Título: Rússia atrasa entrega de turbinas no Brasil
Autor: Goulart , Josette
Fonte: Valor Econômico, 09/12/2008, Empresas, p. B7
Quando o presidente Luiz Inácio Lula da Silva declarou, durante a visita do presidente da Rússia, Dmitri Medvedev, seu incentivo para que as hidrelétricas do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) usassem equipamentos russos, imediatamente a empresa Neoenergia bateu à porta da embaixada russa. O motivo da conversa com o embaixador Vladimir Lvovitch Tyuerdenev: um atraso de cerca de seis meses na entrega de turbinas e equipamentos adquiridos de empresas daquele país para a hidrelétrica de Corumbá III e outras duas pequenas centrais hidrelétricas (PCHs), todas no estado de Goiás.
As declarações de Lula levaram a Neoenergia, empresa controlada pela Previ e Iberdrola, a tentar resolver os atrasos de uma forma política, de governo para governo, e não apenas em uma relação comercial. A empresa não quis falar sobre o assunto, informou apenas que as turbinas e geradores da usina de Corumbá deveriam ter sido entregues em agosto pela russa Ergonomash Export e os equipamentos para a PCH deveriam ter chegado ao Brasil em novembro. Mas houve um primeiro adiamento. O maquinário a ser usado na usina deveria chegar em dezembro e os das PCHs, em março.
Mas o cronograma vai sofrer um novo atraso. As nova expectativa é que as turbinas desembarquem em Brasília em janeiro, segundo previsão do diretor comercial da brasileira Energ Power, Hélio Motta. A empresa, com sede em Belo Horizonte, é a fornecedora responsável no Brasil do empreendimento e quem fez a parceria com as russas. Motta diz que as empresas estão tentando minimizar o atraso e esse foi um dos motivos que levou à decisão de trazer as 150 toneladas de equipamentos em um avião cargueiro russo, o Antonov. Se viesse por mar, a entrega demoraria pelo menos mais 30 dias.
O diretor da Energ Power diz que a alteração no cronograma não é de total responsabilidade dos russos. Ele diz que a usina foi contratada em 2002 e de lá para cá sofreu uma série de atrasos, seja por problemas ambientais como também pela transição das novas regras do setor, em 2004. O contrato original, que marcou a volta dos russos como fornecedores de turbinas para o Brasil, tinha sido acertado com a Power Machine, que reúne os principais fabricantes russos e com faturamento anual de 4 bilhões de euros. Mas com a demora do início das obras, o contrato foi repassado, em 2007, época em que havia sobrecarga de pedidos, para uma empresa menor, a Ergonomash, que segundo Motta fatura anualmente US$ 100 milhões. A Ergonomash é uma integradora que por sua vez faz as encomendas com outras duas empresas russas: a Tyazhmash, fornecedora das turbinas, e a Ruselprom, fabricante de geradores.
O caso já foi levado inclusive à Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel). A Neoenergia, que detém 60% do projeto de Corumbá III, pede que a agência considere o atraso como justificável para que assim não tenha que pagar multas por não entregar a energia no prazo contratado. A Energ Power - que detém, como investidora, 5% do empreendimento - diz que o atraso será de apenas três meses, já que a energia deveria ser fornecida a partir de fevereiro e a nova estimativa é que entre em operação em maio de 2009. Os outros sócios no empreendimento da hidrelétrica são a Celg, com 15% de participação; a CEB, com 15%; e a Strata, com 5%. Os investimentos totais previstos são da ordem de R$ 325 milhões e a usina terá capacidade instalada de cerca de 90 MW.
O diretor de vendas no Brasil da Power Machine, Sergey Krizonapov, disse que o caso da Neoenergia envolve pequenas empresas russas e garante que sua empresa tem capacidade de cumprir contratos. A empresa, em parceria com a Energ Power, está negociando o fornecimento de geradores e turbinas para a usina de Jirau, no rio Madeira. Motta, da Energ Power, diz que a parceria com os russos tem ajudado a provocar uma queda no preço dos equipamentos no Brasil. "Estamos dispostos a concorrer fortemente em preço e a usina de Estreito, por exemplo, teve seu preço reduzido em R$ 150 milhões em função do contrato que oferecemos", diz Motta. "Chegamos a assinar um pré-contrato, quando a empresa vencedora da disputa deu um desconto."