Título: Bear Stearn e Morgan saem à frente no setor público
Autor: Cristiane Perini Lucchesi
Fonte: Valor Econômico, 28/02/2005, CAPTAÇÕES EXTERNAS, p. Fs

Uma operação coordenada em parceria pela Bear Stearns e Morgan Stanley foi suficiente para dar aos dois bancos norte-americanos a primeira posição no ranking de bônus corporativo do setor público (exceto República e empresas e bancos privados). O eurobônus da Petrobras, no valor total de US$ 600 milhões, foi emitido com prazo de vencimento de dez anos e prêmio de 378 pontos-base acima dos títulos do governo dos EUA. Ajata Mediratta, chefe de mercado de capitais da Bear Stearns, diz que os chamados países emergentes beneficiaram-se em 2004 principalmente da alta dos preços das commodities no mercado internacional e do maior apetite de investidores institucionais por papéis de maior rentabilidade. Na operação da Petrobras, o histórico da empresa no mercado financeiro internacional facilitou a emissão, com a ampliação do leque de interessados. "A Petrobras é um emissor incomum, se comparada a outras corporações brasileiras", diz ele. Os títulos da empresa atraem investidores interessados em papéis de menor risco ("investment grade"), de alto rendimento ("high yield") e também aqueles interessados por papéis de mercados emergentes, completa Mediratta. O executivo considera, entretanto, que a atual calmaria do mercado pode não durar muito tempo. "A história mostra que podemos ter alguma surpresa pela frente. Em geral é o que acontece quando o mercado parece calmo demais", diz ele. Para Mediratta, o segundo semestre deverá ter maior volatilidade. A principal preocupação é com o ritmo de crescimento econômico do país. A agenda do país, avalia, terá de conciliar juros e crescimento, de modo que essa equação não coloque em risco a estabilidade.

A redução do cupom cambial (juros dos investimentos em dólar no mercado interno) ocorrida no ano passado diminuiu o interesse por emissões em dólar, mas ainda assim, o mercado internacional continuará sendo uma importante fonte de financiamento para a economia brasileira, diz Rodrigo Lowndes, diretor-gerente do Morgan Stanley no Brasil. "O mercado local ainda não é tão desenvolvido e líquido como o mercado internacional. Ainda não é possível para o mercado local absorver completamente emissões de maior porte", afirma Lowndes. A expectativa de Mediratta é de que as emissões brasileiras no mercado internacional cresçam em 2005. "Sempre existirão companhias brasileiras para as quais faz sentido ter todo ou parte de seu endividamento em moeda estrangeira, inclusive para diversificar sua base de investidores", avalia. Apesar do otimismo dos analistas com relação à economia brasileira, o país terá de enfrentar um mercado de capitais provavelmente mais volátil e mais caro neste ano, o que, em tese, dificultará o acesso de empresas, bancos e República brasileiros aos empréstimos em moeda estrangeira, avalia Lowndes. E isso não só porque os juros americanos continuarão subindo, mas também por conta do calendário eleitoral de 2006. "A consequência é que muitas companhias brasileiras já estão antecipando suas captações para atender às necessidades de financiamento de 2006", diz Lowndes.