Título: Grupo Itaú sai na frente entre os nacionais
Autor: Cristiane Perini Lucchesi
Fonte: Valor Econômico, 28/02/2005, CAPTAÇÕES EXTERNAS, p. Fs

O mercado de emissões externas denominadas em reais vai crescer neste ano e os bancos de capital nacional terão posição de destaque na liderança dessas operações, segundo Roberto Massaru Nishikawa, presidente do conselho (CEO) da Itaú Corretora. Pela primeira vez desde que o Valor começou a fazer o "Ranking Valor de Captações Externas", o Grupo Itaú passou o Unibanco e foi o primeiro colocado no levantamento que considera só os bancos nacionais líderes de emissões e empréstimos no exterior. "Ficamos em primeiro lugar, pois fizemos investimentos pesados na área de renda fixa internacional nos últimos anos", disse. Em meados de 2002, o Itaú inaugurou a Itaú Securities, corretora em Nova York, que ampliou sua capacidade de distribuição. Em meados de 2003, o Itaú Europa, subsidiária do grupo Itaúsa em Portugal, abriu uma subsidiária em Londres, no meio da Citi, para distribuição primária de emissões brasileiras e do próprio Grupo Itaú e realização de negócios no mercado secundário de papéis públicos e privados dos emergentes, com ênfase nos títulos brasileiros. A agência complementa a atuação da mesa do Banco Itaú, em São Paulo, e da corretora em Nova York. Em novembro de 2004, o grupo inaugurou uma mesa de negociações de papéis na Argentina. Além da agência em Londres, o Banco Itaú Europa conta também com uma agência nas Ilhas da Madeira, uma subsidiária em Luxemburgo, para a área de private banking (gerenciamento de recursos das pessoas físicas ricas), e uma subsidiária nas Ilhas Cayman, além de representações em Frankfurt e São Paulo. "O Itaú Luxemburgo cresceu muito nos últimos anos", continua. A aquisição do BBA foi determinante no processo de crescimento do Grupo Itaú no mercado de captações externas, pois o BBA sempre teve presença forte junto às empresas de maior porte do setor corporativo brasileiro. Além de uma agência em Nassau, o Itaú BBA tem escritório de representação em Shangai, na China. Em junho de 2004, os investimentos consolidados do grupo Itaú no exterior chegavam a um total de US$ 2,4 bilhões, não incluída ainda sua agência em Tóquio, inaugurada em outubro de 2004. Para este ano, está prevista a abertura de uma subsidiária em Hong Kong, para distribuição de títulos de renda fixa, ações e produtos estruturados. "O esforço de crescimento vai continuar em 2005", disse Fernando Fontes Iunes, diretor do Itaú BBA. No ano passado, o Itaú BBA foi um dos líderes do lançamento do primeiro eurobônus em reais de um emissor brasileiro, o papel de US$ 75 milhões do Banco Votorantim. Por conhecer esse mercado, o investidor interessado nesse tipo de papel e operar amplamente nos mercados de câmbio, derivativos e hedge brasileiros, o Itaú se considera em posição de destaque para liderar essas operações. "Temos condições, inclusive, de liderar uma captação em reais para a República", afirmou, sem titubear, Nishikawa. Em se tratando de operações em dólar para o governo federal, Iunes reconhece que os bancos internacionais acabam com vantagem, por seu relacionamento com um volume maior de investidores institucionais na Europa e nos Estados Unidos e sua capacidade de ser o chamado "market maker", ou seja, dar preço de compra ou venda para qualquer lote no mercado secundário. Além disso, no mercado de empréstimos em dólar, o custo de um banco nacional é maior do que um internacional, lembra Iunes. Mas, para eurobônus em reais, no entanto, o Itaú sai na frente dos bancos estrangeiros, com capacidade inclusive de ser "market maker", diz Nishikawa. "Somos especialistas em Brasil e nosso capital no país é significativo", afirma. Segundo Nishikawa, o investidor internacional quer papel em reais e de prazos mais longos. Os principais interessados nesse tipo de papel são os fundos de private banking, os fundos de hedge (menos avesso a riscos) e a tesouraria de grandes bancos internacionais, além dos gestores de fundos dedicados à região. Nishikawa e Iunes acreditam que o desenvolvimento do mercado externo de títulos com taxas de juros prefixadas em reais vai ajudar no desenvolvimento do mercado interno de títulos prefixados. "Hoje, não existem papéis privados de juros prefixados no mercado interno", diz Iunes. As empresas lançam debêntures indexadas aos juros dos Depósitos Interfinanceiros ou a índices de inflação, como o IGP-M. O governo, que lança papéis prefixados, conseguiria alongamento de prazos. Na visão dos especialistas, se o governo captasse em reais no exterior, criaria um padrão para as emissões de bancos e empresas e também estabeleceria uma curva de juros de referência para outras captações externas. Além de papéis em reais, o Grupo Itaú foi um dos líderes em operações grandes, como o eurobônus de US$ 200 milhões da Companhia Siderúrgica Nacional. Liderou sozinho captação de US$ 40 milhões da Brascan, de US$ 5 milhões do Banco Matone e de US$ 100 milhões do Banco Votorantim. Participou de empréstimo de US$ 20 milhões ao Frigorífico Minerva e de US$ 90 milhões da Comgás. Apesar de os custos de captação no mercado interno estarem menores para operações de mais curto prazo, por causa do cupom cambial (juros dos investimentos indexados ao dólar no mercado interno) apertado, "há empresas que não podem ficar reféns de um mercado só", conta Iunes. Em busca de prazos mais longos, volume maior de recursos ou para manter uma base de investidores internacionais, algumas grandes empresas brasileiras precisam do mercado externo, afirma ele. Segundo Iunes e Nishikawa, neste ano o mercado internacional pode até ser melhor para o Brasil do que no ano passado. Em 2004, lembra Iunes, o mercado externo de eurobônus ficou caro para emissores brasileiros durante um trimestre por causa da perspectiva de alta maior do que a esperada nas taxas de juros americanas. Além disso, as empresas brasileiras não se estimularam a fazer dívida externa, pois não tinham uma visão clara do crescimento econômico do país. Agora, segundo ele, muitas já têm políticas definidas de investimento e voltaram a captar recursos para esse fim.