Título: Alimentação garante IPC-S mais baixo, mas pode causar 'repique' em janeiro
Autor: Bouças , Cibelle
Fonte: Valor Econômico, 06/01/2009, Brasil, p. A2

A desaceleração na inflação de alimentos garantiu ao consumidor uma inflação mais baixa na última semana de 2008, mas pode ser uma das causas para um possível 'repique' inflacionário em janeiro. O Índice de Preços ao Consumidor Semanal (IPC-S), calculado pela Fundação Getúlio Vargas (FGV), apontou alta de 0,52% na última semana do ano, taxa 0,09 ponto percentual abaixo do apurado na semana anterior. Com isso, o IPC-S encerrou 2008 com alta de 6,07%, superior à inflação de 4,6% registrada em 2007.

Na semana, a principal contribuição partiu do grupo alimentação, cujo índice de preços desacelerou de 0,88% para 0,6%. Houve aceleração nos grupos transportes (de 0,57% para 0,72%) e despesas diversas (de 0,31% para 0,37%), provocada pelos reajustes nas tarifas de ônibus urbano (de 0,65% para 0,99%) e aceleração na inflação de alimento para animais domésticos (de -1,21% para 0,78%). O grupo saúde e cuidados pessoais ficou estável em 0,71%. Houve desaceleração nos grupos habitação (de 0,44% para 0,36%) e vestuário (de 0,56% para 0,52%).

No ano, o grupo alimentação apresentou a maior contribuição para o IPC-S, atingindo 10,15% . "Nos últimos dois anos, alimentação foi o principal responsável pela inflação acima da meta, mas 2008 também contou com dois fatores, a pressão inflacionária de serviços e de preços administrados", avaliou o professor da FGV e um dos responsáveis pela pesquisa, Paulo Picchetti.

Outro estudo apontou alta dos alimentos para o consumidor. Pesquisa realizada pelo Procon-SP, em convênio com o Dieese, revelou que a cesta básica subiu 11,3% em 2008. O preço médio que, em 27 de de dezembro de 2007, era de R$ 258,58, passou para R$ 287,80 em 26 de dezembro do ano passado. O grupo alimentação apresentou alta de 9,78%. Também houve alta na cesta de itens de limpeza (16%) e higiene pessoal (20,43%). As maiores altas do ano ocorreram em sabão em barra (42,11%), arroz (36,60%) e sabonete (35,42%). As maiores quedas foram do feijão carioquinha (36,36%), batata (17,68%) e alho (12,25%).

Para o primeiro mês de 2009, disse Picchetti, há risco de fortes oscilações em preços de hortaliças e legumes, como é usual para o período em decorrência das chuvas. "Tão logo passe o choque de preços de hortaliças e legumes, comum no período, o cenário volta à desaceleração, para uma inflação mais próxima da meta", afirmou.

O economista da LCA Consultores Fábio Romão prevê para janeiro uma aceleração na inflação do varejo medida pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), chegando a 0,48%, ante 0,28% em dezembro. "É natural que isso ocorra pela pressão nos grupos alimentos e bebidas e educação. Mas para o ano, a perspectiva é que haja uma desaceleração importante em alimentos. A inflação, que ficou em 11% em 2008, deve ficar em 5,9% neste ano", estima Romão.

Para a economista-chefe do Banco ING, Zeina Latif, além das oscilações mais bruscas nos preços de alimentos, também existe risco de pressão inflacionária nas áreas de serviços e educação. "A inflação de 2008 poderia suscitar um reajuste de mensalidades relevante, mas esse segmento já teve de lidar recentemente com a piora no nível de inadimplência. Acredito que os reajustes devem ser mais moderados que no ano passado", afirma Zeina. Em 2008, o grupo educação encerrou com alta de 2,52% e o item cursos fechou com alta de 3,81%. A economista não descarta ainda o repasse da alta do dólar em relação ao real, que foi pequeno no último trimestre de 2008. "Muitas empresas estão com dificuldade de obter crédito bancário e, para fazer caixa, estão 'queimando' os estoques a preços baixos. Quando esse movimento acabar, pode haver algum reajuste de preços."