Título: Recife conta com PAC para amortecer crise
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Fonte: Valor Econômico, 30/12/2008, Política, p. A6

Depois de tomar posse na Prefeitura do Recife, quinta-feira, João da Costa (PT) anunciará como uma de suas primeiras medidas um contingenciamento dos gastos do município. A medida tem como objetivo se precaver para o enfrentamento das incertezas em relação à receita da cidade em meio a um ano de crise econômica mundial.

Por enquanto, segundo Marcelo Barros, secretário de Finanças do novo governo, os recursos serão poupados nas despesas correntes, ou seja, naqueles gastos que garantem o funcionamento da máquina administrativa da cidade, como viagens, transporte de funcionários, materiais para escritório, telefone e energia. "Mas estamos cientes de que pode haver a necessidade de medidas adicionais", diz Barros.

Por causa das incertezas em relação à economia, o orçamento municipal de 2009 já sofreu um corte de 1% em relação ao valor inicialmente previsto. Mesmo assim os R$ 2,34 bilhões planejados são 11% maior do que o montante estabelecido para este ano.

A expectativa é que as receitas do município continuem crescendo, mesmo que a um ritmo inferior aos 10% dos últimos anos, por dois motivos. Um deles são os R$ 480 milhões de recursos do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) previstos principalmente para obras de saneamento e habitação na cidade em 2009. A Via Mangue, uma das maiores promessas de campanha de João da Costa, tem boa parcela dos seus recursos vinda do PAC. Dada a importância dos recursos do governo federal, o prefeito eleito já foi a Brasília este mês para buscar assegurar a liberação deles.

Outro empurrão ao município deve vir dos empreendimentos privados que estão se instalando em Pernambuco, como a refinaria Abreu e Lima, da Petrobras, e as fábricas da Sadia e da Perdigão. O município pretende atrair os escritórios administrativos dessas empresas, enquanto a produção fica em outros cantos do Estado.

"Tanto o PAC quanto os projetos estruturadores terão um efeito amortecedor num ano de crise. O negócio é apertar o cinto agora e adotar uma política de calibragem ao longo do ano", explica o secretário, que é professor universitário de economia e trabalha como assessor da gestão do atual prefeito João Paulo (PT) desde 2006.

Para a oposição, o principal desafio que João da Costa enfrentará nos próximos quatro anos será justamente conseguir cumprir suas promessas de campanha diante da turbulência econômica. "Não sei como a crise alcança o mundo inteiro menos o Recife", diz a vereadora Priscila Krause (DEM). "A Via Mangue, por exemplo, foi anunciada pela terceira vez na campanha do PT e corre o risco de ficar no papel de novo", afirma ela, referindo-se aos mandatos do atual prefeito João Paulo. O vereador Daniel Coelho (PV) também diz acreditar que a Via Mangue é a obra que mais corre risco de ficar para trás por ser a mais cara, de cerca de R$ 350 milhões.

No campo político, a gestão de João da Costa começa uma coligação de 16 partidos, o que deve facilitar a aprovação de seus projetos. Há também uma maior sintonia com o governo estadual do que a de seu padrinho político, o prefeito João Paulo. O PSB, partido do governador Eduardo Campos, detém a vice-prefeitura com Milton Coelho.

Além disso, o partido ficou com duas secretarias, uma a mais em relação a hoje. O PSB terá a Habitação, pasta que deve receber muitos recursos do PAC, e com Direitos Humanos e Segurança Cidadã, o que deve alimentar o desejo do governador de lançar ações articuladas entre município e Estado.

Apesar de o prefeito João Paulo já ter manifestado sua intenção de concorrer ao governo de Pernambuco assim como Campos quer disputar a reeleição, a aliança entre os dois partidos deve ser mantida até as eleições de 2010, quando as duas siglas devem anunciar um único nome. Caso o nome seja o do governador, o prefeito deve concorrer a uma vaga no Senado.

Apesar de o PSB ter adotado no plano federal um tom mais de confronto com o PT, a composição entre os dois partidos no Estado tem o apoio do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. O objetivo do partido presidido por Campos é conseguir dar peso ao presidenciável do partido, o deputado federal Ciro Gomes (CE), mas sem romper a união com a sigla de Lula. O fortalecimento de Ciro poderia ser usado como poder para eventuais barganhas ou até mesmo como uma alternativa à candidatura da ministra Dilma Rousseff, caso ela não decole.