Título: BCP Securities faz mais lançamentos
Autor: Cristiane Perini Lucchesi
Fonte: Valor Econômico, 28/02/2005, CAPTAÇÕES EXTERNAS, p. Fs

A BCP Securities, a pequena butique de investimentos de Connecticut, nos EUA, teve sucesso ao abrir escritório no Brasil, em meados de 2003. No ano passado, já estabelecida no país, conseguiu passar todos os grandes bancos e se colocou em primeiro lugar no "Ranking Valor de Captações Externas" por número de operações. A BCP liderou 13 lançamentos de bônus em 2004, quase o dobro das 7 operações feitas em 2003. Realizou quatro captações a mais do que o segundo colocado, o ABN AMRO. A estratégia da BCP Securities é justamente essa: não concorrer com os gigantes, mas escolher um nicho de mercado - em 2004, o dos bancos pequenos e médios - e coordenar operações de valores menores, de não mais do que US$ 25 milhões, diversas vezes ao ano. Com isso, evita a concentração de vencimentos de dívida para o emissor e deixa demanda não atendida pelo papel lançado, o que ajuda na próxima captação externa. Além disso, o nome do emissor fica sempre no mercado internacional. Em 2005, a empresa pretende continuar a focar sua atuação no Brasil, mantendo os clientes da área financeira, mas voltando-se também para empresas não-financeiras, disse Randall Pike, piloto aposentado da Força Aérea americana e sócio majoritário da BCP, em visita ao Brasil. "Queremos atuar junto às empresas médias, mas também poderemos fazer pequenas operações para empresas grandes", afirmou. A idéia é crescer e contratar no país. Outra novidade está em gestação: a BCP prepara-se para fazer operações estruturadas com emissores brasileiros, como por exemplo as chamadas securitizações, venda de títulos lastreadas em recursos a receber, anunciou. Até agora, a BCP liderou operações de lançamento dos bônus "plain vanilla", os mais simples, sem seguros, garantias ou lastros. Em 2004, fez captações para os bancos Pine, Industrial, Cruzeiro do Sul, BMG e Schain. Com a intervenção do Banco Central no Banco Santos, em 12 de novembro, a clientela da BCP foi atingida em cheio - os fundos de pensão brasileiros, temendo perder dinheiro no Banco Santos, saíram vendendo títulos de outros bancos pequenos e médios, que sofreram aperto de liquidez. No mercado externo, os investidores também ficaram desconfiados, pois o Banco Santos tem US$ 65 milhões em títulos emitidos no exterior. A própria BCP estava no meio da venda de um título para o Banco Schain na hora da intervenção do BC no Santos e teve de correr para fechar a operação, com alguns investidores já retirando suas ordens de compra assustados. "O Banco Santos foi um caso isolado", diz Samy Podlubny, o carioca que dirige o escritório da BCP Secutiries em São Paulo. "Nós escolhemos os nossos clientes entre os bancos que têm práticas conservadoras. Nos concentramos em qualidade e não tivemos problemas", afirma Pike. Sem negar o aperto de liquidez, a BCP adotou a estratégia da transparência: buscou esclarecer ao máximo os investidores externos sobre o que estava acontecendo entre os bancos pequenos e médios do país, diz James Harper, diretor de pesquisa corporativa. "Achamos que é nossa responsabilidade manter nossos clientes sempre bem-informados", disse Harper. Ele e Podlubny foram pessoalmente visitar clientes na Europa e nos EUA. Disseram que havia dois tipos de bancos entre seus clientes. Um primeiro tem ativos de curto prazo e em situações de aperto de liquidez só precisa parar de emprestar. O outro tipo tem "o melhor tipo de ativo", que é o crédito consignado com desconto em folha, que é de prazo médio, mas foi vendido facilmente para os bancos maiores, como por exemplo o Bradesco e Itaú. O aperto de liquidez provocado pela intervenção no Banco Santos só deixou os bancos pequenos e médios brasileiros ainda mais cientes da necessidade de diversificar suas fontes de captação de recursos e das vantagens da captação externa, afirma Pike. Enquanto os fundos de pensão brasileiros retiravam às pressas suas aplicações nos bancos pequenos e médios nacionais, os investidores externos não fizeram o mesmo. E os que quiseram vender papéis fizeram no mercado secundário, não tirando os recursos dos bancos na hora em que eles mais necessitavam. Passado o susto, os bancos pequenos e médios já voltaram ao mercado, com captações de sucesso de US$ 17 milhões do Banco Cruzeiro do Sul e de US$ 25 milhões do BMG feitas neste ano pela própria BCP Securities. Com cautela, foram lançados US$ 5 milhões em papéis de vencimento em 18 meses do Cruzeiro do Sul, o primeiro a vir a mercado, mas em pouco tempo a demanda chegou a US$ 17 milhões. É verdade que o banco teve de pagar um pequeno prêmio de 0,5 ponto básico em relação à sua curva de juros, diz Podlubny. Nem sempre o mercado externo é fonte mais barata de captação do que o interno, lembra. "Mas as vantagens da diversificação das fontes de captação são inegáveis", insiste Harper. No total, considerando-se o mercado primário e secundário, o Brasil já representa aproximadamente 20% do total de negócios da BCP Securities. A empresa atua também fazendo lançamento de títulos de empresas e bancos do México e se prepara para atuar agora liderando captações de médias empresas russas. "Estive na Rússia e vejo espaço cada vez maior", afirma Pike. Cerca de 75% de seus negócios concentram-se no mercado secundário de papéis de renda fixa, com pequena participação de empresas americanas. Fundada em 89, a BCP Securities atua em diversos países da América Latina, mas o único escritório de representação é no Brasil. Na Europa, a empresa tem também uma corretora em Madri, para vender títulos para europeus. As vendas de títulos são sempre feitas no varejo, distribuídas para um grande número de clientes, a maior parte fundos de private banking, que reúne o dinheiro das pessoas físicas ricas. "Procuramos sempre educar nossa base de investidores", explica Harper. Para isso, são realizados seminários periódicos em diversos países, incluindo Brasil, Argentina e México. O último deles foi realizado pouco antes do Carnaval, no Hotel Emiliano, em São Paulo. Após a entrevista ao Valor, Pike saiu às pressas para pegar um avião para o Rio de Janeiro. O americano, que diz gostar muito do Brasil, tem um apartamento em Ipanema e ia desfilar na avenida pela Portela. "Já estou decorando o samba enredo."