Título: Lacerda é exonerado da Abin e será adido policial em Portugal
Autor: Lyra , Paulo de Tarso
Fonte: Valor Econômico, 30/12/2008, Política, p. A8

O delegado Paulo Lacerda, que estava afastado temporariamente do cargo de diretor-geral da Agência Brasileira de Inteligência (Abin), foi exonerado oficialmente da função ontem, mas foi convidado, e aceitou, assumir o posto de adido policial na embaixada brasileira em Portugal. Ruy Baron / Valor

Delegado Paulo Lacerda: dúvidas sobre sua atuação na Operação Satiagraha agravaram sua situação

Lacerda está fora da Abin desde a descoberta de um suposto grampo telefônico com uma conversa entre o presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Gilmar Mendes, e o senador Demóstenes Torres (DEM-GO), em agosto. A gota d'água para o afastamento foi a denúncia, feita pelo ministro da Defesa, Nelson Jobim, de que a Abin tinha aparelhos capazes de fazer escutas clandestinas. A atuação de cerca de 100 agentes da Abin na operação Satiagraha, comandada pelo delegado Protógenes Queiroz, cedidos por Lacerda, agravou ainda mais a sua situação.

O papel de Jobim foi importante na pressão sobre Lacerda. A declaração de que a Abin podia fazer escutas foi feita durante reunião da coordenação política e gerou uma guerra entre o Gabinete de Segurança Institucional (GSI) - ao qual a Abin é vinculada - e o Ministério da Defesa. O chefe do GSI, general Jorge Armando Félix, sempre defendeu a inocência de Lacerda, enquanto Jobim reafirmava que os equipamentos adquiridos pela Abin tinham a mesma capacidade dos comprados pelo Exército.

Na semana passada, o GSI encerrou sua sindicância interna concluindo sobre a incapacidade dos aparelhos da Abin de fazer grampos telefônicos. Mas outro inquérito - realizado pela Polícia Federal - continua em curso. A indefinição gerou a fórmula encontrada para a saída de Lacerda. Se ele fosse afastado definitivamente, segundo fontes governistas, sem qualquer tipo de compensação, poderia estar sendo cometida uma injustiça. Se ele fosse reconduzido ao cargo sem que a PF concluísse as investigações, estaria permanentemente sob desconfiança. A rigor, nem dentro do governo há concordância com a atuação de Lacerda à frente da Abin.

A pressa da exoneração antes do fim do ano tem outra razão: acaba no dia 31 o prazo de afastamento de Lacerda e alguma saída precisava ser encontrada. Por meio de intermediários, o ex-diretor da Abin fez chegar ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva o pedido de exoneração e o recado de que um possível retorno dele não contribuiria em nada para a instituição.

A construção da alternativa para Lacerda foi feita pelo ministro da Justiça, Tarso Genro. Também participou das negociações o diretor-geral da Polícia Federal, Luiz Fernando Correia. Antes de sair de férias, Tarso criou outros dois cargos de adidos policiais, além do de Portugal: um na embaixada brasileira nos Estados Unidos e outro na embaixada brasileira na Itália. A embaixada portuguesa no Brasil tem seu adido policial e sempre cobrou reciprocidade brasileira.

Com o decreto presidencial de ontem, a Diretoria-Geral da Abin segue sendo exercida, interinamente, pelo atual diretor, Wilson Trezza.