Título: Grandes empresas apóiam corte de emissão de gases
Autor: Chiaretti , Daniela
Fonte: Valor Econômico, 09/12/2008, Internacional, p. A7

A Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas foi surpreendida ontem com o comunicado de um grupo de líderes de 140 empresas espalhadas pelo mundo no qual se lia: "Precisamos adotar cortes rápidos e profundos nas emissões de gases do efeito-estufa". Adotando um discurso de vanguarda e alinhado em vários pontos aos das ONGs mais radicais, os empresários dizem que estão dispostos a se adequar a decisões de cortes de 50% a 85% em 2050.

O comunicado do Corporate Leaders Group on Climate Change é assinado por presidentes e diretores de empresas da Austrália, China, Europa, Japão, Estados Unidos, América do Sul e Canadá. Estão ali a seguradora Allianz e a Deutsche Telekom, a Philips, a Rolls-Royce, a Shell, a Unilever, a Virgin. Assinam também executivos da Nike, Kodak e Yahoo, dos EUA. Há três empresas chinesas (Ryle Technology, Shangai Eletric e Suntech) e uma japonesa, a Ricoh.

"Estamos sinalizando aos governos que eles podem e devem tomar as decisões necessárias", diz Harry Verhaar, diretor sênior de energia e mudança climática da Philips Lighting, um projeto global da empresa para promover a iluminação mais eficiente. "É muito importante que se consiga um acordo mundial para enfrentar as mudanças climáticas. O planeta vai aquecer, não temos tempo."

O comunicado faz uma proposta de negociação aos governos. O acordo tem que estabelecer um caminho de reduções de emissões de longo prazo, para o período de 2010 a 2050. As metas terão que se guiar pelo que diz a ciência, "para garantir que as concentrações globais de gases-estufa sejam estabilizadas abaixo dos níveis críticos".

O documento pede que os países desenvolvidos tomem a dianteira com cortes imediatos e profundos, para dar o exemplo de como crescer com baixo uso de carbono. Os em desenvolvimento, por sua vez, têm de fazer sua parte com planos de redução de emissões. Eles deveriam, sugere o comunicado, "desenvolver fortes ações setoriais para adotar compromissos adequados em 2020".

Os empresários também pedem "medidas para formar um mercado robusto" de carbono e a revisão do Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL), para facilitar o apoio financeiro e tecnológico aos países em desenvolvimento. Outro ponto do manifesto fala na necessidade de se ter uma estratégia de adaptação aos efeitos da mudança climática para ajudar os países pobres mais vulneráveis e apóia os mecanismos de Redução de Emissões por Desmatamento e Degradação Florestal (REDD).

"Na conferência de Poznan, pedimos que os países concordem num plano de ação para o último ano das negociações", diz o comunicado. Isso permitiria chegar a um acordo no encontro de Copenhague, em dezembro de 2009.

Verhaar admite que a crise econômica ameaça tornar o processo de decisões mais lento. Ainda ontem, Itália e Alemanha disseram apoiar medidas contra o aquecimento que não prejudiquem suas economias "Mas é preciso reconhecer que a energia atual também é muito cara e tem impacto sobre a economia", disse Verhaar. "As empresas que não seguirem este caminho vão desaparecer", afirmou. "A crise climática é tão imensa que não pode ser resolvida só pelos governos. Temos que estar todos juntos nisso, governos, empresários, ambientalistas."