Título: Chile já se prepara para um pouso forçado da economia
Autor: Uchoa , Rodrigo
Fonte: Valor Econômico, 09/12/2008, Internacional, p. A7

O Chile já se depara com a perspectiva de um pouso forçado de sua economia, afetado pela queda da demanda mundial por seus produtos - principalmente o cobre. Até dois meses atrás, o governo esperava que o crescimento de 2009 fosse de cerca de 3,5%, mas agora o Banco Central chileno já revisou a expectativa para de 2% a 3%, enquanto analistas independentes são mais pessimistas, prevendo expansão de cerca de 1%.

A estimativa do BC é de que o país tenha crescido 4% a 4,5% neste ano. Nos 12 meses até outubro, o crescimento foi de 4,1%, sendo que, nos 12 meses até outubro do ano passado, havia sido de 5,3. Nos últimos cinco anos até 2007, o Chile cresceu acima dos 5%.

"As perspectivas para o país não são boas e o crescimento deve ficar em cerca de 1%. Creio que isso será sentido ao longo de todo o ano que vem. O importante é mudar o foco e dar estímulo com medidas que gerem maior capacidade produtiva no futuro. O desafio não deve ser apenas sair incólume da crise, e sim recuperar o caminho do crescimento econômico", diz Felipe Silva, analista do think-tank Liberdade e Desenvolvimento, de Santiago.

A cotação do cobre, produto que responde por cerca de 55% das exportações chilenas e por 30% da arrecadação fiscal do governo, caiu de US$ 8,5 mil por tonelada, em abril, para US$ 3,3 mil ontem.

A estatal de cobre Codelco disse que seu lucro líquido caiu 32% quando comparados os primeiros nove meses do ano ao mesmo período do ano passado. A empresa tem planos de cortar ao menos 20% de seus custos e vem se reunindo com sindicalistas para discutir eventuais demissões.

"Todas as empresas de mineração estão tentando reduzir seus custos. É a única variável que elas controlam", afirmou Juan José Ponce, analista da corretora Larrain Vial, de Santiago. As demissões podem ter um custo político grande, já que o desemprego no Chile aumentou neste ano para 8%, depois de três anos consecutivos de retração.

O sentimento de que o país vai passar por maus momentos se reflete na confiança do consumidor - o consumo interno vinha sendo um dos motores da economia. O Ipec (índice de percepção da economia, elaborado pela Adimark) caiu de 61 pontos, no fim do ano passado, para apenas 32 pontos em outubro (leituras abaixo de 50 pontos indicam pessimismo).

Para alguns analistas, porém, nem tudo é tão sombrio. Rodrigo Vergara, da Universidade Católica do Chile, diz que o país "está mais bem preparado do que os outros da América Latina para enfrentar a crise econômica". "Não houve uma bolha imobiliária, os bancos estão bem capitalizados e os créditos concedidos têm garantias boas e suficientes."

Além disso, há dois fundos soberanos formados com parte da receita do cobre, que somam US$ 25 bilhões e que podem ser usados em momentos de crise maior. E a dívida bruta consolidada do setor público vem diminuindo nos últimos anos, devendo ficar em cerca de 14% do PIB em 2008.

Um levantamento recente feito pela Economist Intelligence Unit diz que as empresas chilenas estão em uma sólida posição financeira, após terem usado parte do bom fluxo de caixa dos últimos anos para reduzir o endividamento.

Isso não leva em conta, porém, eventuais riscos assumidos por essas empresas com derivativos cambiais - algo que já mostrou sua capacidade deletéria em algumas empresas brasileiras.

"O ano que vem será difícil para todos. A recuperação dependerá muito das medidas do governo para estimular a economia", disse Silva, do Instituto Liberdade e Desenvolvimento.

(Com agências internacionais)