição é forte nas duas moedas", completa Alexandre Aoude, chefe de vendas para Brasil. Após liderar duas operações para o governo federal brasileiro em 2004, de US$ 1,5 bilhão e de US$ 750 milhões, o Deutsche já fez mais duas neste ano - a operação de 500 milhões de euros, a primeira do ano para o Tesouro Nacional, e a segunda, de US$ 1,25 bilhão. O próprio banco organizou encontro entre o secretário do Tesouro Nacional, Joaquim Levy, e o secretário-adjunto, José Antonio Gragnani, com investidores institucionais em Londres. "É importante para nós estreitar os laços entre os investidores e nossos clientes", afirma Blanco. Ele disse ter cobrado comissão de 0,3 pontos básicos do Tesouro Nacional na última captação em dólar, no dia 31 de janeiro, e negou ser o custo um fator de decisão na escolha do líder de uma captação do governo federal. "Eles fazem um rodízio de bancos líderes", informa. Entre as empresas brasileiras, o Deutsche liderou empréstimo à Sadia de US$ 100 milhões. Pela estrutura, a Sadia recebe à vista exportações feitas com prazo de pagamento de 15 a 60 dias. Os bancos compram os recebíveis da empresa e, assim que recebem, comunicam a Sadia, que pode então vender mais recebíveis. A disponibilidade da linha pelo custo pré-determinado é de um ano a contar do dia 31 de agosto. A AIG cobre 90% do risco de não-pagamento do cliente da Sadia no exterior. O custo foi de Libor, a taxa interbancária de Londres, mais 0,7% ao ano. O lançamento do bônus de US$ 100 milhões da Petrobras Energia, empresa argentina controlada pela Petrobras, foi o que garantiu a apertada colocação do banco como segundo no ranking, passando o ABN AMRO, que liderou US$ 2,342 bilhões em captações externas no ano passado no mercado brasileiro. Para este ano, Blanco acredita que o mercado vai continuar favorável para a emissão de títulos dos mercados da América Latina. Ele acredita também que a vontade de captar das empresas brasileiras será maior, por causa da necessidade de investimentos. "Vamos ter a continuidade da recuperação econômica iniciada em 2004 e as empresas já estão trabalhando à plena capacidade", afirmou Blanco, por telefone, de Nova York. O mercado local, por mais favorável que pareça, não será mais suficiente. Os principais riscos para os emissores dos países latino-americanos, no seu entender, são o aumento maior do que o esperado nos juros americanos e uma queda no crescimento econômico da região por conta da demanda menor dos EUA. "O mercado quer ver o Brasil crescer", afirma o especialista. Blanco alerta que o movimento de alta nas taxas de juros americanos pode tornar o mercado menos líquido no final do ano. Além disso, com os juros americanos mais altos, o custo de captação para os emissores latinos também poderá subir, considera. Ele vê também o risco eleitoral à medida que se aproxima o final do ano. Em dezembro, haverá eleições para presidente no Chile e em 2006, no Peru, México, Colômbia, Venezuela e Brasil. Blanco vê demanda para a emissão de títulos do governo federal em reais, mas afirmou que não incluiria esse tipo de captação no planejamento regular das emissões do Tesouro. O investidor mais interessado nesse papel, em grande parte os fundos menos avessos ao risco (fundos de hedge), não necessariamente interessa ao Tesouro, que precisa de compradores mais estáveis para seus papéis no mercado internacional, diz. Há dúvidas com relação aos juros prefixados a serem pagos. "O governo precisa obter US$ 2,7 bilhões no resto do ano e eu não incluiria uma emissão em euros nesse programa mais estratégico", diz. (CPL)