Título: Para Moody's, Brasil não está em crise e nota de crédito fica estável
Autor: Perini Lucchesi , Cristiane
Fonte: Valor Econômico, 08/12/2008, Finanças, p. C2
Apesar dos "choques externos" no câmbio, nos preços dos commodities e no crescimento econômico, "o Brasil não está em crise" e a qualidade de crédito do governo brasileiro não piorou. Essa é a visão de Mauro Leos, analista de rating soberano brasileiro da Moody"s. "É uma boa notícia e mostra que o país realmente passou por mudanças importantes nos últimos anos", diz. "Antes, uma desvalorização cambial sempre trazia problemas para o crédito do governo", conta. Divulgação
Leos, da Moody"s: "Quando o ambiente geral não é tão positivo é que percebemos se o país tem fundamentos sólidos"
Logo no início da entrevista ao Valor ele destacou que a nova realidade se deve, principalmente, à posição líquida ativa em dólar do governo. Em outro momento, no entanto, Leo alegou que não vê restrições ao uso das reservas internacionais para amortizar os choques no câmbio. E completou: "Ser credor externo líquido não é condição para o grau de investimento".
Entre as três maiores agências de classificação de risco de crédito, a Moody"s é a única que considera a dívida do governo federal do Brasil ainda como investimento especulativo. Na escala da Moody"s, o Brasil tem nota "Ba1", o último degrau antes de chegar ao grau de investimento. Desde meados deste ano, o crédito do Brasil é considerado investimento não-especulativo pela Standard & Poor"s e pela Fitch Ratings. Segundo Leos, apesar dos "choques" aos quais o Brasil foi submetido, não há razões para alterar a nota do governo e nem a "perspectiva" da nota, que permanece estável.
De acordo com ele, 2009 será um ano de desafios e importantes testes para o governo brasileiro. "Poderemos ter uma idéia mais clara se todos os elementos estarão presentes para consolidar o grau de investimento", afirma. Leos diz que evita elevar a nota de um país para o grau de investimento quando as condições econômicas são mais favoráveis. "Quando o ambiente geral não é tão positivo é que percebemos se o país realmente tem fundamentos sólidos e dá respostas corretas à crise", justifica.
Segundo ele, o Brasil passa neste momento por um segundo choque cambial. "O primeiro, em setembro e outubro, trouxe implicações mais sérias e algumas empresas perderam com posições em derivativos e tiveram ratings rebaixados", comenta. Ele acredita que a volatilidade no câmbio deve prevalecer e não somente no final deste ano como também no primeiro semestre de 2009. "Mas, agora, o governo, as empresas e os bancos já sabem disso e se preparam para responder a esse novo ambiente", diz.
Os impactos da crise externa sobre o crescimento econômico do país e sobre as contas externas preocupam mais, diz ele. "Será importante observar como o governo e o Banco Central vão responder a isso e que medidas vão adotar para tentar estimular a economia." Ele vê o crescimento do PIB em 2% em 2009, na comparação com os 5% deste ano.
De acordo com o analista, é importante que o BC mostre que continua comprometido com a política de metas de inflação. "Índices um pouco mais altos um mês ou outro não preocupam", comenta. "Mas é necessário evitar que a inflação de um prazo médio no futuro saia do controle", comenta. Hoje, o BC tem credibilidade suficiente para atuar de forma positiva sobre as expectativas do mercado e pode e deve se manter assim, diz.
Para o analista, os governos têm habilidade limitada em promover o crescimento econômico. "Governantes que adotam políticas monetárias e fiscais agressivas demais não conseguem forçar a economia a crescer e podem comprometer as finanças públicas e a estabilidade futura", diz.
Leos não vê preocupação na redução do superávit fiscal primário de 4% do PIB neste ano para níveis em torno de 3,75% do PIB, como tem sinalizado o governo. Mas reduções drásticas demais nesse superávit podem impactar ratings, diz. Ele frisa que não apenas o tamanho, mas também o perfil da dívida do setor público distanciam o Brasil do grau de investimento e que apertos de liquidez podem piorar esse perfil no curto prazo.