Título: Rombo reduzido no 1º mês
Autor: Cristino, Vânia
Fonte: Correio Braziliense, 24/02/2010, Economia, p. 10

Janeiro apresentou um resultado melhor que o esperado nas contas externas do país. Balança comercial favorável e remessa menor de lucros ao exterior abrandaram deficit

Apesar de ruim para as contas externas, janeiro foi melhor do que o Banco Central esperava. Graças ao bom desempenho das exportações, que surpreendeu favoravelmente nas duas últimas semanas do mês, e também à desaceleração das remessas de lucros e dividendos, o deficit em transações correntes ¿ parte do balanço de pagamentos, que inclui o resultado da balança comercial, serviços e o dinheiro que os brasileiros remetem do exterior ¿ ficou em US$ 3,841 bilhões. Esse rombo é menor do que os US$ 5,5 bilhões estimados para o mês, embora maior que o ocorrido em janeiro de 2009, de US$ 2,763 bilhões. Os dados do setor externo foram divulgados ontem pelo BC.

Segundo o chefe adjunto do Departamento Econômico do BC (Depec), Túlio Maciel, o aumento do deficit em transações correntes já estava previsto no cenário que a instituição traçou para o ano. Tanto que a projeção feita em dezembro, de um rombo anual de US$ 40 bilhões em 2010 permanece e ele só será revisto ao fim do trimestre, conforme já programado. O que surpreendeu foi que, em janeiro, ele veio menor. ¿O desempenho da balança comercial foi favorável, assim como a remessa de lucros e dividendos, que acabou ficando abaixo do previsto em US$ 1 bilhão¿, explicou.

O chefe adjunto do Depec disse que a ampliação do deficit em transações correntes reflete o aquecimento da economia, com a ampliação de várias despesas com serviços e viagens internacionais. ¿Com situação financeira favorável, os brasileiros gastam mais¿, observou. Mesmo assim, Maciel disse que o deficit em transações correntes não é motivo para preocupação. Todo ele será coberto com investimento estrangeiro direto. Para 2010, o BC prevê investimentos diretos de US$ 45 bilhões no país, recursos suficientes para cobrir o resultado negativo estimado para o ano.

Estrangeiro

Mas não foi isso o que aconteceu em janeiro, mês em que o país precisou contar com recursos de mais curto prazo, como investimento em ações e títulos, para cobrir o deficit. O investimento estrangeiro direto foi de apenas US$ 789 milhões, dentro do que o BC esperava (algo em torno de US$ 800 milhões). A conta de capital e financeira entrou com US$ 6,184 bilhões, mais do que suficiente para cobrir o deficit. Para Maciel, o fato de o investimento estrangeiro direto ter sido baixo em janeiro também não deve impressionar ninguém. ¿O IED (investimento estrangeiro direto) é muito volátil no mês a mês¿, explicou. Para fevereiro, por exemplo, o Banco Central espera um IED de US$ 2,7 bilhões ¿ já tem US$ 2,3 bilhões contabilizados até o dia 23. Em fevereiro, o deficit em transações correntes deve ficar em US$ 1,9 bilhão.

Em janeiro, por exemplo, o pagamento de juros e a remessa de lucros e dividendos surpreenderam também favoravelmente, ou seja, foram menor do que o esperado. O pagamento de juros no mês foi de US$ 1,903 bilhão (em janeiro de 2009, tinha sido de US$ 1,347 bilhão). Maciel explicou que em janeiro e em junho existe uma concentração de pagamento de juros, principalmente no que diz respeito aos títulos soberanos. As empresas também estão remetendo menos lucros e dividendos, o que pode significar que suas matrizes, no exterior, não estão mais precisando de tantos recursos ou então é já remeteram tudo o que tinham para mandar. Em janeiro, a remessa de lucros e dividendos ficou em US$ 821 milhões. Em janeiro de 2009, tinha sido de US$ 698 milhões e, em dezembro do mesmo ano, de US$ 5,3 bilhões.

Senado aprova Carlos Hamilton

Servidor de carreira do Banco Central há 18 anos, Carlos Hamilton Vasconcelos (foto) foi aprovado ontem pela Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) do Senado para a diretoria de Assuntos Internacionais da instituição em substituição a Maria Celina Arraes. Durante sabatina no Senado, ele salientou os benefícios da moeda estável. ¿Acho que a estabilidade de preços no Brasil favorece essencialmente as camadas mais pobres. Trazendo a inflação para baixo, por si só, a taxa de juros já traz um benefício redistributivo.¿

Brasileiros dobram gastos mundo afora

Com o Brasil saindo da crise, os brasileiros voltaram a viajar para o exterior como nunca. Segundo os dados do Banco Central, as despesas com viagens em janeiro atingiram US$ 1,216 bilhão. É praticamente o dobro dos gastos feitos pelos brasileiros lá fora há um ano, em janeiro do ano passado. Naquela época, as despesas no mês foram de US$ 746 milhões. O chefe adjunto do Departamento Econômico do Banco Central (Depec), Túlio Maciel, disse que o aumento das despesas com serviços e viagens reflete o aquecimento da economia. ¿O aumento da renda gera mais gastos¿, observou.

Também joga a favor das viagens o fato de o dólar estar, no momento, mais barato do que no ano passado, apesar do aumento da cotação verificado nas últimas semanas. Pela série histórica do BC, um dólar valia R$ 2,37 em janeiro de 2009. Em janeiro deste ano, estava em torno de R$ 1,85. A diferença de cotação significa que com menos reais no bolso o turista adquire uma quantidade maior de dólares. Do lado das receitas, que representa o gasto dos turistas estrangeiros no país, a diferença aumentou, mas foi pouca coisa. Em janeiro de 2009, os estrangeiros gastaram no Brasil US$ 495 milhões. As despesas subiram para US$ 566 milhões em janeiro de 2010.

Em janeiro de 2009, a conta de viagens ficou negativa em US$ 250 milhões (diferença entre o que os brasileiros gastaram lá fora e o que entrou de divisas com os turistas estrangeiros aqui). Em janeiro deste ano, com o crescimento dos gastos com viagens por parte dos brasileiros, o deficit em viagens saltou para US$ 650 milhões. Na avaliação do chefe adjunto do Depec, o crescimento do saldo negativo com viagens vai permanecer durante o ano. Em fevereiro, por exemplo, o Banco Central já contabilizou, até o dia 23, receitas de US$ 390 milhões e despesas (gastos de brasileiros no exterior) de US$ 785 milhões. (VC)